REVIEW: Vandenberg – “2020” (2020)

 


Vandenberg – “2020”

Lançado em 29 de maio de 2020

Hellion Records – NAC. – 42min

 

John Sykes não era a primeira opção de guitar hero para o Whitesnake à época da reconfiguração sugerida pelo papa do A&R John Kalodner no começo dos anos 80. Na sua frente na fila estavam o alemão Michael Schenker e o holandês Adrian Vandenberg, que recusou o convite de David Coverdale alegando o sucesso que estava tendo com sua própria banda; seu autointitulado disco de estreia (1982) e a balada “Burning Heart” haviam obtido projeção internacional. O Vandenberg gravaria outros dois álbuns – “Heading for a Storm” (1983) e “Alibi” (1985) – e teria mais um pequeno hit com “Friday Night” antes de ruir por completo em 1987.

 

Avancemos para 2020, ano que marca a retomada das atividades do Vandenberg; agora um supergrupo trazendo Ronnie Romero (Lords of Black, Ritchie Blackmore’s Rainbow, CoreLeoni) nos vocais, Randy Van Der Elsen (Tank) no baixo e o topa-todas Koen Herfst na bateria, além, é claro de Adrian. Duas estrelas de grosso calibre também imprimem sua marca no disco: o baixista Rudy Sarzo (Dio, Ozzy Obsourne, Quiet Riot) e o baterista Brian Tichy (Whitesnake, Foreigner, Billy Idol).

 

A expectativa para o trabalho da volta não era das mais altas; ambos os discos do projeto Vandenberg’s MoonKings (2014 e 2017) haviam sido enfadonhos para dizer o mínimo. A primeira prévia, uma versão 2.0 de “Burning Heart”, tentativa sem vergonha de gerar interesse a partir da recauchutagem de um sucesso do passado, não melhorou muito as coisas. Mas quando a inédita “Freight Train”, embalada por um chamativo lyric vídeo, pintou pelas redes, a impressão de volta ao estilo caça-níquéis se desfez.

 

Só que havia um problema. O novo Vandenberg não possui o que se pode chamar de identidade; todo o saudosismo fica restrito à capa, reminiscência do primeirão do grupo. Nos anos 80, a banda possuía um estilo tão enraizado no glam britânico setentista – apesar do virtuosismo de seu líder – que passou quase que incólume pelos ditames do hair metal; um mérito a ser reconhecido quatro décadas mais tarde, mas também um possível culpado pelo grupo não ter decolado.

 

A incursão de Adrian no estilo que dominou a América naquela década se daria somente através de sua singela participação no oito vezes platinado “1987” do Whitesnake, e parece vir daí a sua inspiração para o novo trabalho; não das baladas – a regravação de “Burning Heart” é a única do repertório –, mas de momentos mais porradeiros como “Bad Boys” e “Children of the Night”; curiosamente duas em que o holandês não tocou.

 

No horizonte das inspirações surge também a figura de Ritchie Blackmore, vide os arremates de “Hell and High Water” (com um quê de Jimmy Page também) e os arpejos de “Ride Like the Wind”. Já “Shitstorm” e a derradeira “Skyfall” obedecem ao mesmo princípio de calmaria na introdução antecipando uma quebradeira no desenvolvimento, e sobretudo na segunda Romero incorpora o Steve Lee como uma cópia-carbono do saudoso ex-vocalista do Gotthard.

 

Outra “casadinha”, agora ampliada para o sentido temático da coisa, é identificada em “Shadows of the Night” e “Light Up the Sky”; a primeira, abre o trabalho sintetizando a sua proposta e dando aquele spoiler violento: o que vem pela frente até que é maneiro, mas poderia ser qualquer banda do mundo; já a segunda não foge à possível classificação de música para cumprir tabela.

 

Uma grata surpresa vem na forma de “Let It Rain”, que não só é a mais completa do repertório como também guarda em si potencial para entrar na lista de melhores músicas do ano. O mesmo, infelizmente, não se pode dizer do disco. A produção é impecável, bem como é o desempenho individual de cada um dos envolvidos… mas a soma das partes, recorrendo ao cancioneiro popular do Brasil, é sangue que errou de veia e se perdeu.

 

Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 28 de maio de 2020.

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