REVIEW: Paul Di’Anno – Teatro Odisseia, Rio de Janeiro, 17 de abril de 2013

Foto: Daniel Croce

Partículas de agente laranja ainda pairavam no ar denunciando os eventos da véspera, quando o Sodom reuniu aproximadamente 500 pessoas, em plena terça-feira, para quase duas horas de ataque sonoro brutal. Pela segunda noite seguida, o Teatro Odisseia concentrou o maior grupo de headbangers por metro quadrado do Rio de Janeiro para mais metal. O show da vez foi de Paul Di’Anno, ex-vocalista do Iron Maiden, que está em turnê de despedida.

Há quem diga que ele já vai tarde, mas é preciso levar em conta que não estamos falando de qualquer um. Oriundo da Pangeia do heavy britânico, quando o estilo ainda estava longe de ganhar contornos definitivos, Paul possui uma bagagem musical tão grande quanto sua ficha criminal, que inclui até sonegação de impostos. Felizmente, o cara se sente em casa quando toca em terras tupiniquins, o que não deixa de ser um “plus a mais” para os fãs.

A banda Scelerata abriu os trabalhos com seu power de qualidade internacional. Se por um lado, o material próprio do grupo soa genérico (em sintonia com o que está em alta lá fora, vamos combinar), por outro, seus cinco integrantes (dos quais quatro voltariam ao palco como músicos de apoio da atração principal) são verdadeiras feras. O que se viu das oito às nove foi a prova de que os frutos que vêm sido colhidos pelo quinteto são mais que merecidos. Rolou até versão de “Master of Puppets” do Metallica.

Meia hora de som a cargo do DJ e eis que um tecladão sinistro em playback anuncia a contenda final: os integrantes do Scelerata retornam ao palco um a um e são recebidos como astros internacionais. Aí surge a figura de Paul Di’Anno, que em nada lembra o jovem de atitude punk rock que estampa as contracapas de “Iron Maiden” (1980) e “Killers” (1981). Gorducho e com um andar meio trôpego, Paul chega ao centro do palco para os aplausos e holofotes. Primeiro “Sanctuary”, depois, “Purgatory” seguida por “Wrathchild” e “Prowler”. Em 20 minutos não havia camiseta que não estivesse molhada de suor ou de cerveja nem garganta em perfeitas condições de uso.

Ao contrário da última apresentação de Paul em solo carioca, o repertório desta vez contou com canções selecionadas a dedo de alguns de seus muitos trabalhos solo ou à frente de outros grupos. Também em comparação ao que se viu anteriormente, foi um show mais curto em tempo de duração. A idade chega pra todo mundo. Quando os excessos a acompanham então, o desgaste é ainda maior resultando em cortes de última hora.

Volta e meia Paul se queixava de si mesmo, reconhecendo que sua voz não estava lá essas coisas. “Estou gripado”, disse. “Que nem em 2005”, recordou um velho amigo. Mazelas reais ou inventadas à parte, o coroa ficou perto de cair duro, mas não deixou de cantar um só verso. As instrumentais “Genghis Khan” e “Transylvania” brotaram como verdadeiras cartas na manga: enquanto a banda as executava com fidelidade total ao disco, Paul tomava um trago. “Jack Daniels!”, exclamou. Bom saber!

Depois de mais ou menos uma hora e meia, a noite chega ao fim com “Running Free”, a música assinatura de Paul que, fãs de Bruce Dickinson que me perdoem, só fica legal mesmo cantada pelo cara que originalmente a gravou; pelo cara que, mesmo velho, fora de forma e cheio de recalque – não faltaram as típicas alfinetadas em Steve Harris e Cia. –, ainda é a figura incorrigível e devastadora que a letra do clássico descreve. Ele prometeu voltar ao Rio no ano que vem para a segunda etapa da turnê de despedida. Se voltar, que esteja melhor da “gripe” que o assola há quase uma década e que toque “Drifter”, música preferida deste que vos escreve.

Texto originalmente publicado na Van do Halen em 19 de abril de 2013.

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