REVIEW: AC/DC – “Rock Or Bust” (2014)

 


AC/DC – “Rock Or Bust”

Lançado em 28 de novembro de 2014

Sony Music – NAC. – 34min

 

O AC/DC, que desde sempre foi sinônimo da fórmula que inventou e aperfeiçoou, acaba de finalizar mais um capítulo com o lançamento de “Rock Or Bust”, talvez o registro com background mais desfavorável já feito pelo grupo. O afastamento do guitarrista Malcolm Young, alheio à realidade em virtude da demência, e do baterista Phil Rudd, se encrencando com a polícia por mijar fora do penico, sinalizavam ventos nada favoráveis. Contudo, o vigésimo álbum do AC/DC não reflete a atmosfera turbulenta sob a qual foi concebido. Portanto, deixemos a doença de Malcolm e a conduta de Phil para lá e nos concentremos naquilo que realmente importa.

 

À primeira ouvida, “Rock Or Bust” soa mais cru e, ao mesmo tempo, mais bem-produzido que “Black Ice”, seu antecessor direto lançado em 2008. A bateria de Rudd não traz o fator surpresa, mas soa revigorada apesar da retidão que sempre lhe fora particular; cortesia da produção que se encarregou também de destacar o baixo de Cliff Williams, cujo som se entrelaçava ao do bumbo em batidas graves — inclusive ao vivo — e volta e meia se perdia. É apertar o play na faixa título e apreciar o melhor feijão com arroz da história das cozinhas da música.

 

O timbre de Angus Young remonta ao básico de “Stiff Upper Lip” (2000), disco que, a despeito de ser um dos mais sem-graça do AC/DC, traz um som de guitarra deveras gostoso de ouvir, com drives mais blues do que rock e solos que parecem mimeografias de clichês consagrados deste que é o gênero-pai de toda a música contemporânea. “Hard Times” sintetiza bem essa questão. Mas observem: este não é um álbum de blues; o rock reina absoluto com a veia da música negra pulsando forte apenas em momentos cruciais, como “Rock the Blues Away” e, apesar do nome, “Got Some Rock & Roll Thunder”.

 

A voz de Brian Johnson se apresenta em melhor forma e apenas vez ou outra parece ter sido submetida à mesma pasteurização típica dos álbuns do grupo na década de 80. E por falar em trinta anos atrás, “Baptism By Fire” e “Sweet Candy” parecem oriundas de “Blow Up Your Video” (1988), destoando levemente das demais, todas sonora e estruturalmente pós-Ballbreaker.

 

Aliás, arrisco dizer que “Rock Or Bust” é o melhor trabalho do AC/DC desde 1995. Pelo menos segundo os meus critérios de fã, aqui estão alguns números que têm tudo para se tornarem figurinhas carimbadas no repertório, como “Rock the House”, “Dogs of War” e a própria “Baptism of Fire”, que já estou careca, mas não cansado, de escutar.

 

Em meio a um cenário de adversidades e incertezas, o AC/DC mostra que está na briga pelo caneco e abre vantagem em relação a alguns que, até o presente momento, tinham lugar garantido no pódio de melhor disco de 2014. A disputa continua e, a julgar pelo efeito inicial de “Rock Or Bust” neste autor, Angus e cia. têm tudo para levar o ouro mais uma vez.

 

Texto originalmente publicado no site Judão em 25 de novembro de 2014.

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