REVIEW: The Robert Cray Band – Vivo Rio, Rio de Janeiro, 2 de agosto de 2019

Fotos: Daniel Croce

Na última vez que Robert Cray esteve no Brasil, o ano era 2009 e o dólar custava 2 reais; Michael Jackson ainda era vivo e Theo Becker protagonizava altos barracos na primeira edição do reality “A Fazenda” na Record. A volta do guitarrista ao país se deu na forma de quatro datas — São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Brasília —, parte integrante da turnê sul-americana que passou ainda por Buenos Aires. Na Cidade Maravilhosa, o palco escolhido foi o do Vivo Rio, que já recebeu bluesmen de grosso calibre, como Buddy Guy e o saudoso B.B. King, ambos em 2012.

Na presente turnê, Cray revisita alguns dos discos — muitos dos quais indicados ao Grammy — que definiram seus 40 anos de carreira, com ênfase no recente “Robert Cray & Hi Rhythm” (2017), gravado em colaboração com o grupo Hi Rhythm Section, de onde provem ¼ do material apresentado. Ao lado de Robert na empreitada, a presente encarnação da “Band” composta por Richard Cousins (baixo), Dover Weinberg (teclados) e Terrence Clark (bateria).


Muitas coisas impressionam na performance de Cray. Em primeiro lugar, o cara, no alto de seus 66 anos recém-completados, se porta como um bluesman das antigas. Apresenta todas as músicas da mesma forma — “Esta aqui se chama... e é mais ou menos assim” —, se movimenta o mínimo possível e todo o seu timbre é resultado da infalível combinação entre guitarras e amplificadores valvulados Fender. Nada de pedais.

Nota-se em sua expressão que cada bend parece guinchar parte de suas vísceras, como se as seis cordas estivesse presas ao seu corpo. A voz, sobrevivente de quase cinco décadas de palcos, é um veludo, e as letras, na contramão da cartilha blueseira que vê a bebida como única saída para as decepções amorosas, abordam tal fracasso com um bom humor quase solidário e com uma perspectiva de cura que só os ouvintes mais letrados são capazes de fisgar.


Quem esperava as homenagens ao cantor e compositor Bill Withers (de “Ain’t No Sunshine”) e à lenda da música country Tony Joe White, morto em 2018, que Cray vinha fazendo em shows recentes teve de se contentar com um único cover, “You Must Believe in Yourself”, de Johnny Copeland, executado para um público ainda sob o efeito de “Right Next Door (Because of Me)”, uma das mais aguardadas da noite e, ao lado de “Nothin’ But a Woman”, representante do clássico “Strong Persuader” (1986). Apesar dos incessantes pedidos, inclusive deste que vos escreve, “Smoking Gun” ficou de fora do baile.

Na saideira, “Time Makes Two” oferece a receita para um relacionamento duradouro pautado em valores que muitas vezes são relegados ao segundo plano, sobretudo no ambiente virtual de hoje em dia. O que é cantado impressiona tanto quanto os acordes aranha que Cray move para cima e para baixo no braço do seu instrumento. As articulações doem só de imaginar.

Texto originalmente publicado na Rock Brigade Magazine em 7 de agosto de 2019.

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