ENTREVISTA com Vinny: “A música eletrônica é o rock dos nossos tempos!”

 


Entrevista originalmente publicada no site Judão em 20 de agosto de 2014.


Vinícius Bonotto Conrado nasceu em Leme, interior de São Paulo. Largou a faculdade de Direito para se dedicar à música. Deu as caras na mídia no início dos anos 90 como Viny, vocalista do Hay Kay. Como rock no Brasil é que nem samba na Suécia, a banda emplacou uma música e se desfez. Solo e com um N a mais no nome, assinou com a Indie Records. Após uma estreia sem grande repercussão (1995), produziu um dos maiores hits da década: “Heloísa, Mexe a Cadeira”, som que o projetou a nível mundial e incendeia as pistas de dança até hoje. Cantou no Gugu, no Faustão e em tudo o que era programa de auditório. Depois de “Heloísa”, vieram “Na Gandaia” (“Levanta a saia, entra na gandaia, arrasta a sandália que isso aqui tá muito bom...”), “Shake Boom” (“Yeah, ah ah, bota lenha na fogueira...”) e a música da Tiazinha. Deixou o dance de lado em “Te Encontrar de Novo”, balada que tomou de assalto todas as rádios do país. Tocou no Rock in Rio (2001), fez turnê acústica, revisitou clássicos do rock nacional em formato eletrônico, fundou a própria gravadora (Vinny Planet) e virou bacharel em Filosofia. Atualmente, alterna entre a vida acadêmica e eventuais shows ou discotecagens, tanto no Brasil quanto fora. Neste bate-papo, Vinny revela suas origens e mostra sua insatisfação com o rock brasileiro dos anos 2000 em diante. Confira!


Marcelo Vieira: Quais foram as suas primeiras referências musicais?

Vinny: Eu era bem guri ainda. Devia ter uns 10, 11 anos. Pode parecer estranho, mas comecei a gostar de música por causa das serestas que meu tio promovia nos fins de semana. Mais tarde, discos como “Dark Side of the Moon” (Pink Floyd) e “A Peleja do Diabo com o Dono do Céu” (Zé Ramalho) me marcaram.


MV: E como cantor? Quais foram os primeiros projetos?

V: Minha primeira banda se chamava Hein?. Em 1985, gravamos um compacto simples que minha mãe tem até hoje. Com o Brasil bombando de bandas new wave e pós-punk, a gente fazia uma mistura de The Who com Clube da Esquina! [risos] Depois veio o Attica, da música “Amor e Solidão”, que brotou recentemente no YouTube. O Liminha ia ser o nosso produtor, mas ele não gostou do vocalista...


MV: Sua estreia em disco ocorreu com o Hay Kay, ao lado dos veteranos Marcelo Sussekind e Roberto Lly, ambos do Herva Doce. Faz aquele resumão para a gente e abre o jogo: alguma chance de retorno?

V: Estar na mesma banda que esses caras foi como realizar um sonho. Eu era fã do Herva Doce num dia... no outro, estávamos tocando juntos e gravando um disco por uma grande gravadora. Eu escrevia as letras e eles faziam os arranjos. Alugamos uma casa em Teresópolis (RJ) e ensaiamos por dois meses ininterruptos. Queríamos ser a banda mais bem-ensaiada do planeta, e isso nos fez tocar como uma banda gringa! Os ensaios eram intermináveis e os vizinhos ficavam furiosos! [risos] Eu era o primeiro a chegar no estúdio e o último a sair. O som que fazíamos era bem pesado, tinha muita gritaria! Lembro de usar um cicatrizante spray depois dos ensaios, mas tudo era magia! O Hay Kay foi uma banda singular na época! Acho difícil voltarmos. Precisaríamos de muitas drogas... e acho que consumimos elas todas nos anos 90! [risos]


MV: Com o fim do Hay Kay, cada um seguiu seu caminho e você partiu para a carreira solo tocando um som eletroacústico que, teoricamente, teria maior potencial no Brasil. Me fale sobre essa transição do hard rock para o pop rock.

V: Cada um seguiu seu caminho, mas o Roberto Lly e eu nunca nos separamos. Meu amigo de fé, produziu 99% de tudo o que eu fiz até hoje. Meu primeiro CD foi muito pop para alguém recém-saído de uma banda como o Hay Kay. Ainda assim, é um dos meus trabalhos prediletos. Os primeiros shows da minha carreira foram em bares, nesse estilo, voz e violão!


MV: “Heloísa, Mexe a Cadeira” destoa totalmente do que você vinha fazendo desde o início. Não é um pouco irônico ela ter se tornado o seu maior hit?

V: Essa música foi e sempre será uma piada! O disco dela era pesadíssimo, com participações pesadíssimas, como B-Negão, Ostheobaldo etc. Achei que seria engraçado fazer uma música gaiata, que debochasse do próprio disco. Para o meu espanto, estourou no Brasil e no mundo. Freud talvez explique! [risos]


MV: Podemos afirmar que depois de se desiludir com o rock, você se encontrou artisticamente no pop?

V: A música pop sempre me influenciou e, mais recentemente, a música eletrônica, que, a meu ver, é o rock dos nossos tempos. Ela é ousada e força os limites do convencional! O rock encaretou! A onda do emo foi um câncer que se transformou em algo mais colorido, mas igualmente intragável. Faltam bandas produzindo coisas transgressoras por aí.


MV: Nos últimos anos, você voltou a se apresentar com o violão. Bateu uma saudade do bom e velho?

V: Estou completamente apaixonado pela música eletrônica e faz tempo que não rola uma “violada” no meu estúdio. Mas ele está lá, olhando para mim. Às vezes, ouço ele me perguntando: “E aí, rapaz, vai me colocar em alguma faixa do CD?”.


MV: Para encerrar, qual o sentido da vida, professor e filósofo, Vinny?

V: O sentido da vida é aquele que damos para ela. Se alguém não consegue encontrá-lo, deve estar procurando nos lugares errados.


facebook.com/VinnyBonottoOficial 

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