REVIEW: Deep Purple – “Whoosh!” (2020)

 

 

Deep Purple – “Whoosh!”

Lançado em 12 de junho de 2020

earMUSIC Brasil / Shinigami Records – NAC. – 51min

 

Com a bênção de Thanos, cujo impiedoso estalar de dedos, sonham os marvetes, inspirou a capa, aperta-se o play e inicia-se a audição daquele que, muita coisa indica, pode ser o disco derradeiro do Deep Purple. Último nome ainda na ativa do triunvirato do rock pesado dos anos 70, o grupo, não é de hoje, parece operar num meio termo entre o piloto automático e o que determinam Don Airey e Steve Morse, novamente personagens maiores que o enredo em “Whoosh!”.

 

Longe de mim dar a entender que Roger Glover e os Ian Gillan e Paice se deixaram acomodar – por mais que pudessem se dar a tal luxo, vide a impecabilidade de clássicos como “Machine Head” e o forte candidato a ao vivo supremo do rock “Made in Japan”, ambos lançados num intervalo ridículo de nove meses em 1972 tamanha a produtividade da chamada Mk2 –, mas a verdade é que, para os três, tudo não passa de um passatempo despretensioso e, apesar disso, com um resultado que onze em cada dez bandas iniciantes venderiam a alma para obter.

 

Prova de que para 3/5 do Purple tanto faz é o fato de que metade das músicas em “Whoosh!”, por mais que carreguem em seu DNA as mesmas bases nitrogenadas de alguns dos maiores hinos desse tal de rock ‘n’ roll, simplesmente não empolgam. Muito disso talvez se possa colocar na conta de Paice, cuja cautela pós-flertes recentes com o bico do corvo desagua em levadas demasiadamente preguiçosas. Ou na de Glover, que parece jogar no mesmo time: econômico nas notas, embora certeiro na pegada. Mas a verdade é que nem as performances incendiárias de cinco décadas atrás seriam capazes de salvar “Step By Step” ou “Man Alive” da condição de cumprimento de tabela.

 

Mas alto lá: “Whoosh!” tem momentos inversamente proporcionais no quesito empolgação: “Throw My Bones” talvez seja a melhor música de abertura em um disco do Deep Purple desde “Ted the Mechanic” de “Purpendicular” (1996). O invólucro moderno da introdução ativa o desconfiômetro, mas é no refrão que “Nothing At All” garante posição de destaque. A voz de Gillan é uma massagem relaxante nos tímpanos, e o solo de Airey é do tipo bobo alegre que faz um sorriso brotar no rosto sem a menor explicação. Mais traços de uma modernidade viável em “Dancing in My Sleep” – melhor performance de Paice por aqui – e uma curiosa regravação de “And the Address”, diretamente dos tempos mais remotos do Purple de Evans e Simper, configuram os destaques da segunda metade do álbum.

 

Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 14 de agosto de 2020.

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