REVIEW: Winger – “Better Days Comin’” (2014)

 

Winger – “Better Days Comin’”

Lançado em 23 de abril de 2014

Frontiers Records – IMP. – 47min

 

Desde o tenebroso “IV” (2006), os fãs do Winger vêm dançando conforme a música de uma mais tenebrosa ainda banda do rock brasileiro que diz “Vivemos esperando dias melhores...”. O álbum que marcou o retorno em definitivo do Winger é um sabre no esterno, e o gosto amargo perdurou por mais três anos, até o lançamento de “Karma”, que, se está longe de ter o carisma do material hoje encarado como clássico do grupo, consegue varrer seu antecessor direto para debaixo do tapete sem a menor pena.

 

Mas nem o mais otimista entre os fãs poderia esperar algo tão esmagador quanto “Better Days Comin’”. Após a primeira ouvida do disco, ouso até contestar o seu nome, que deveria ser “Better Days Has Come”, pois nele jaz a prova irrefutável de que tais dias melhores já vieram... e vieram com tudo, algo que os clipes de “Tin Soldier”, “Rat Race” e “Midnight Driver of a Love Machine” — cara, esse nome é muito maneiro! — já indicavam.

 

“Better Days Comin’” traz o Winger mais furioso e pesado do que nunca. Se no início dos anos 90, o quarteto impressionava mais pela qualidade individual de seus integrantes, hoje em dia parece que a cola finalmente secou e o que chama mais a atenção é o fator complementaridade. O som que sai pelos alto falantes enquanto escrevo é produto indiscutível de oito mãos e quatro vozes em invejável harmonia. O momento neste relacionamento é tão favorável que pela primeira vez em tempos o que se pode chamar de grande turnê será realizado, com datas que vão de maio a setembro deste ano.

 

Voltando ao disco, o som das guitarras tons abaixo de Reb Beach e John Roth é cheio e seus drives são potentes. O velho Paul Taylor tem seu valor, mas Roth é muito mais guitarrista. A bateria de Rod Morgenstein permanece entre as mais elegantes e completas que existem no hard rock, fugindo das levadas óbvias, acrescentando firulas que acentuam em prol de uma, neste caso, bem-vinda complexidade — repare o instrumento na já citada “Tin Soldier”. O baixo tem swing e Kip Winger canta como se estivesse amarrado a um barril de pólvora. Quando falta aquele fôlego de outrora, o cara lança mão de um de seus muitos recursos vocais para não deixar a peteca cair.

 

Por fim, as letras fogem do estigma ensaboado que aprisionou Winger e muitos de seus contemporâneos no imaginário do povo como bandas de trilha sonora de novela. Aqui são abordados temas como guerra, medos contemporâneos e dar a cara a tapa; bandeira comum a todas as bandas tidas como datadas que se erguem das cinzas e se mostram ainda capazes de oferecer trabalhos admiráveis como este aqui. A sua vida pode mudar depois de descobrir que o Winger vai muito além de “Miles Away”. E “Better Days Comin’” pode muito bem ser o disco responsável por essa mudança.

 

Texto originalmente publicado no site Collector’s Room em 22 de abril de 2014.