REVIEW: Foo Fighters – Rock in Rio, Rio de Janeiro, 28 de setembro de 2019

Fotos: Divulgação

Em 2001, na noite do 32º aniversário de Dave Grohl, o Foo Fighters, que não estava nem nos planos da organização, se apresentou diante de 200 mil fãs no Rock in Rio, com direito a um bolo e um beijo de Cássia Eller. Dezoito anos depois, o grupo retorna ao festival não apenas como atração principal do Palco Mundo – posto que na época coube ao R.E.M. –, mas também como detentor do status de colosso do rock. Trago verdades: o Foo Fighters já é uma das maiores bandas da história. Se os números não me deixam mentir, tampouco o público, ensandecido e conectado, o faz.

Já na forte abertura com “The Pretender”, o peso se faz sentir, tanto na música em si, prolongada até atingir a marca dos dez minutos e na qual já se pode verificar que um Dave Grohl doidaço fez bom uso da garrafa de cachaça presenteada por uma fã no aeroporto, quanto nas estatísticas que a acompanham: o primeiro single de “Echoes, Silence, Patience & Grace” (2007) passou um recorde de dezoito semanas no topo da parada da Billboard. Sem nos dar tempo de respirar, a banda emenda “Learn to Fly”, representante solitária do romântico e acessível “There Is Nothing Left to Lose” (1999).

Agora, por mais que a acessibilidade tenha sempre sido uma marca no som do Foo Fighters – mesmo quando das eventuais esquisitices acústicas que permeiam seus trabalhos da década passada ou das mais recentes tentativas de se estabelecer como o elo entre o classic rock e o que seria um indie de arena –, ao vivo o tratamento é outro, e a sinergia entre Grohl, Nate Mendel (baixo), Taylor Hawkins (bateria), Chris Shiflett (guitarra), Pat Smear (guitarra) e Rami Jaffee (teclados) lhes dá chancela e segurança o bastante para que improvisem, remodelem e nos impressionem com a qualidade e a pontaria de suas brincadeiras. Brincadeiras que, aliás, chegaram ao ápice com Hawkins puxando “Love of My Life” do Queen numa tentativa bem-humorada de reeditar o momento mais histórico da edição de 1985 do festival. E muita gente só reparou depois, mas o rosto de Noel Gallagher estampado na pele do bumbo do batera promete render novos desdobramentos ao mais recente barraco do show business.

À exceção de “Sonic Highways” (2014), todos os álbuns de estúdio do Foo Fighters foram contemplados no setlist de aproximadamente duas horas. Houve cortes de última hora – “This is a Call” e “Generator” foram algumas das limadas sem aviso prévio, ainda que a ausência do talkbox desse uma pista dessa exclusão –, além de recolocações, como a de “All My Life”, que Shiflett afirma ser a música do Foo Fighters que mais gosta de tocar ao vivo, posicionada após o único cover da noite: “Under Pressure”, do Queen, com Hawkins no vocal e Grohl na bateria.

Uma releitura lenta e quase acústica de “Wheels” consistiu na calmaria pré a tempestade que viria na forma de “Monkey Wrench”. Pé no freio novamente para a execução de “Big Me”, uma ode aos fãs old school. A reta final não poderia ser diferente: “Best of You” seguida da canção de amor mais pura e perfeita que Grohl já escreveu. Ao cantarem “Everlong” juntos, os mais de 100 mil presentes – a margem de erro fica por conta daqueles que deram no pé antes do encerramento com show pirotécnico – se harmonizaram numa só sintonia. É como Dave escreve no ainda inédito no Brasil “From Cradle to Stage”: “Uma das melhores coisas da música é você poder cantar para milhares de pessoas e elas cantarem de volta por milhares de motivos diferentes”.

Menção honrosa à sua confissão: “Chorei de emoção ao ouvir o Weezer tocar ‘Lithium’”. E, pela maneira que se referiu, somada às fotos que circularam pela Internet no dia seguinte, Grohl também aprovou “Smells Like Teen Spirit” feita pelo Tenacious D. com participação do potiguar Júnior Groovador. Quer prova maior de que o roqueiro brasileiro precisa, para ontem, rever seus conceitos?

Texto originalmente publicado na Rock Brigade Magazine em 1º de outubro de 2019.


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