DA COLEÇÃO: Whitesnake – “Live in ’84: Back to the Bone” (2014)

 


Whitesnake – “Live in ’84: Back to the Bone”

Lançado em 7 de novembro de 2014

AWO – NAC. – 55min

 

“Quando David Coverdale precisa de você, ele faz com que você se sinta como se fosse o seu melhor amigo. Depois que consegue o que quer, ele nunca mais lhe dá um oi sequer”. Essas foram as palavras do guitarrista John Sykes, em 1989, já à frente do breve Blue Murder, mas ainda magoado com o desfecho de sua passagem pelo Whitesnake.

 

Assim como Coverdale e Sykes já foram grandes parceiros, o Whitesnake já foi uma grande banda, comercialmente falando. Janeiro de 1984 trouxe “Slide It In”, seu álbum mais badalado até o momento. Com uma formação peso pesado, a banda, desde sempre sob a esperta batuta de Coverdale, caiu na estrada e nos braços do público como nunca antes em sua história. Olhando para trás, o vocalista se dá conta de que metade da formação responsável pelo clássico já foi desta para melhor. “Cozy Powell, Mel Galley, Jon Lord. Pessoas incríveis e músicos fora de série. Não consigo expressar o quanto fazem falta”, diz. Até Sykes, um dos líderes em viúvas, tem a performance reconhecida (“...a guitarra incendiária do talentosíssimo...”). O “implacavelmente melódico” Neil Murray completa o escrete.

 

Para celebrar as três décadas de “Slide It In” (ou ampliar o catálogo, ou faturar em cima dos fãs mais inquietos, você decide), acaba de ser lançado este “Live in ’84: Back to the Bone”, artigo de luxo contendo CD e DVD exaustivamente anunciado como a última apresentação de Jon Lord na banda. No repertório, como era de se esperar, os hits “Guilty of Love”, “Slow An’ Easy” e “Love Ain’t No Stranger” muito antes do comercial do cigarro Hollywood, quando disputava queda de braço com “Too Late for Love”, do Def Leppard, nas rádios. Um braço caiu e vocês sabem de quem foi. A coroação da boa fase veio na forma de duas apresentações no primeiro Rock in Rio, em 1985.

 

Voltando ao show, meus caros, estamos falando da cobra branca já sem chapéu e sem bigode, mas ainda livre da patente do glam metal, que a (tra)vestiu segundo as lógicas da indústria fonográfica norte-americana. Aqui a sonoridade é britânica, flutuando entre o velho e o novo. No palco, a performance é inspirada, motivada pela grana que entrava à medida que “Slide It In” galgava posições nas paradas. Coverdale estava no auge. Dividindo o centro do palco, um Sykes furioso, que se fizesse ideia do desenrolar da história, teria tocado ainda mais inspirado.

 

Mas nem tudo são flores neste “Back to the Bone”. Apesar do anúncio à la Cinema em Casa “pela primeira vez na televisão”, não existe um fã do Whitesnake que não possua uma cópia pirata que seja da apresentação no Super Rock Japan. Em outras palavras, Coverdale oficializou um bootleg e, por não ter tido acesso ao som da mesa, todo o trabalho de restauração do áudio foi feito em cima das fitas de vídeo, impossibilitando qualquer toque de Midas em busca do resultado cristalino que todos nós adoraríamos ouvir. A imagem, confesso, poderia ser pior.

 

E antes que eu me esqueça, lá em 1989, Coverdale respondera Sykes: “Faz sentido eliminar quaisquer influências negativas da nossa vida pessoal e profissional”. Me parece legítimo falar dessa forma... sobretudo quando se tinha na banda ninguém menos que Steve Vai. Em outras palavras: chorem, viúvas.

 

Texto originalmente publicado no site Judão em 18 de novembro de 2014.

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