REVIEW: Ghost – “Opus Eponymous” (2010)


 Ghost – “Opus Eponymous”

Lançado em outubro de 2010

Hellion Records – NAC. – 34min

 

O som deste grupo está dando o que falar lá fora. O segredo do sucesso talvez seja a união do mistério a respeito da identidade de seus integrantes – conhecidos apenas por Nameless Ghouls – e seu satanismo de butique, na escola de bandas como Venom e Slayer. O aspecto teatral de suas apresentações – todos os integrantes encapuzados como almas penadas e o vocalista Papa Emeritus trajando uma roupa similar à casula do Papa Bento XVI – tem sido elogiada pela crítica especializada. Enfim, os suecos do Ghost estão aos poucos conquistando seu espaço entre as novidades mais quentes dos últimos tempos no rock. “Opus Eponymous”, seu disco de estreia, foi lançado em outubro de 2010, mas diante da quantidade de lançamentos de nomes já consagrados no ano passado, acabou passando despercebido aqui no Ocidente.

 

A instrumental “Deus Culpa”, tocada num órgão de igreja, serve para aclimatar o ouvinte, tal como a antífona de entrada numa missa. Mas o baixão distorcido da introdução de “Con Clavi Con Dio” mostra que a coisa não é nada cristã. Quando Papa Emeritus começa a cantar então fica evidente que o sexteto está a serviço do coisa-ruim. As principais marcas do som do Ghost já dão as caras por aqui: guitarras com afinação baixa, muito reverb nos solos, baixo com drive a la Lemmy Kilmister – talvez para compensar uma bateria às vezes pouco inspirada – e um vocalista que parece ter se embriagado na fonte de Eric Bloom do Blue Öyster Cult. Os backing vocals são puxados para o canto gregoriano – como se o coral da igreja estivesse possuído – e o supracitado órgão volta e meia reaparece no papel de teclado de ambiência.

 

As letras são ginasianas, tipo de coisa que aluno rebelde escreve no quadro-negro para fazer a professora de religião enfartar antes da aula. Não dá para levar a sério, e por isso mesmo a diversão é garantida. Mas voltando ao disco, “Ritual” conta com um refrão que promete empolgar ao vivo. Primeiro sucesso do sexteto, “Elizabeth” foi lançada como single/aperitivo antes de “Opus Eponymous” chegar às lojas, e é outra faixa que resume bem a proposta dos ‘ghouls’. A frase “Devil’s power is the greatest one” abre “Stand by Him” de modo que não reste dúvidas quanto a quem o “Him” se refere. Já “Satan Prayer”, primeiro som que ouvi e até hoje é o meu predileto, assim como as demais, tem um quê de humor subversivo, ideal para pregar peças nos amiguinhos crentes.

 

A reta final traz a trinca “Death Knell”, “Prime Mover” e a instrumental “Genesis”. Pelo nome dessa última, creio que o êxodo esteja por vir no próximo lançamento, que eu, sinceramente, espero que chegue logo. E, como sonhar não custa nada, uma vinda da banda ao Brasil seria a perfeição. Apenas alguns anos depois do surgimento do Lordi, a Escandinávia mostra novamente ao mundo, com o Ghost, que teatro e rock and roll têm tudo a ver. A benção, Papa Emeritus!

 

Texto originalmente publicado no site Whiplash em 21 de julho de 2011.

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