REVIEW: Alice Cooper – “Paranormal” (2017)



Alice Cooper – “Paranormal” 
Lançado em 28 de julho de 2017
Shinigami Records – NAC. – 1h7min

Álbuns conceituais são tamanha constante na carreira de Alice Cooper que mesmo quando ele não quer, acidentalmente acaba fazendo um. A ideia inicial de Cooper e do produtor Bob Ezrin era simplesmente escrever um punhado de canções que tivesse voz própria, não dependendo de um contexto para fazer sentido. Selecionadas as faixas que entrariam no álbum, a dupla verificou que todas compartilhavam de uma temática semelhante e previamente explorada na obra de Cooper, a condição humana. A paranormalidade que dá nome ao álbum não se refere propriamente a almas penadas ou discos voadores, mas sim às esquisitices às quais os seres humanos, vira e mexe, estão sujeitos, seja pela maneira de pensar, seja por consequência de suas escolhas.

É preciso dizer que a voz de Alice sobreviveu bem ao implacável teste do tempo, essa majestade perversa que diferencia carreiras legitimamente longevas daquelas que se arrastam ao ponto da vergonha alheia. Mas se por um lado o pai do shock rock vai muito bem, obrigado, por outro, a dupla de guitarristas que o acompanha, Tommy Henriksen (outrora baixista do Warlock) e Tommy Denander, talvez seja a mais fraca a ocupar o posto já ocupado por gente do calibre de Al Pitrelli, Kane Roberts e, mais recentemente, a prodígio Orianthi. Falta aos dois aquela ousadia inerente aos guitar heroes, aquele pensar fora da caixa, sem medo de ser feliz. Não aperte o play esperando riffs e solos marcantes, pois a palavra de ordem por aqui é meramente eficiência.

A limitação nesse quesito ‘guitarrístico’ é suplantada pelo melhor repertório de Alice em aproximadamente duas décadas. Imagine só você sonhar com o fim do mundo e acordar bem na hora de vê-lo acontecer? “Fireball”, a melhor da primeira metade do álbum, trata justamente disso. “Dynamite Road” toma emprestado clichês do rockabilly para contar a história de um malfadado encontro com o diabo em pessoa. Já a base de “Holy Water” parece ter sido desviada de um culto pentecostal e adulterada em águas nada bentas. E o que falar de “The Sound Of A”, escrita em 1968, quando a psicodelia dominava o mundo e os ácidos os miolos do jovem Vincent Damon Furnier?

O destaque supremo, porém, fica por conta da dobradinha final, que soa totalmente anos 70 por um simples motivo: Michael Bruce, Dennis Dunaway e Neal Smith, membros originais do grupo Alice Cooper (1968-1974) dão as caras em “Genuine American Girl” – cuja letra fala sobre um homão da porra que não tem vergonha de ser trans – e “You And All Of Your Friends”, que ao celebrar a amizade, parece mais uma celebração ao som do The Who. Nada mal para uma galera que não gravava junto há mais de 40 anos. Uma pena que Glen Buxton, morto em 1997, não esteja mais entre nós para fazer parte dessa mágica.

Para abrilhantar seu 27º álbum, Alice contou com participações para lá de especiais: Billy Gibbons (ZZ Top) toca guitarra em “Fallen in Love”; Roger Glover (Deep Purple) toca baixo na faixa título – que conta a história de amor entre uma mulher e o espírito do falecido cônjuge –, e o batera em quase todas as músicas é ninguém menos que Larry Mullen Jr (U2).

Em linhas gerais, “Paranormal” é mais uma confirmação da minha tese de que cada álbum gravado por Alice Cooper consiste em apenas um pedaço de um mosaico muito maior, um trabalho sempre em andamento que se desdobra nas apresentações ao vivo e em álbuns subsequentes. Ele criou um gênero exclusivo para si e temos aqui mais uma prova de que sua obra invariavelmente rica e criativa é motivo pelo qual devemos saudá-lo e agradecê-lo.

Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 10 de agosto de 2017.

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