RESENHA: Último Show (ou não?) de Ted Poley no Brasil desafiou o tempo e aqueceu os corações dos fãs
Hard ‘N’ Heavy Party, Manifesto Bar, São Paulo (SP), 22 de março de 2025
Por Marcelo Vieira
Fotos: Thammy Sartori (@tsartoriphotos)
“Você viu? O Ted Poley não tem nem 3 mil seguidores no Instagram”, comentou uma colega da imprensa durante a Hard ‘N’ Heavy Party, realizada no último sábado (22), em São Paulo. De fato, a presença digital do cara que fez história à frente do Danger Danger, de 1987 a 1993 e, depois, de 2004 até um presente que só existe na teoria, é mínima se comparada à de alguns de seus contemporâneos mais antenados. No entanto, lembremos que Poley, aos 63 anos, é cria do analógico e representante de uma era em que o sucesso era medido por outros parâmetros. Foi nessa época que ele gravou canções que até hoje ressoam sob a pele daqueles que não encaram a música como mero acompanhamento das tarefas do dia.
Foram essas canções que compuseram a espinha dorsal do que foi anunciado como seu último show no Brasil — tese desmentida pelo próprio em diversos momentos durante a apresentação de pouco mais de uma hora e meia. No entanto, a voz que emanava daquela mesma boca, outrora um trovão de energia, agora soava como um sussurro rouco, um eco distante dos tempos áureos que seus fãs tanto reverenciavam. A idade, implacável majestade do tempo, parecia ter-lhe roubado o vigor.
Como um velho guerreiro tentando reencontrar sua espada, Poley levou tempo para aquecer a alma. Enquanto isso, o quarteto de bardos brasileiros que o acompanhava — Bruno Luiz (guitarra), Bento Mello (baixo), Gabriel Haddad (bateria) e Flavio Sallin (teclado) — tecia com fidelidade audiófila as melodias majoritariamente oriundas de “Danger Danger” (1989) e “Screw It!” (1991) que ecoavam pelos confins de um Manifesto Bar prestes a mudar de local. Primeiro artista internacional a se apresentar no local, Ted terá sido também o último no presente endereço, no bairro do Itaim Bibi.
Mas se as primeiras canções do set — entre elas “Shot o’ Love”, uma joia rara de “Cockroach” (2001), álbum cuja saga mereceria um poema épico — pareceram interpretadas por um trovador errante, o público, como um coro apaixonado, cantou em uníssono do início ao fim, ignorando as imperfeições. Em “Don’t Walk Away”, com a participação do internacional Bruno Sá no sax, Poley desceu à plateia, cantando a balada como um peregrino em busca de redenção.
Em seguida, desafiando suas próprias regras, presenteou o público com um mini-set acústico, onde ele mesmo dedilhou, na cara e na coragem, o violão. Com a trinca “Love” (Tokyo Motor Fist), “F.U.$.” e “That’s What I’m Talking About”, Poley recuperou o fôlego para a apoteótica sequência final: “Bang Bang” e “Beat the Bullet” — hoje carta mítico-rara no repertório — e, em seguida, “I Still Think About You” (com participação de Chez Kane, segunda atração da noite) e “Naughty Naughty”, com a cantora e o grupo Midnite City, que abriu o evento, no palco engrossando o coro.
Coroa reivindicada, o rei reluta em deixar seu trono. Mas depois de “Don’t Blame It On Love” e um algo desnecessário cover de “Born to Be Wild”, com Jack Fahrer (Nite Stinger) nos vocais, não havia mais nuvens a romper. Que Poley quebre a promessa de despedida e retorne ao Brasil muitas vezes mais, pois o público brasileiro, como um amante fiel, sempre o acolherá de braços abertos.
Ótimo texto! Adoraria ter estado lá! Vida longa a Ted Poley e ao Hard Rock!
ResponderExcluirrealmente ótimo texto, como de costume aliás, ted poley nunca foi um grande cantor mas um bom "entretainer", digamos assim, como vários de sua geração, cantou boas canções em um disco muito bom, o primeiro do danger danger, e os outros que nunca chegaram neste patamar, se dividindo em bons ou razoáveis, mas nada muito fraco também, enfim, o danger danger nunca saiu da 2a divisão das bandas americanas oitentistas de hard rock que hoje, infelizmente e preconceituosamente, são apelidadas famigeradamente de hair metal.
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