ENTREVISTA: Andy Timmons e sua conexão atemporal com a música

 


Ao longo de sua carreira, Andy Timmons tem continuamente desafiado os limites da música, explorando novos horizontes enquanto mantém uma conexão profunda com suas raízes e influências. Reconhecido por sua habilidade técnica impecável e seu feeling na guitarra, Timmons já se destacou em diversas frentes, desde o glam metal com o Danger Danger até suas composições instrumentais que misturam virtuosismo e elegância. Em sua jornada, os Beatles surgem como uma referência central, tanto pela musicalidade quanto pela abordagem visionária, inspirando projetos ousados como seu recente mergulho na essência “Beatlescêntrica”.

Essa paixão pelos Fab Four levou Timmons a uma experiência única: gravar no lendário Abbey Road Studio 2, onde a maior parte da discografia dos Beatles foi criada. Com uma abordagem reverente e criativa, ele reinterpretou “I’m In Love”, uma composição pouco conhecida de John Lennon, enquanto capturava a atmosfera autêntica de 1964, usando os mesmos equipamentos e técnicas da época. O resultado é uma celebração pessoal e musical que reafirma seu compromisso em honrar as tradições que moldaram sua trajetória, ao mesmo tempo em que busca novos meios de expressar sua arte.

Além disso, a entrevista explora o lançamento do novo álbum do The Reddcoats, trazendo detalhes sobre o processo criativo, a sonoridade e os planos futuros do grupo. O músico também compartilha memórias marcantes de sua época no Danger Danger, destacando como essas experiências moldaram sua trajetória artística. Outros projetos notáveis de sua carreira e sua visão sobre a evolução da indústria musical também fazem parte da conversa. Boa leitura!


Por Marcelo Vieira

Fotos: Simone Cecchetti / Divulgação


Soube que você esteve envolvido em algo bem “Beatlescêntrico” recentemente. Você pode falar mais sobre isso?  

Essa é uma boa palavra, sim. Recentemente, fiz uma viagem à Inglaterra especificamente para visitar alguns lugares icônicos dos Beatles. Já fiz várias turnês no Reino Unido ao longo dos anos e cheguei a visitar Abbey Road uma vez, mas nunca fiz todo o circuito de turismo relacionado aos Beatles. Um amigo meu, que é um grande fã da banda e já tinha feito esse passeio várias vezes, me convidou para ir junto porque ele estava planejando outra viagem. Eu aceitei na hora, porque sempre quis fazer isso, mas nunca tinha arranjado tempo.  

Um dos pontos altos dessa viagem foi que reservamos um dia no Abbey Road Studio 2, onde cerca de 80% da música dos Beatles foi gravada. Passar um dia naquele lugar foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes da minha vida. Durante essa visita, gravei dois singles. Um deles, uma peça instrumental solo chamada “(T)ruth”.  

A outra música que escolhi gravar foi uma composição de John Lennon de 1963 que os Beatles nunca gravaram. Naquela época, John e Paul [McCartney] estavam escrevendo tanto material que acabaram cedendo algumas canções para outros artistas. Essa música, chamada “I’m In Love”, foi gravada por uma banda gerenciada por Brian Epstein [empresário dos Beatles], chamada The Foremost. Mas quando ouvi a demo original de John no piano, pensei: “Essa é uma faixa perdida dos Beatles; eles deveriam ter gravado isso.” Então, decidi que essa seria uma das músicas que eu gravaria em Abbey Road. Achei que poderia fazer uma boa versão dela — pelo menos, humildemente, achei que valia a tentativa.  

O resultado ficou incrível. Eu toquei todos os instrumentos: bateria, baixo, guitarras. Meu companheiro de banda no Reddcoats, Matt Bissonette [vocalista], fez os vocais de apoio porque ele é um excelente cantor. Estou realmente empolgado para lançar essa música, especialmente porque todos sabem o quanto eu sou fã dos Beatles. Esse projeto foi algo que eu precisava fazer, e espero que as pessoas gostem.  



Você conseguiu gravar tudo em uma única sessão?  

Sim, de certa forma. Minha abordagem foi a seguinte: sabendo que o tempo no estúdio seria limitado, gravei toda a música antes no meu estúdio em casa, tocando todos os instrumentos. Levei o material em um HD para Abbey Road e substituí tudo o que consegui durante a sessão. Gravei bateria, vocais principais, guitarras base e solo. Tive dois amigos comigo, Dennis Poggenberg e Craig Hopkins, que participaram fazendo palmas e tocando um pouco de violão.  

Quando voltei para o estúdio em casa para a mixagem, ainda não tinha gravado o baixo definitivo. A faixa original de baixo, que eu tinha gravado antes, estava lá, mas eu queria tocar novamente com base na nova gravação de bateria. Além disso, adicionei um violão J-160E, aquele clássico com som bem característico de John Lennon, que eu não tinha levado para Londres, mas que estava disponível no meu estúdio.  

No total, cerca de 80% da música foi gravada em Abbey Road, e finalizei os 20% restantes aqui no Texas. Meu objetivo era capturar o som e a atmosfera que os Beatles tinham em 1964. Quando o engenheiro de som perguntou qual era o som que eu buscava, eu disse: “Beatles de 1964”. Ele trouxe os mesmos microfones que eles usavam na época. Então, no vídeo, você verá os microfones originais capturando as guitarras, os vocais e a bateria. Até os compressores Fairchild 660, que os Beatles usavam para bateria e baixo, estavam lá.  

Estar naquele estúdio, vendo como tudo é idêntico às fotos antigas dos Beatles gravando, foi surreal. Dizer que foi a realização de um sonho de vida não chega perto de expressar como me senti. Ter essa faixa, da qual eu realmente me orgulho, pronta para compartilhar com o público é muito especial.



O novo álbum dos Reddcoats, “The Reddcoats 2”, mescla funk, heavy metal, jazz, bebop e estilos latinos. Como você e a banda conseguiram integrar essas influências tão diversas de maneira tão coesa?

É uma ótima pergunta, mas eu diria que isso aconteceu naturalmente para nós. Cada membro da banda construiu sua carreira com base na versatilidade. Por exemplo, Greg Bissonette [baterista] toca com Ringo Starr, mas também trabalhou com Joe Satriani e David Lee Roth ao lado de Steve Vai. Ele domina desde big band até rock. Da mesma forma, eu sou frequentemente rotulado como um músico de rock, mas adoro explorar diversos gêneros.  

Dito isso, o verdadeiro gênio por trás desse álbum é Matt Bissonette. Ele escreve as músicas, canta e cria as demos. Uma vez que ele estabelece a base, trabalhamos em nossos respectivos estúdios para adicionar nossas partes. Não é algo sem esforço—leva tempo e dedicação—mas é incrivelmente gratificante.  

A visão do Matt nos permite experimentar livremente. Uma faixa pode ter uma pegada latina, outra pode ter o swing do jazz ou exigir linhas complexas de metal. Por exemplo, algumas partes de guitarra foram bastante desafiadoras porque Matt as compôs em um teclado, o que nem sempre se traduz facilmente para a guitarra. Fiz questão de gravar essas seções em uma única tomada, em vez de montá-las aos poucos, mesmo que isso significasse horas de prática. A autenticidade é fundamental para mim—quero que a música pareça real, mesmo que não seja impecável.  

No fim, este projeto é sobre liberdade criativa e diversão, e Matt faz um trabalho fantástico ao nos dar uma plataforma para explorar.  


Cada membro da banda tem uma carreira extensa e única. Como vocês decidem quem assume o papel principal em cada faixa e equilibram as contribuições de todos?

Essas decisões vêm, em grande parte, do Matt. Quando ele escreve ou arranja uma faixa, já tem uma visão de quem deve assumir o destaque. Ele e Greg, na bateria, costumam estabelecer a base inicial, deixando espaço para instrumentos ou solos específicos.  

Neste álbum, a guitarra tem um papel de destaque, então, frequentemente, eu tinha as melodias principais. No entanto, não há ego ou discordância—seguimos a direção criativa do Matt e confiamos em seus instintos. Às vezes, ajustamos algumas coisas durante o processo, mas, no geral, o plano do Matt define o tom.  



Como você descreveria a evolução musical da banda, desde o primeiro EP homônimo até este novo álbum?

Essa é uma questão interessante porque a maioria das bandas evolui tocando juntas, mas nós só nos apresentamos ao vivo uma vez. Para nós, a evolução vem da composição do Matt.  

Estamos ansiosos para fazer mais shows e até gravar o próximo álbum juntos, no mesmo estúdio. Isso abriria novas possibilidades e permitiria que construíssemos nossas partes em tempo real, com base nos instintos uns dos outros. Por enquanto, a evolução está mais no refinamento da visão do Matt e no nosso esforço para dar vida a ela.  


Matt mencionou que os Reddcoats têm o objetivo de fazer as pessoas se sentirem bem com sua música. Qual mensagem você espera que “The Reddcoats 2” transmita?

Você realmente precisaria perguntar ao Matt sobre os detalhes, já que ele escreve as letras. Para mim, meu papel é servir à música e elevá-la—seja tocando algo simples ou fazendo solos rápidos.  

A música instrumental, em particular, permite que os ouvintes a interpretem como precisarem. Enquanto algumas músicas do Matt têm temas líricos profundos, outras são apenas pura diversão. Meu objetivo é dar o meu melhor em cada faixa e deixar que a música se conecte com as pessoas de sua própria maneira.  



A banda começou a tomar forma durante a pandemia. Como esse período influenciou sua criatividade e produção musical?

A pandemia forçou todos a recalibrar. Turnês e viagens estavam fora de questão, então me concentrei em criar música. Por mais sombrios que aqueles tempos fossem—com tanto sofrimento e perda—a música também se tornou uma válvula de escape emocional.  

Escrevi dezenas de peças solo naquele período, incluindo “Here Lies the Heart”, “Our Requiem” e “Beauty and Stillness” para Jason Becker. Também comecei a fazer performances ao vivo no Stage It, com dois shows todos os sábados, totalizando mais de 170 apresentações durante aquele período.  

No nível pessoal, a pandemia aprofundou minha apreciação pela vida em família. Estar em casa me fez repensar como equilibro trabalho e vida pessoal, e agora sou mais seletivo com o que me afasta deles.  


Quais foram os maiores desafios de trabalhar com um grupo tão talentoso e diversificado de músicos?  

Honestamente, não houve grandes desafios. A única pressão vinha do desejo de alcançar o nível dos meus colegas de banda, mas acho que todos sentimos isso.  

Por exemplo, há uma faixa de sete minutos no primeiro álbum, “Michael Collins”, que é essencialmente um longo solo de guitarra. Eles gravaram a seção rítmica primeiro, e depois eu acrescentei minha parte. Apesar de não tocarmos ao vivo juntos, os instintos de Matt e Greg são tão afiados que parecia que estávamos na mesma sala.  

O talento deles tornou fácil para mim ser a melhor versão de mim mesmo. Chegar a esse nível de conforto com sua própria performance leva tempo. Para mim, só comecei a me sentir confiante em ser simplesmente eu mesmo musicalmente por volta dos 50 anos. Ainda é um trabalho em andamento, mas o ambiente de apoio nessa banda tornou fácil me concentrar em dar o meu melhor.  



Voltando um pouco no tempo, você entrou para o Danger Danger em 1987. Quais eram suas expectativas na época?

Essa é uma ótima pergunta. Naquele momento, fazer parte de uma banda com contrato em uma grande gravadora era como encontrar o Santo Graal. Acho que qualquer músico da minha época via isso como o auge. Esse era o objetivo: ter em mãos um contrato de gravação. Quando a oportunidade apareceu, agarrei-a imediatamente. Na mesma época, recebi uma oferta de uma banda chamada Tower of Power, que é um grupo de funk e fusion muito renomado de Oakland, voltado para músicos. Foi um momento de encruzilhada para mim. Eu poderia ter seguido por esse caminho, mas nasci e cresci no rock ‘n’ roll. Apesar de tocar muito funk, fusion e jazz, meu coração estava no rock. 

A influência do KISS foi determinante. Eu tinha 13 anos quando vi a banda pela primeira vez e pensei: “É isso que eu quero fazer”. Já tocava guitarra e estava em minha primeira banda. E, 14 anos depois, lá estava eu abrindo shows para o KISS em duas turnês com o Danger Danger. Sobre expectativas, eu não tinha uma ideia clara, apenas sabia que estava seguindo meu caminho. Isso resume minha carreira: seguir instintivamente as oportunidades e dar o meu melhor em cada situação. Com o Danger Danger, foi exatamente isso. Fui muito comprometido com o time. Embora fosse um “hired gun” de certa forma, porque a banda já estava formada, Bruno [Ravel, baixista] e Steve [West, baterista] eram os principais compositores e formavam o núcleo criativo.

Foi um período mágico, especialmente no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Fizemos turnês incríveis, incluindo duas com o KISS, além de Alice Cooper e Warrant. Vivi um pouco daquele sonho do rock ‘n’ roll sem me tornar uma vítima dele, se é que me entende.


“Naughty Naughty” e “Bang Bang” foram grandes sucessos. Como a banda reagiu ao ver essas músicas ganhando espaço no rádio e na MTV?

Foi algo incrível, um sonho que eu nunca achei possível. Quando era criança, a MTV nem existia, então estar em uma banda cujas músicas tinham videoclipes em rotação constante foi surreal. “Naughty Naughty” e “Bang Bang” tiveram um ótimo desempenho, mas entramos no mercado no final da era das bandas glam e hair metal. Quando lançamos nosso segundo álbum, “Screw It” (1991), Seattle e o rap já estavam começando a ganhar força, e a MTV tinha um poder imenso. Por exemplo, eles nem tocaram nosso clipe de “Monkey Business”, porque já estavam mudando o foco.

A MTV controlava tudo. Se você não estava lá, não conseguia espaço no rádio. Então, foi uma faca de dois gumes. Ainda assim, sou muito grato por ter participado daquela era da indústria, que era bem diferente da atual. Foi um grande aprendizado para mim. Aprendi o que realmente importava para mim. Muitas das coisas que mencionei aqui foram marcos na minha vida. Pensei: “Isso é o que eu quero”. Mas depois percebi: “Não, o que eu realmente quero é criar minha própria música”.

Esse período me inspirou a gravar meu primeiro álbum solo, “Ear X-Tacy” (1994), que comecei a trabalhar enquanto ainda estava no Danger Danger. Tenho memórias maravilhosas e não trocaria essa experiência por nada. Foi uma fase muito especial.



Fale um pouco sobre o período do álbum “Cockroach” (gravado em 1993, mas lançado somente em 2001) e como os problemas daquela época impactaram a dinâmica e o moral da banda.

Como em qualquer banda, sempre há dinâmicas e personalidades diferentes. Para mim, o álbum “Cockroach” foi uma experiência muito gratificante, porque comecei a me envolver mais na composição. Trabalhamos muito nesse disco, e lembro-me de pensar: “Fizemos algo realmente ótimo”. No entanto, havia questões entre Ted [Poley, vocalista], Bruno e Steve que acabaram culminando em um impasse.

Infelizmente, a indústria estava mudando muito na época, tanto musical quanto estilisticamente. Inicialmente, quando entregamos o álbum para a Epic Records, nosso contato na gravadora ficou empolgado e disse: “Isso é incrível! Vocês salvaram meu emprego!”. Mas, pouco tempo depois, fomos informados de que eles não lançariam o disco. Isso foi um golpe mortal para a banda. Eles tornaram impossível para nós reavermos os direitos do álbum, pedindo 250 mil dólares, uma quantia inviável. Isso desencadeou processos judiciais e muita confusão.

Felizmente, consegui voltar para o Texas e me afastar de toda a bagunça. Foi triste ver as coisas chegarem a esse ponto. Sempre fui um pacificador, tanto na minha família, que se separou quando eu era jovem, quanto nas bandas em que toquei. Mas a realidade é que diferenças e conflitos sempre existirão. Mais tarde, fizemos algumas reuniões e shows por volta de 2010, o que foi divertido por um tempo. Apesar de tudo, fico feliz por ter vivido essa experiência.


O que você achou do álbum “Dawn” (1995, o primeiro após a saída de Timmons do Danger Danger) quando o ouviu pela primeira vez?

Lembro-me de gostar muito de algumas músicas. É um disco realmente bom. Você teria que me lembrar de algumas faixas específicas, mas minha impressão foi: “Caramba, isso é muito bom”. Na verdade, gosto de tudo o que eles fizeram, mesmo depois que saí da banda. Bruno e Steve são incríveis no que fazem, e tanto com Paul [Laine] quanto com Ted nos vocais, a base da banda sempre foi sólida: boas músicas. De forma geral, vejo qualidade em toda a discografia da banda.



A indústria da música mudou muito desde os anos 1980 e 1990. Como você vê essas mudanças e como elas impactaram sua carreira, tanto com o Danger Danger quanto solo?

Sim, a beleza disso é que hoje em dia nada impacta diretamente minha carreira, exceto a tecnologia. Lembro-me bem do início da internet ganhando força, e alguém mencionou algo chamado Napster. Foi meu sogro, na verdade, que disse: “Ei, venha aqui, confira esse tal de Napster.” Digitamos meu nome e, de repente, minha vida inteira apareceu na tela do computador. Minha primeira reação foi: “Isso não é bom.” Percebi que tudo o que eu já havia criado estava disponível gratuitamente, sem nenhum controle da minha parte. Foi assustador.  

Mas, alguns anos depois, o YouTube começou a ganhar força, e surgiram vídeos de apresentações minhas que eu não havia produzido ou autorizado. Essas gravações acabaram se tornando meu “selo” e minha “rádio”. Se alguém gostava do que via, compartilhava. Inicialmente, pensei que a internet estava destruindo o mercado da música. Não digo que ela o destruiu, mas o transformou completamente. No entanto, percebi o lado positivo: ganhei fãs ao redor do mundo que nunca tinham ouvido falar de mim. Graças a vídeos em que eu tocava com Steve Vai, Paul Gilbert ou Joe Satriani, as pessoas me descobriram.  

No fim das contas, o segredo é se adaptar. Todos precisamos encontrar maneiras de viver do que fazemos. Nunca comecei a tocar pensando em ganhar muito dinheiro, mas, de alguma forma, sempre consegui manter as luzes acesas e continuar criando a música que realmente queria criar. Muito cedo na minha carreira, decidi que só faria o que fosse autêntico para mim. Não há sentido algum em seguir tendências. Meu foco está em melhorar todos os dias, seja tocando melhor ou compondo canções mais significativas.  

Hoje, se escrevo uma música nova, posso simplesmente publicá-la nas redes sociais. Claro, ainda é preciso fazer turnês e trabalhar bastante, mas tudo gira em torno de construir sua marca e mostrar quem você realmente é de forma autêntica. Para mim, isso tem funcionado. Gostaria de ter uma fórmula mágica, mas o que tenho feito é apenas isso.  


Ou seja, a tecnologia mudando, essas mudanças impactam a indústria musical.

Com certeza. Primeiro foi o Napster, e agora temos plataformas digitais e de streaming que transformaram completamente a forma como a música é consumida. A atenção das pessoas está muito dispersa. Eu mesmo me vejo vítima disso às vezes. Parece que nunca conseguimos ter um momento de paz. Precisamos aprender a nos desconectar da tecnologia, e isso é algo que eu mesmo tento fazer.  

Hoje em dia, as pessoas se acostumaram a consumir música em clipes de 30 segundos. Eu, porém, não componho pensando nisso. Escrevo músicas que têm significado para mim, esperando que elas também toquem quem as ouve. Para mim, isso é o mais importante.  



Sua discografia solo varia de instrumentais de guitarra a blues e pop inspirado nos Beatles/Elvis Costello. Como você consegue manter essa diversidade em sua música e o que te motiva a explorar diferentes gêneros?

Sempre que me aprofundo em algo, eu me entrego completamente. No momento, estou mergulhando na música de Oscar Peterson, um pianista de jazz que admiro desde sempre. Recentemente, comecei a transcrever suas composições. Meu primeiro professor de guitarra, quando eu tinha 16 anos, me apresentou ao jazz. Na época, eu já tocava profissionalmente e dominava bem o rock dos anos 1970, mas queria mais. Ele começou a me ensinar leitura musical e me apresentou a nomes como Joe Pass, Barney Kessel e, claro, Oscar Peterson.  

Oscar tem uma técnica absurda e, embora eu não consiga reproduzir exatamente o que ele fazia, aprendi muito com sua forma de swingar e seu drive. Ao longo da vida, sempre retorno a ele. Durante a pandemia, por exemplo, ouvi muito Chopin. Antes disso, tive uma fase em que fiquei fascinado por Chet Baker. E, claro, os Beatles são minha base.  

Essa diversidade influencia meu estilo. Quando você se aprofunda em diferentes gêneros, isso acaba enriquecendo sua identidade musical. David Bowie disse uma vez que não era um inovador, mas um colecionador. Amo essa ideia, porque nossos ídolos também têm suas inspirações, e o que criamos é uma mistura disso tudo.  


Você viaja pelo mundo fazendo workshops. O que você mais gosta nessas experiências e como elas influenciam sua conexão com fãs e aspirantes a guitarristas?

O que mais gosto é a paixão das pessoas que participam. Isso me lembra da época em que estudei na Universidade de Miami, de 1983 a 1985. Lá, o mais especial não era apenas o currículo ou os professores, mas as pessoas com quem eu tocava. Era uma troca constante de ideias e aprendizado.  

Nos workshops, encontramos uma diversidade enorme: iniciantes que são fãs, músicos avançados que poderiam estar ensinando, e grandes mestres como George Benson e John Scofield. Para mim, é inspirador estar cercado por essa energia. Sou apenas um fã e músico que quer melhorar, como todos ali.  


Para finalizar, quais artistas do Brasil você ouve?

Elis Regina é uma das minhas favoritas, especialmente o disco que ela fez com Tom Jobim. Sou um grande fã de Bossa Nova, e quando tive a chance de gravar um álbum nesse estilo com Sidney Carvalho e Roberto Menescal, mergulhei de cabeça. Não conhecia todas as músicas, mas aprendi muito com eles.  

Durante a turnê, toquei “Chega de Saudade” com Menescal em um festival, e o público, composto em grande parte por jovens, cantou junto. Foi emocionante estar ali com alguém que viveu a história da Bossa Nova. Momentos assim são inesquecíveis.



O single “I’m In Love” e o álbum “The Reddcoats 2” estão disponíveis em todas as plataformas digitais. 


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