REVIEW: Slipknot – “We Are Not Your Kind” (2019)


Slipknot – “We Are Not Your Kind”
Lançado em 9 de agosto de 2019
Roadrunner Records – NAC. – 1h3min

“Pedras no caminho? Fumarei todas.” E não faltaram pedras no caminho do Slipknot nos últimos anos. Da maior delas, o divórcio do vocalista Corey Taylor, origina-se o enredo por trás de “We Are Not Your Kind”. Não que o sexto disco dos mascarados, aquele que levou mais tempo para ficar pronto, possa ser categorizado como um álbum conceitual, mas suas letras têm em comum o dissabor e o desagrado provenientes de quem muito nadou para tão somente agonizar na praia.

De modo algum isto é ruim. Alguns dos maiores álbuns da história do metal derivam de problemas conjugais. “Vol. 4” do Black Sabbath foi feito durante a separação do baterista Bill Ward – a desoladora “Changes” evidencia esse rompimento. Já o Metallica fez seu ‘black album’ quando três de seus quatro integrantes passavam por divórcios. Mais recentemente, “Sorceress” do Opeth retrata o fim do casamento de Mikael Åkerfeldt e o vê expondo as agonias do término enquanto busca reconstruir a própria vida. Como fã e ser humano, é triste pensar que da dor de nossos ídolos vem o nosso ganho. Mas a arte é assim mesmo.

Para canalizar culpa, frustração, arrependimento etc., a construção mais musicalmente abrangente da história da banda, com referências explícitas ao industrial através do uso de batidas eletrônicas – um acinte se levarmos em conta a presença de um baterista e dois percussionistas – e passagens instrumentais que conferem uma aura de trilha sonora ao produto. Das 14 músicas listadas – 15 na edição japonesa –, três não passam da categoria de vinhetas; são meras entradas para pratos cujo sabor varia de acordo com o paladar.

Nada contra inovar ou explorar, mas quando a promessa foi de um álbum que remetesse aos clássicos “Slipknot” (1999) e “Iowa” (2001), nós levamos a sério e preparamos nossos ouvidos para um massacre sonoro indiscriminado, com refinamento restrito às etapas de pós-produção e mixagem – nesse quesito, “We Are Not Your Kind” é 10/10. A impressão inicial com o todo é um misto de estranhamento com pontadas de excitação que coincidem com os momentos em que temos diante de nós o passado prometido: “Birth of the Cruel” e “Red Flag” parecem advir de duas décadas atrás, e “Solway Firth”, o derradeiro choque de consciência, traz a performance mais matadora de Jay Weinberg; um canavial de dedos do meio para as viúvas de Joey Jordison.

Observa-se também menos punhetas no viés ‘guitarrístico’, com a dupla Mick Thomson e Jim Root priorizando os riffs aos solos e o produtor Greg Fidelman – que a galera do hard rock conheceu como Greg Fields, guitarrista do lado B Rhino Bucket – fazendo o que fez em “Hardwired… to Self-Destruct” do Metallica: convertendo as guitarras em artilharia pesada, devolvendo a elas um protagonismo que, aí sim, não ouvimos desde os tempos de “Iowa”. Por fim, muitas são as referências externas: como não pensar em “You Can’t Always Get What You Want” dos Stones ao ouvir o coral feminino da introdução de “Unsainted”? E os lances meio Prodigy meio Nine Inch Nails em “Spiders”, o momento mais WTF do álbum?

Com “We Are Not Your Kind”, temos uma abreugrafia detalhada da alma em processo de recuperação de Corey Taylor e, sem dúvida, um disco ousado que reflete uma banda que sabe que já não precisa provar mais nada a ninguém brincando de se reinventar e explorando superfícies que até então vinham sendo mal e parcamente arranhadas. Só talvez soasse melhor se não trouxesse junto de si uma quebra de expectativa sem precedentes. Aguardemos a turnê, pois não há prova de fogo melhor para os lançamentos do Slipknot do que o palco.

Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 9 de agosto de 2019.

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