Meus 10 (+1) discos favoritos de 2020


No ano que, thank God, está prestes a acabar, a música foi como um bálsamo para a vida. Entre os muitos lançamentos do rock e do metal em 2020, eis aqui os meus 10 (+1) favoritos: 


#10 – Canedy – “Warrior”

Sleaszy Rider Records – IMP. – 44min

O segundo álbum do projeto paralelo do batera do The Rods, Carl Canedy, contesta a máxima atribuída a John Fitzherbert: cachorro velho aprende truque novo, sim; entre eles, o de confiar em um produtor da nova geração – no caso, o badalado Chris Collier – para adaptar um repertório de heavy metal tradicional para o consumo da nova geração de headbangers. Ajuda o guitarrista Charlie Russello ser um virtuoso de primeira e o vocalista Mike Santarsiero ter na versatilidade o seu trunfo; ouça “Hellride”, tente contar os diferentes registros vocais do cara e falhe miseravelmente.


#9 – Fabiano Negri – “The Fool’s Path”

Independente – NAC. – 55min

Entre os muitos discos cuja missão é ser o meio para uma mensagem lançados em 2020, o conceitual “The Fool’s Path” se destaca não só pela sonoridade retrô – um brinde a Alice Cooper e às óperas-rock dos anos 70 –, mas também por tratar de um tema que gera identificação imediata: o saber a hora de jogar a toalha. Com suas letras, Fabiano Negri expulsa demônios. Com sua música, derruba gigantes; seu solo de guitarra em “Changing Times” é deixar quarentão à beira do choro. 


#8 – Kansas – “The Absence of Presence”

Urubuz Records – NAC. – 47min

O décimo sexto álbum de estúdio dos veteranos do Kansas vem na sequência de duas de suas turnês mais bem-sucedidas. O som transita entre o classic rock de contornos progressivos e um hard rock feito sob medida para arenas lotadas e um público mais maduro, que possua a vivência necessária para captar a mensagem por trás de “Throwing Mountains” e que não se sinta constrangido caso chore frente ao que é cantado na belíssima “Memories Down the Line”, espécie de mea-culpa de uma geração que tentou construir um mundo melhor e fracassou.


#7 – Passion – “Passion”

Frontiers Records – IMP. – 40min

O feeling retrô é o grande atrativo do autointitulado disco de estreia do novo projeto do vocalista e multi-instrumentista Lion Ravarez (ex-Night By Night). A missão nem tão secreta do Passion é fazer o ouvinte voltar no tempo através do emprego calculado de clichês cuja eficácia fora comprovada três décadas e meia atrás; ecos de um passado que, a julgar pela idade dos integrantes, só conheceram pela Internet. A resposta aos que acham isso errado é um dedo do meio em forma de música na autoexplicativa “We Do What We Want”.


#6 –Torch – “Reignited”

Metalville Records – IMP. – 42min

Os decanos da pauleira sueca retomam de onde haviam parado nos anos 80 ainda fazendo jus ao lema “mais rápido, mais pesado e mais alto!” que adotaram para si desde a formação da banda no longínquo ano de 1981: heavy metal ao estilo churrasco de moto clube, daqueles que fecham a rua num sábado à tarde com direito a campeonato de sinuca e porco no rolete. Com seus versos “there’s nowhere to hide, there’s nowhere to run, the countdown has just begun”, a derradeira “To the Devil His Due” veste como luva ao mundo em megacrise provocada pela pandemia do novo coronavírus. E há quem diga que metal é coisa de alienado…


#5 – Blues Pills – “Holy Moly!”

Shinigami Records – NAC. – 41min

O Blues Pills segue na curva ascendente e, compensando quatro anos sem lançamentos – pontuados por ao vivos que confirmam que o bom rock só acontece mesmo em cima do palco –, apresenta seu trabalho mais consistente. O som do quarteto beneficiou-se da mudança de Zach Anderson do baixo para a guitarra, e parafraseando José de Alencar, a vocalista Elin Larsson ou é um demônio de malícia, ou um anjo de passagem pelo mundo sem roçar as suas asas brancas. Seja lá o que for, é uma das vozes da atual geração. 


#4 – H.E.A.T. – “II”

Shinigami Records – NAC. – 45min

Nem o saudosista mais esperançoso poderia esperar pelo que o H.E.A.T. apresenta em “II”. A saideira do vocalista Erik Grönwall soa como uma continuação não oficial de “Address the Nation” (2012), retomando a estética dos primeiros trabalhos da banda, quando a receita era o melodic hard rock tipicamente escandinavo inspirado em Europe, Treat e outros medalhões. Também prepara o terreno para a volta de Kenny Leckremo, a voz original do grupo, que já demonstrou facilidade para se adaptar ao repertório recente numa matadora regravação de “Rise” publicada recentemente nas redes sociais.


#3 – Electric Mob – “Discharge”

Hellion Records – NAC. – 47min

Em 9 de maio de 1974, um jovem e ainda pouco badalado Bruce Springsteen se apresentou no Harvard Square Theater em Cambridge, Massachusetts. O influente crítico musical Jon Landau estava na plateia. Impressionado com o que viu, ele escreveu: “Vi o futuro do rock ‘n’ roll e seu nome é Bruce Springsteen.” É mais ou menos essa a sensação que o Electric Mob proporciona em “Discharge”. O disco de estreia da rapaziada de Curitiba lança as bases estilísticas e comportamentais do hard rock que vem por aí: ousado a ponto de admitir influências de (muitos) outros gêneros e com personalidade para não tomar para si realidades e temáticas que não lhe pertencem. É Brasil no pódio, minha gente!


#2 – AC/DC – “Power Up”

Sony Music – IMP. – 41min

Se teve coisa que aprendemos em 2020 foi que todo acontecimento histórico transformador é imprevisto; seja uma pandemia, seja um novo álbum do AC/DC. “Até que ponto o mundo precisa de um novo álbum da banda?”, poderão perguntar alguns. Precisar, o mundo, autossuficiente, não precisa nem de você, de mim ou de coronavírus. Mas poucas coisas caem tão bem em momentos como o atual que lembretes de como a vida pode ser boa. É isso que “Power Up” tem de mais e tão belo: a capacidade de nos fazer recordar que é possível se jogar sem medo, se deleitar sem culpa, se empolgar sem dar a mínima para o que os outros vão pensar. E tudo isso com uma simplicidade de dar gosto. 


#1 – Ozzy Osbourne – “Ordinary Man”

Sony Music – IMP. – 49min

A carreira estanque de Ozzy Osbourne é virada do avesso em “Ordinary Man”. Com o produtor e guitarrista Andrew Watt conduzindo os trabalhos – e as participações mais que especiais de Slash e Duff McKagan (Guns N’ Roses), Chad Smith (Red Hot Chili Peppers), Tom Morello (Rage Against the Machine), Elton John e Post Malone –, o Madman gravou o disco mais pungente de sua carreira. É impossível não se emocionar com o teor autobiográfico de músicas como “Under the Graveyard” e a faixa título – com direito ao melhor videoclipe do ano –, nas quais Ozzy passa sua história a limpo e reforça a tese de que sem a mulher, Sharon, ele nada seria. Minha escolha para disco do ano desde a primeira ouvida. 


AO VIVO DO ANO – Eagles – “Live from The Forum: MMXVIII”

Warner Music – IMP. – 2h 17min

Compilado a partir de três shows em Inglewood, Califórnia, em 2018, o mais recente ao vivo do Eagles é o primeiro com Deacon Frey assumindo o lugar do pai, Glenn Frey (morto em 2016), no vocal e na guitarra base do grupo. No repertório de quase três horas, canções que falam tanto ao público estadunidense e (infelizmente) tão pouco ao resto do mundo misturam-se a sons das bem-sucedidas carreiras solo de Don Henley (único remanescente da formação original), Joe Walsh e Vince Gill, que rouba a cena com interpretação fora de série da clássica “New Kid in Town”. 


Outros álbuns de destaque:

Benediction – “Scriptures”

Black Swan – “Shake the World”

Buffalo Summer – “Desolation Blue”

Eskröta – “Cenas Brutais”

Harem Scarem – “Change the World”

Hugo González Daher – “On a Mediterranean String”

Joe Bonamassa – “Royal Tea”

Lion Heart – “O Ferro do Escorpião”

Marenna-Meister – “Out of Reach”

Reb Beach – “A View from the Inside”

Septicflesh – “Infernus Sinfonica MMXIX” (Ao Vivo)

Sepultura – “Quadra”

Sons of Apollo – “MMXX”

Testament – “Titans of Creation”

The Damnation – “Parasite” (EP)


... e que venha 2021! 

Comentários