REVIEW: Doom:VS – “Dead Words Speak” (Relançamento 2020)

 


Doom:VS – “Dead Words Speak”

Lançado originalmente em 3 de outubro de 2008

Cold Art Industry – NAC. – 50min


“A vida humana não tem sentido, nem qualquer propósito divino.” A vertente existencial do niilismo parece dar o tom de “Dead Words Speak”, segundo álbum do Doom:VS.


Para quem não conhece, Doom:VS é o nome da empreitada solo de Johan Ericson, multi-instrumentista e membro fundador da entidade do doom metal sueco Draconian. A largada foi dada em 2004 com o objetivo de usar o novo projeto como veículo para sua visão de mundo e, em meio a uma escuridão completa, compartilhar suas inquietações em letras de caráter ultra pessoal. A primeira demo (“Empire of the Fallen”) abriu portas, e o disco de estreia, “Aeternum Vale” (2006), indicou o caminho a ser seguido.


Dois anos mais tarde, Johan compôs e gravou “Dead Words Speak” na sala de ensaio do Draconian. Aqui, as guitarras ganham um peso a mais, e a atmosfera, já lúgubre, adquire contornos até meio sobrenaturais, como se intrusos de realidades paralelas à nossa estivessem à espreita reivindicando royalties. É dele também toda a parte gráfica, do conceito à execução. A ficha técnica do álbum bem que poderia dizer apenas “responsável por tudo: J. Ericson”. 


Em meio ao clima de mundo se acabando, Ericson promove um acerto de contas com o próprio passado. Do diário de uma depressão de “Half Light” (“Days go by, nothing changes, nothing lives...”) à prece com ares de extrema-unção de “Threnode”, passando pela faixa-título, que tem na angústia definida por Heidegger como “disposição fundamental que nos coloca perante o nada” seu fio condutor. E tudo isso disposto sobre uma cama forrada de teclados de ambiência e levadas de bateria em que cada batida na caixa é como se um pouco da esperança de dias melhores desvanecesse. 


Ao contrário do que cantou Renato Russo, pode haver, sim, beleza na miséria. “Dead Words Speak” é uma prova irrefutável disso. Junte-se a nós na solidão. 


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