Com três décadas de estrada, o Ensiferum se consolidou como um dos grandes nomes do folk metal, unindo melodias épicas a riffs pesados e letras que evocam batalhas, mitologia e ares nórdicos. Prestes a desembarcar no Brasil para uma apresentação no Bangers Open Air, a banda promete um show memorável para os fãs que aguardam ansiosamente esse retorno. O vocalista e guitarrista Petri Lindroos conversou com este jornalista sobre as expectativas para o festival, a energia única do público brasileiro e o impacto do mais recente álbum, Winter Storm (2024), que trouxe novas nuances ao som do grupo.
Na entrevista, Lindroos também falou sobre o equilíbrio entre tradição e inovação na sonoridade do Ensiferum, os desafios da cena metal pós-pandemia e até mesmo a inusitada versão de “Bamboleo”, que se tornou um sucesso inesperado entre os fãs.
Boa leitura!
Por Marcelo Vieira
Foto: Divulgação
O Ensiferum está escalado para se apresentar no Bangers Open Air. Quais são suas expectativas para esse show no Brasil?
Já fizemos alguns shows em clubes no Brasil e todos foram muito bons. Então, estou esperando um público muito, muito animada no festival.
O que os fãs brasileiros podem esperar do show?
Um show incrível, como sempre.
O Brasil tem uma cena metal muito apaixonada. Como é a experiência de se apresentar para o público brasileiro?
Eu diria que isso se aplica a todos os fãs da América do Sul. Todos são muito, muito animados. Muito barulhentos. Uma vez, fizemos um show na Colômbia, há muito tempo, onde o sistema de som não era grande o suficiente, então a plateia estava praticamente gritando por cima da música. Quase tivemos que pedir para eles se calarem para conseguirmos ouvir a música!
Há alguma preparação especial para esse show, considerando o público brasileiro e um festival como o Bangers Open Air?
Por enquanto, não. Mas vamos ver quando tivermos todos os horários definidos. Aí vamos começar a planejar o que fazer.
Você já se apresentou no Brasil três vezes. Quais são suas melhores memórias daqui?
A comida é excelente. O clima é gostoso. Os shows foram muito bons. Só não temos muito tempo para “turistar”. Quando vamos para fazer os shows, geralmente tocamos e depois seguimos para a próxima cidade. Quando a turnê acaba, voamos de volta para casa. Mas fomos ao Rio [de Janeiro] e visitamos o Pão de Açúcar. Depois fomos a uma churrascaria e comemos uma carne de primeira. Então, sempre que vamos, é ótimo.
Você terá tempo para explorar mais agora?
Duvido muito, já que esse é um show único. Vamos voar direto para o show e depois voltar para casa. Vai ser uma viagem de dois ou três dias, no máximo. Mas, se houver tempo, quem sabe a gente aproveita para conhecer algo por aí.
Gostaria de falar sobre Winter Storm. Eu acho que nunca vi um álbum do Ensiferum dividir tanto as opiniões quanto esse. Você teve essa impressão também?
Não tenho certeza do que você quer dizer com “dividir opiniões”, mas pelo que tenho lido, a maioria das resenhas tem sido bem positiva.
Recentemente, li uma crítica bem severa a Winter Storm, em que o crítico dizia que o álbum era “muito arrastado e repetitivo”. O que você acha que essa pessoa pode ter deixado passar batido na audição?
Bem, se ele achou o álbum “muito arrastado”, acho que isso é uma forma meio estranha de descrever a música. Não sei, talvez ele tenha acabado de ouvir algo como Marduk e então o Ensiferum soou mais lento em comparação. Mas eu não chamaria de arrastado. As músicas estão mais longas, com um formato mais épico. Sempre tivemos muitas mudanças de tempo nas músicas, algumas mais rápidas, outras mais lentas, além das mid-tempo. Então, não diria que são músicas arrastadas, mas são mais longas. É um pouco difícil de responder.
Algo que chamou minha atenção em Winter Storm foi a mudança significativa no uso de vocais limpos e na estrutura instrumental, com passagens quase “cinematográficas”. Houve uma decisão consciente da banda de explorar essas novas direções?
Bom, esse material veio principalmente do Markus [Toivonen, guitarrista], que trabalhou muito duro junto com tudo o que acabou no álbum. Então, foi basicamente a visão dele. Nós apenas ajudamos a concretizar da melhor forma possível. E agora que temos o Pekka [Montin, tecladista] na banda, podemos usar muito bem os vocais limpos. Isso trouxe uma sensação nova para a banda, desde que ele entrou na banda para o álbum Thalassic (2020). Esse álbum já começou a direcionar a banda para esse caminho, envolvendo mais vocais limpos, não apenas as partes de coral que as pessoas estavam acostumadas. Acho que isso é um novo rumo para o Ensiferum.
A temática geral do álbum parece girar em torno de continuar lutando, mesmo quando ferido. Essa é a inspiração por trás das letras e do conceito?
Pedimos ao nosso baixista, Sami [Hinkka], por muito tempo, para nos passar as letras do álbum, já que ele sempre adia o máximo possível antes de entregá-las. Estávamos quase sem tempo para tê-las para as sessões de demo. E aí ele começou a fazer as letras a partir de um livro no qual estava trabalhando. Então, essas letras são uma parte do meio do livro. Há uma espécie de linha do tempo no álbum, mas sem um final definido. Estou realmente ansioso para saber o que acontece depois disso.
No processo de composição da banda, o que costuma vir primeiro: as letras ou a música?
A música sempre vem primeiro. As letras a gente tem que puxar do Sami, quase forçar ele a terminá-las. E a gente leva bastante tempo para explorar todas as possibilidades de cada parte, tentando descobrir se podemos tocar de uma forma diferente, ou se há outras opções. Isso também é uma das razões pelas quais os intervalos entre os álbuns são tão longos.
O Ensiferum tem uma longa e rica história. Quais foram as principais dificuldades enfrentadas pela banda ao longo dos anos?
Bem, acho que não tivemos dificuldades realmente grandes. O mundo mudou muito depois que a COVID paralisou tudo por alguns anos. Então, conseguir boas turnês e tocar bastante ainda é uma escolha difícil, porque todas as bandas agora querem sair para tocar o tempo todo. Então, está sempre bem movimentado por toda parte. Conseguir pacotes de turnê bons e conseguir shows está sendo o maior desafio atualmente.
E quais foram suas maiores conquistas?
Eu diria que a banda está agora completando 30 anos. Acho que isso é uma grande conquista, considerando o momento atual. Estamos ainda por aqui, tocando com energia todas as noites.
Dentro disso, existe algum álbum que, na sua opinião, seja mais importante ou significativo para a banda?
Acho que os álbuns que mais significam para mim são Victory Songs (2007) e From Afar (2009). Esses foram pontos decisivos na carreira do Ensiferum até agora. E claro, todos os outros álbuns também são importantes, mas esses dois estão bem próximos do meu coração.
Um dos grandes desafios para alguns subgêneros do metal, como o viking metal e o folk metal, é não se tornar ultrapassado. Como o Ensiferum equilibra a fidelidade às suas raízes com a necessidade de inovação e crescimento?
Essa é uma excelente pergunta. Até agora, nós nunca nos limitamos a um único gênero. Se você ouvir toda a discografia do Ensiferum, vai encontrar músicas que não são tão “folk”, como “Two of Spades”, que é muito mais uma música de punk rock, com uma parte disco no meio. E essa música, na verdade, fala sobre jogar pôquer. Então, sempre dissemos que o céu é o limite para o que podemos fazer. Estamos aqui para nos divertir com a música também. Levamos a sério, mas com um sorriso no rosto.
O que o Ensiferum ainda quer alcançar como banda?
Não sei. Acho que estamos apenas descobrindo isso à medida que vamos. Estamos aqui tocando há 30 anos e, se conseguirmos mais 30 anos, seria incrível. E aí seremos bem velhinhos. Mas o importante é continuar nos divertindo, fazendo mais álbuns, fazendo mais turnês. Isso é o que amamos fazer e pelo que vivemos.
Há alguma novidade no horizonte?
Espero que possamos anunciar algo legal em breve, ainda este ano. O Marcus já começou a trabalhar no próximo álbum também. Estamos tentando reduzir o intervalo entre os álbuns, para que a espera não seja tão longa. Então, há muito trabalho a ser feito, vai ser um período bem movimentado.
Para finalizar, o Ensiferum fez uma versão bem peculiar de “Bamboleo”, que, devo dizer, é um sucesso nas festas de rock aqui no Brasil. O que motivou a banda a escolher essa música, tão diferente do estilo tradicional de vocês, para fazer uma versão?
Eu lembro bem daquele fim de semana. O Marcus sempre gostou dessas músicas de guitarra latina, e claro, essa foi um grande sucesso quando saiu, há muito tempo. Ele já queria fazer essa versão há muito tempo. E aí começamos a trabalhar nela, mas acabou sendo bem difícil de tocar do jeito original. Então tivemos que abordá-la de um ângulo completamente diferente, fazendo uma versão bem brutal, no estilo death metal. Ficamos no estúdio o fim de semana todo, e o produtor foi para casa. Quando ele voltou, dissemos: “Temos uma versão para você ouvir.” E ele disse: “Vocês também deveriam ir embora no fim de semana”. [Risos.] E aí, ele adorou. Foi muito divertido fazer essa música. Pelo que ouvi, todo mundo adorou essa versão. Não sei, mas acho que sim!
Vocês vão tocar ela no Bangers?
Talvez devêssemos colocar essa no setlist para o show no Brasil no festival, né? Com certeza! [Risos.]
O Ensiferum se apresenta no palco Sun Stage do Bangers Open Air no dia 3 de maio (sábado), das 17h20 às 18h20.
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