REVIEW: Alcatrazz – “Born Innocent” (2020)


Alcatrazz – “Born Innocent” 
Lançado em 31 de julho de 2020
Hellion Records – NAC. – 57min 

Por anos os detentores do nome Alcatrazz capitalizaram em cima da fama adquirida por seus dois ex-integrantes mais bem-sucedidos – os guitarristas Steve Vai e Yngwie Malmsteen – através do lançamento de shows inéditos (ou quase inéditos), coletâneas de demos e sobras e edições recheadas de bônus dos discos de sua fase áurea. Em 2020, porém, um novo capítulo é aberto nessa trajetória.

“Born Innocent”, o tão aguardado sucessor de “Dangerous Games” (1986) vem na esteira de anos movimentados na carreira do setentão vocalista Graham Bonnet, cujas empreitadas mais recentes incluem “Feeding the Beast” (2017), do projeto Ezoo com o italiano Dario Mollo; ao vivos em Tóquio tanto à frente do Alcatrazz quanto da Graham Bonnet Band; e participações em faixas de “Resurrection” (2018) e “Revelation” (2019), do coletivo Michael Schenker Fest. Além de Bonnet, seguem a bordo a dupla de fundadores Jimmy Waldo (teclados) e Gary Shea (baixo). Na bateria, Mark Benquechea ocupa o posto outrora pertencente a Jan Uvena (Alice Cooper, Signal). A guitarra, desde fevereiro de 2019, compete a Joe Stump.

Professor da Berklee e dono de um estilo virtuoso e neoclássico semelhante ao de Malmsteen, Stump é talvez o grande responsável pelo senso de continuidade que perpetua em “Born”. Aliás, o grande mérito do disco é justamente esse: a impressão de uma retomada, inclusive na capa, a partir do clássico “No Parole From Rock ‘N Roll” (1983), como se “Disturbing the Peace” (1985) e o já citado “Dangerous” pertencessem a uma realidade paralela. À fórmula inspirada em Rainbow e aperfeiçoada pelo sueco voador, poucos acréscimos; nenhum dos quais capaz de descaracterizar o som ou dar margem para comentários desdenhosos pelos ouvintes mais tradicionais. Até a galera peso pesado que participa como convidada – Vai, Mollo, Jeff Waters (Annihilator) e o recém-falecido Bob Kulick, entre outros – mais adequa-se ao padrão do que tenta imprimir sua marca.

“Polar Bear”, primeira prévia disponibilizada na Internet, sintetiza bem a proposta “mudar pra quê?” do álbum. Já “London 1666” e “Dirty Like the City” (com Vai) parecem isolar a bola do comercial ao mesmo tempo em que perpetuam a tradição de letras com viés tanto histórico como contemporâneo – outra herança dos dias de Bonnet ao lado de Ritchie Blackmore. Aliás, o fundador do Deep Purple aprovaria com um sorriso no rosto a faixa homônima inspirada no mítico caçador-guerreiro irlandês Finn McCool… e quem sabe até a derradeira “For Tony”, na qual Graham faz o Michael Jackson em “She’s Out of My Life” e chora com a fita rolando. De negativo só a duração do disco mesmo e dela a certeza de que quanto mais músicas, maior a chance de haver um ou outro filler. Dito e feito. Ainda assim, saldo positivaço.

Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 6 de agosto de 2020.

Comentários