REVIEW: House of Lords – “New World – New Eyes” (2020)

 



 House of Lords – “New World – New Eyes”

Lançado em 12 de junho de 2020

Frontiers Records – IMP. – 48min

 

Houve momentos em que pensei que o pouco inspirado “Saint of the Lost Souls” (2017) seria a saideira do House of Lords. Ledo engano! Olha os caras com disco novo na praça, aí. Não só isso: “New World – New Eyes”, o décimo de estúdio da banda é talvez o melhor desde “Come to My Kingdom” (2008), álbum responsável pela primeira e única vinda da banda ao Brasil doze anos atrás. Da formação que subiu ao palco do Circo Voador na segunda edição do festival Hard in Rio, três quartos seguem a bordo: o vocalista e capitão do barco James Christian e seus imediatos gente-boa Jimi Bell (guitarra, desde 2019 também no Autograph) e BJ Zampa (bateria, que vem quebrando o galho para o Dokken). O baixo fica a cargo de Chris Tristam, o mesmo de “Saint”.

 

A exemplo de praticamente todos os lançamentos desde a volta em definitivo do House of Lords com o excelente “World Upside Down” (2006), as músicas em “New World – New Eyes” parecem obedecer à uma lógica do tipo “eu cuido do meu, você cuida do seu”. Entenda: é como se Christian – que também assina a produção – e Bell fizessem um acordo e trabalhassem de maneira quase que independente. O resultado na prática pode não ser o mais adequado para os leigos, já que não são poucas as vezes em que a música sofre uma espécie de metamorfose na hora do solo, tornando-se plataforma para “fritações” que pisam na linha tênue entre a exibição – de uma técnica invejável – e o exibicionismo.

 

Mas Jimi está longe de ser um mero “fritador”, e isso fica claro no decorrer do repertório, construído em torno dos riffs que se tornaram a marca registrada do “novo” House of Lords; seu timbre consegue ser pesado e “arredondado” na medida certa. A ênfase nos teclados segue sendo coisa do tempo em que Gregg Giuffria dava as cartas; aqui, o instrumento marca presença como uma sutil camada de verniz, ou como a base amanteigada desse cheesecake sonoro, oferecendo uma ambiência que ao vivo fica a cargo do bom e velho playback. James canta cheio de alma; sua interpretação acima de qualquer suspeita joga para escanteio quaisquer noções de que a ação implacável do tempo possa ter-lhe destituído do posto de um dos melhores vocalistas do Melodic Rock e do AOR mundial. Em suma: no quesito vocal, o cara envelheceu bem.

 

Agora, o que mais impressionou este autor não foi a forma, mas sim o conteúdo. É, caro leitor, ouvir prestando atenção à mensagem aqui faz toda a diferença. Começando pela assustadoramente atual faixa-título e seguindo em frente com “Change (What’s It Gonna Take)”, “We’re All That We Got” e a derradeira “The Summit” temos um bloco de letras sobre manter a fé, fazer sua parte, não desanimar perante as adversidades; enfim, uma bem-vinda aula sobre humanidade e sobre o papel do ser humano nesse momento difícil de pandemia e distanciamento social.

 

Já a outra metade do disco fala essencialmente sobre relacionamentos, sob vários pontos de vista; desde profundas promessas de amor e devoção (“Perfectly (Just You And I)” e “The Both of Us”) até um cafajeste mergulho em águas rasas (“$5 Bucks of Gasoline” e “The Chase”), passando por assuntos sensíveis (“One More” é um chamado à ação abaixo a violência contra a mulher) e pela importância da fossa enquanto etapa pós-término (“Better Off Broken”). No fim das contas o recado é claro: queira, sim, mudar o mundo, mas comece a mudança dentro de casa. Dentro de si. Quer Hard Rock que leve à reflexão? Então, toma!

 

Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 6 de julho de 2020.

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