ENTREVISTA: Jim Müller fala sobre a estreia do Kissin’ Dynamite nos palcos do Brasil


Se você se considera fã de hard rock e não curte Kissin’ Dynamite, então confere seu pulso, porque há uma chance muito boa de você ter levado um beijo da Dona Morte e estar estirado, morto e sepultado. Conhecida por seus refrões marcantes e performances explosivas, a banda que há quase duas décadas traz a energia dos anos 1980 para uma nova geração de fãs desembarca no Brasil pela primeira vez em maio para se apresentar no Bangers Open Air. E, segundo o guitarrista Jim Müller, a expectativa não poderia ser maior: “Desde o começo da banda, todo mundo sempre falou que tocar no Brasil é uma experiência incrível. Estou prestes a descobrir isso!”

Nesta entrevista, Müller compartilha a curiosa origem do nome do grupo, fala sobre sua relação com o AC/DC, comenta os desafios de equilibrar tradição e inovação no hard rock e revela detalhes do que os fãs podem esperar do show no Brasil. Além disso, ele reflete sobre a filosofia irreverente da banda e até considera experimentar novos estilos musicais no futuro — quem sabe um dia um álbum de dubstep techno? Confira!


Por Marcelo Vieira

Foto: Divulgação


O nome Kissin’ Dynamite foi escolhido de uma maneira bastante inusitada. Embora você já tenha contado essa história para a imprensa internacional, poderia compartilhá-la com os leitores brasileiros que talvez ainda não conheçam?

Sim, claro! Na verdade, é o nome de uma música do AC/DC, e era o toque de celular do nosso baterista na época. Quando estávamos procurando um nome para a banda, o telefone dele tocou, e era “Kissin’ Dynamite”. Pensamos: “Ei, esse nome é legal!” Além disso, não é uma música tão conhecida do AC/DC, então alguns fãs da banda até acham que somos um tributo ou algo do tipo. Mas, no geral, muita gente nem sabe que “Kissin’ Dynamite” é uma música do AC/DC, então acabou funcionando bem para a gente.


Ainda bem que não foi “Big Balls” ou “Sink the Pink” que tocou, né?

[Risos.] Verdade! Mas, falando sério, o AC/DC foi o começo de tudo para mim. Quando eu tinha uns 10 anos, vi um show deles em VHS e pensei: “Cara, é exatamente isso que eu quero fazer da vida.”


Você lembra qual foi a primeira música do AC/DC que ouviu?

Essa é difícil... Provavelmente não. Mas lembro que foi no Stiff Upper Lip Live, gravado em Munique. Vi o VHS desse show, e uma das minhas favoritas no começo era “Money Talks”.


Apesar do nome da banda vir de uma música do AC/DC, o som de vocês é descrito como uma mistura de Asphalt Ballet e Guns N’ Roses com Pink Cream 69 e Edguy. É difícil rotular exatamente o estilo de vocês. Como você definiria o som do Kissin’ Dynamite?

Sempre digo que é como pegar Bon Jovi, Whitesnake e aquele som clássico dos anos 1980, cheio de hinos para grandes plateias, e trazer isso para uma sonoridade de quem nasceu nos anos 1990. Ou seja, não queremos soar como se viéssemos diretamente dos anos 1980, mas buscamos capturar essa vibração. É aquele tipo de rock and roll ensolarado que você escuta dirigindo pelas ruas na Califórnia, sabe? Esse tipo de sentimento.


Vocês serão uma das atrações do primeiro dia do Bangers Open Air, em maio. Essa será a primeira vez da banda no Brasil. Quais são suas expectativas para essa estreia?

Desde o começo da banda — e acho que isso vale para muitos músicos europeus — existem dois lugares considerados sagrados: Japão e Brasil. Todo mundo sempre fala que tocar nesses países é uma experiência incrível e que a gente precisa ir. No Japão, eu já sei que os fãs são insanos. No Brasil, estou prestes a descobrir. Estou muito ansioso!


Sendo a primeira vez de vocês por aqui, imagino que queiram causar uma grande impressão. Podemos esperar um setlist que cubra toda a carreira da banda?

Em parte, sim. Acho que não teremos tempo para músicas românticas e baladas, então vamos entrar com tudo desde o primeiro minuto e tocar só as músicas mais agitadas. O repertório terá bastante coisa dos dois álbuns mais recentes, “Back With A Bang” e “Not The End Of The Road”, mas também vamos misturar algumas músicas mais antigas. Ainda não definimos o setlist, então provavelmente só decidiremos um minuto antes do show começar, durante a introdução. [Risos.] 


Alguns dias atrás, perguntei para a Jennifer Haben, do Beyond the Black, se ela toparia cantar “Masterpiece” com vocês no palco. Ela disse que seria uma boa ideia. O que você acha?

Nossa, eu nem tinha pensado nisso! Mas, na verdade, já fizemos isso juntos antes, acho que em 2017. Então, se rolar, está na ponta dos dedos!


Tem algo na cultura ou no povo brasileiro que você está particularmente curioso para conhecer?

Eu já estive no Brasil duas vezes a passeio e adorei! A comida, as bebidas, a energia das pessoas... Todo mundo é meio maluco por aí, e eu adoro isso! Nunca fui a um show de rock no Brasil, porque minhas viagens foram para praticar kitesurf. Eu ficava só na praia e na água o tempo todo. Mas sei que os brasileiros sabem como fazer uma festa, então minhas expectativas estão altíssimas!


Vocês terão tempo para explorar o país ou será uma viagem rápida?

Vai ser uma viagem bem rápida, porque todos nós temos outros trabalhos além da banda, e não é um período de férias. Então, vamos precisar voltar cedo. Talvez eu fique alguns dias a mais, mas os outros caras vão voltar para casa bem rápido. De qualquer forma, estive no Brasil em janeiro, então já aproveitei um pouco antes!



Agora, gostaria de falar um pouco sobre “Back With A Bang”, que saiu no ano passado e é o trabalho mais recente de vocês. Em uma resenha bastante entusiasmada, um colega deu ao álbum uma nota 9,5 de 10, descrevendo-o como “uma explosão nostálgica com guitarras poderosas, melodias viciantes e refrões memoráveis”. Você concorda com essa avaliação?

Com certeza! Nossa, que honra. Muito legal. Sim, acho que fica cada vez mais difícil a cada álbum, porque não queremos fazer o mesmo disco duas vezes e sempre buscamos avançar. Por isso, é incrível ler esse tipo de coisa e saber que tem gente por aí que reconhece todo o esforço, suor e emoção que colocamos em cada trabalho. Para nós, cada álbum é único. A ideia não é apenas lançar mais um disco e focar em outra coisa. É um processo intenso e desafiador.


Considerando essa descrição e o fato de que o fã de hard rock nem sempre é muito aberto à inovação, você sente que esse apelo nostálgico é quase sempre necessário?

Sabe, não lembro quem disse isso, mas tem uma frase ótima que eu gosto: “As pessoas não sabem o que querem. Você precisa mostrar para elas.” Sempre vai ter alguém que vai reclamar: “Ah, isso não soa como tal coisa...”. Bom, dane-se! O que importa é o que nós, como banda, sentimos e queremos colocar para fora. Se fizermos algo apenas para agradar ao público, ele vai perceber. Não seria autêntico. Mas quando nos posicionamos e dizemos: “Isso aqui somos nós, 100%”, não nos importamos com quem não gostar. De certa forma, acho que somos um pouco egoístas nesse sentido.


Como equilibrar esse olhar para o futuro sem perder de vista o passado?

Acho que sempre estaremos enraizados nesse som dos anos 1980, porque amamos esses grandes ganchos e refrões marcantes. Quando coloco um disco do Danger Danger, meu coração se enche de alegria. É isso que me faz sentir em casa, e a banda toda compartilha desse sentimento. Não acho que vamos perder isso. Mas, quem sabe? Talvez daqui a dez anos a gente faça um álbum de dubstep techno. Estou aberto a tudo, não me importo. [Risos.]


Agora, selecionei as cinco músicas mais ouvidas da banda no Spotify e queria que você comentasse sobre cada uma delas. Pode ser? Apenas a primeira coisa que vier à cabeça.

1) “Six Feet Under”

É louco, porque é um clássico da banda, mas quase não foi lançado. Ela está no álbum “Money, Sex, Power”, de 2012, e a gravadora não gostava da faixa. Houve um momento em que ficou no limbo, sem sabermos se sairia ou não. No fim das contas, se tornou a música mais bem-sucedida da banda. Ela também fez parte da trilha sonora de uma série da HBO, o que ajudou bastante. Acho que um dia precisamos voltar para esse estilo, porque ela é bem diferente do restante do nosso repertório. Mas muitas vezes são justamente essas músicas que ficam na cabeça das pessoas e chamam mais atenção.

2) “You’re Not Alone”

Nossa, essa é especial. Foi na gravação desse clipe que conheci minha esposa. Então, para mim, tem um significado enorme.

3) “Not the End of the Road”

Essa é uma das minhas favoritas para tocar ao vivo. Sempre faz o público pular. E, junto com “You’re Not Alone”, é aquela música que até o cara mais metal, usando uma camisa do Manowar e com a barba até o peito, que ficou sério o show inteiro, acaba sorrindo e curtindo. Pegamos ele!

4) “Living in the Fastlane”

Assim como “Six Feet Under”, essa música quase passou despercebida. Se não me engano, foi uma bonus track. Mas acabou se tornando um grande sucesso, tocando bastante nas rádios. É impressionante como certas coisas fogem do nosso controle.

5) “Cadillac Maniac”

Essa foi uma parceria muito legal com The Baseballs. Mais uma daquelas faixas totalmente fora da curva, e é isso que eu amo! Talvez precisemos repensar aquela ideia do dubstep techno, ou quem sabe um reggae? Tem muitos estilos interessantes por aí que dão para misturar um pouco. Mas, com certeza, essa música se destacou muito por conta da participação especial.


Para encerrar, queria propor uma reflexão baseada na letra de “No One Dies a Virgin”, que é uma das minhas músicas favoritas de vocês. Tem um verso que diz, “No final das contas, a vida fode com todo mundo.” Se a vida “fode” a gente no final, qual seria a melhor forma de “foder com a vida” enquanto estamos aqui?

Simples: não dando a mínima. A melhor maneira de revidar é não se importar com o fato de que, no final, vamos nos ferrar de qualquer jeito.


O Kissin’ Dynamite se apresenta no palco Ice Stage do Bangers Open Air no dia 2 de maio (sexta-feira), das 15h10 às 16h00.


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