REVIEW: Tygers of Pan Tang – “Ritual” (2019)



Tygers of Pan Tang – “Ritual”
Lançado em 20 de novembro de 2019
Hellion Records – NAC. – 52min

Clássicos a parte, a formação atual é a melhor que o Tygers of Pan Tang já teve. Ouso também afirmar que seus dois últimos trabalhos – o autointitulado de 2016 e este “Ritual” – talvez sejam os mais legais da extensa discografia da banda. Outrora liderança de um respeitável segundo escalão da New Wave of British Heavy Metal, o Tygers não se acomoda com o merecido status e meio que liga o foda-se para o fato de o ouvinte da vertente mais tradicional do metal ser, por excelência, alguém que parou no tempo, totalmente avesso a mudanças, seja na forma, seja no conteúdo – digo “meio” porque riffs como o de “Damn You!” fazem a veia saudosista pulsar de emoção e discursos prontos como o de “Não se faz mais rock como antigamente” chegam a arranhar a garganta.

É claro que a atualização no som não se dá num disparate, tampouco de maneira aleatória. A música segue enraizada no padrão inglês estabelecido quatro décadas atrás, mas adquire contornos mais modernos sobretudo graças à contribuição do prodígio Micky Crystal, que a exemplo de como a entrada de Richie Faulkner revitalizou em incontáveis aspectos o Judas Priest, parece ser o maior responsável pelo rejuvenescimento do Tygers. A maneira como sua guitarra conduz o repertório não deixa margem para dúvidas. Mas se uma andorinha só não faz verão, o mesmo se aplica aos tigres e, ao lado de Crystal, os talentos individuais de Iacopo Meille (vocais), Gav Gray (baixo), Craig Ellis (bateria) e do guitarrista e comandante em chefe Robb Weir ajudam a compor o frondoso panorama de “Ritual”.

Por mais que o monocromatismo da capa seja o indício de uma abordagem conservadora, tomemos como exemplo o Iron Maiden, em cujo “The Book of Souls” (2016), na contramão da embalagem, fornece uma coleção diversificada, lírica e musicalmente interessantíssima. Dito isso, “Ritual” vai do uso do talkbox em “Rescue Me” ao trem desgovernado que é “Raise Some Hell”. Contornos épicos se manifestam na abertura “Worlds Apart” e em “Spoils of War”, cuja atmosfera é capaz de transportar o ouvinte diretamente para o front de batalha.

E já que falamos de letras, a de “White Lines”, primeiro single e videoclipe, fala sobre uma vida de imprudências regida pelo vício em cocaína: “Spent every weekend at a party / Can’t believe the things I’ve done”. Da confusão – “Is there light at the end of this journey?” –, à conclusão no melhor esquema “quem avisa amigo é”: “You gotta find a way to ignore it”. Dois lados de uma mesma moeda baladeira estão presentes na lamentosa “Words Cut Like Knives” e em “Love Will Find a Way”, uma incursão ao hard rock de padrão europeu sem a bênção pasteurizada de uma Frontiers. A faixa bônus é um presente para a velha guarda: “Don’t Touch Me There”, o single que deu início a tudo, regravado quarenta anos depois, com pegada semelhante à das apresentações ao vivo de hoje em dia.

Com o relógio prestes a bater uma hora de música rolando, “Ritual” consegue também a façanha de não se tornar desinteressante ou cansativo conforme o tempo vai passando e faixas com média de cinco minutos de duração vão se sucedendo. Aliás, o impulso imediato é botar o CD para rolar novamente, e assim por diante. Os tigres andaram afiando presas e garras, mordem e evisceram com apetite primal, e oferecem um competidor digno do título de disco de heavy metal do ano de 2019. Quem diria que, aos 45 do segundo tempo, ainda haveria jogo?

Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 4 de dezembro de 2019.

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