ATACADÃO DE RESENHAS #1: Dimmu Borgir, Doro, Triumph of Death e Watain

 



Dimmu Borgir - "Inspiratio Profanus"

"Muitos de vocês já possuem essas faixas, mas, mesmo assim, pensamos que seria bom ter todos os covers que fizemos ao longo dos anos compilados em um único lançamento", afirma o texto no encarte de "Inspiratio Profanus" do Dimmu Borgir, que chega ao Brasil com distribuição da Shinigami Records.

Isso faz sentido, uma vez que todas as oito faixas que compõem a tracklist do CD já foram lançadas anteriormente como bônus ou em EPs. No entanto, ao agrupar todos os covers feitos de 1996 até hoje, obtemos um panorama do que "inspirou e ainda inspira" o vocalista Shagrath, o guitarrista Silenoz, e quem mais os estiver acompanhando no line-up.

Desde os veteranos do black metal Venom (a canção que batizou esse subgênero) e Celtic Frost ("Nocturnal Fear") até nomes menos óbvios, como o clássico Deep Purple (uma "Perfect Strangers" que deixa as versões de Dream Theater e Jørn Lande no chinelo) e o industrial G.G.F.H., com a regravação de "Dead Men Don't Rape" representando o melhor exemplo dos caminhos experimentais que o Dimmu Borgir vem trilhando desde "Abrahadabra" (2010).

Como a cereja do bolo, o repertório inclui ainda a versão moralizadora da banda para "Burn in Hell", responsável por apresentar o todo-poderoso Twisted Sister a uma geração inteira de headbangers. E convenhamos: que espetáculo de capa, não é mesmo?

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Doro - "Conqueress - Forever Strong and Proud"

Em "Time for Justice", primeiro single extraído de "Conqueress - Forever Strong and Proud", seu 14º álbum de estúdio, Doro canta: "Nunca é tarde demais para saber a verdade e tudo o que é necessário para mudanças". A mensagem pós-pandêmica é clara: viva o hoje porque o amanhã é incerto.

Crises globais à parte, se há uma artista no metal que segue à risca essa máxima, é ela. Não é de hoje que seus discos chamam atenção pela quantidade de faixas, mas a própria cantora assegura que é isso que seus fãs esperam dela e é isso que ela continuará a oferecer, doa a quem doer. "Sempre sinto que devo seguir o meu coração, independentemente das tendências", disse a Metal Queen a este jornalista. "A gravadora inicialmente sugeriu cortes, mas eu insisti em dar aos meus fãs tudo o que tinha de melhor."

Tal decisão é uma faca de dois gumes, sem dúvida, mas, ainda assim, o repertório de 15 músicas de "Conqueress" traz momentos muito agradáveis, tanto na fatia mais heavy e uptempo — com destaque para "True Metal Maniacs", uma carta de amor e gratidão aos fãs, e "Heavenly Creatures", dedicada às ONGs que lutam pela causa animal — quanto na mais emotiva e cadenciada, que tem em "Best in Me" — outro agradecimento àqueles que "nos altos e baixos" estão ao seu lado e sem os quais ela "seria nada" — e na regravação do hit "Total Eclipse of the Heart", de Bonnie Tyler, com a participação de Rob Halford (Judas Priest), suas melhores representantes.

Gravado em seis estúdios diferentes na Alemanha e dois nos Estados Unidos, o álbum inclui uma extensa lista de participações especiais, obviamente encabeçada pelo já citado Metal God, mas que também traz o cantor punk Sammy Amara, o produtor e multi-instrumentista Andreas Bruhn (que coassina metade das composições) e outros. Vale ressaltar que na guitarra temos o brasileiro Bill Hudson, e o filho do casal Niuton e Maria Angelica mostra a que veio, em especial na furiosa "Fire in the Sky", da qual também é autor.

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Triumph of Death - "Resurrection of the Flesh"

Apesar de ter existido por apenas dois anos, o Hellhammer detém o status de mito. Amplamente creditado como pioneiro do metal extremo — especialmente do black metal — juntamente com Venom e Bathory, seu impacto ainda ressoa hoje. Diante desse legado, é quase inconcebível que o grupo nunca tenha se apresentado ao vivo.

Ressuscitar a música do Hellhammer nos palcos chegou a ser discutido pelos membros fundadores Tom Gabriel Warrior (vocal/guitarra) e Martin Eric Ain (baixo/vocal) por muitos anos, mas só se concretizou em 2019, dois anos após a morte prematura de Ain. "O Hellhammer nunca retornará e nunca será reformado", assegurou Tom na época. "Mas sua música existe e eu gostaria de tocá-la no palco antes de morrer".

Acompanham-no na empreitada o guitarrista/vocalista André Mathieu (Punish), a baixista Jamie Lee Cussigh (Sacrifizer) e o baterista Tim Iso Wey (Matterhorn) — "indivíduos que não apenas amam essa música, mas realmente a compreendem", segundo Warrior —, emulando o line-up derradeiro do Hellhammer de abril/maio de 1984, quando um segundo guitarrista foi adicionado.

As gravações apresentadas em "Resurrection of the Flesh" derivam de três datas da turnê de 2023 — giro que incluiu uma passagem pelo Brasil, como atração do festival Setembro Negro, em São Paulo: Hell's Heroes Festival, nos Estados Unidos, em 23 de março; Dark Easter Metal Meeting, na Alemanha, em 9 de abril; e SWR Barroselas Festival, em Portugal, no dia 30 de abril. O repertório de 12 faixas conta com todo o EP "Apocalyptic Raids" (1984); a dobradinha "Revelations of Doom" e "Messiah", proveniente do histórico split "Death Metal" do mesmo ano; e cortes selecionados das demos de 1983 compiladas em "Demon Entrails" (2008).

As performances individuais são inspiradas e meticulosas, e os quatro músicos fazem algumas adaptações livres esperadas para o palco. Vale ressaltar que o cuidado técnico de forma alguma diminui a brutalidade intrínseca dos originais, e os rugidos de Tom estão presentes, tão aterrorizantes como nunca, neste que foi o melhor álbum ao vivo lançado no ano passado.

Lembre-se sempre: ONLY DEATH IS REAL.

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Watain - "Die in Fire - Live in Hell"

Sangue de Jesus não tem poder — pelo menos não neste CD aqui.

Passados alguns meses do lançamento de "The Agony & Ecstasy of Watain", o Watain embarcou na chamada Chariots of Fire European Tour 2022 para promover o que, na opinião deste jornalista, foi sua melhor oferta desde "Lawless Darkness" (2010). No dia 7 de outubro daquele ano, o giro chegou ao Fållan, casa de shows com capacidade para 2 mil pessoas em Estocolmo inaugurada em 2019 e já destino certo para atrações de médio porte de passagem pela capital sueca.

Encerrando uma noite que contou com Abbath, Bølzer e Tribulation, E. (Erik Danielsson, vocais), P. (Pelle Forsberg, guitarra), H. Eriksson (guitarra), A. Lillo (baixo) e E. Forcas (bateria) dispararam a chuva de pedras que acaba de chegar ao Brasil com distribuição da Shinigami Records sob a alcunha de "Die in Fire - Live in Hell".

Durante os 70 minutos que lhe couberam de palco, a banda faz um apanhado parcial da carreira — obviamente privilegiando a adição mais recente à sua discografia de estúdio, mas não abdicando das campeãs "Devil's Blood" e "Malfeitor" — e presta justa homenagem ao luminar Bathory com uma versão esmagadora de "The Return of Darkness and Evil" capaz de exumar um orgulhoso Quorthon de sua tumba no Sandsborg, também em Estocolmo. Brutal!

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