Fotos: Daniel Croce
Na última vez que Robert Cray esteve no Brasil, o ano era 2009 e o dólar custava 2 reais; Michael Jackson ainda era vivo e Theo Becker protagonizava altos barracos na primeira edição do reality “A Fazenda” na Record. A volta do guitarrista ao país se deu na forma de quatro datas — São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília —, parte integrante da turnê sul-americana que passou ainda por Buenos Aires. Na Cidade Maravilhosa, o palco escolhido foi o do Vivo Rio, que já recebeu bluesmen de grosso calibre, como Buddy Guy e o saudoso B.B. King, ambos em 2012.
Na presente turnê, Cray revisita alguns dos discos — muitos dos quais indicados ao Grammy — que definiram seus 40 anos de carreira, com ênfase no recente “Robert Cray & Hi Rhythm” (2017), gravado em colaboração com o grupo Hi Rhythm Section, de onde provem ¼ do material apresentado. Ao lado de Robert na empreitada, a presente encarnação da “Band” composta por Richard Cousins (baixo), Dover Weinberg (teclados) e Terrence Clark (bateria).
Muitas coisas impressionam na performance de Cray. Em primeiro lugar, o cara, no alto de seus 66 anos recém-completados, se porta como um bluesman das antigas. Apresenta todas as músicas da mesma forma — “Esta aqui se chama... e é mais ou menos assim” —, se movimenta o mínimo possível e todo o seu timbre é resultado da infalível combinação entre guitarras e amplificadores valvulados Fender. Nada de pedais.
Nota-se em sua expressão que cada bend parece guinchar parte de suas vísceras, como se as seis cordas estivesse presas ao seu corpo. A voz, sobrevivente de quase cinco décadas de palcos, é um veludo, e as letras, na contramão da cartilha blueseira que vê a bebida como única saída para as decepções amorosas, abordam tal fracasso com um bom humor quase solidário e com uma perspectiva de cura que só os ouvintes mais letrados são capazes de fisgar.
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