Burning Rain – “Face the Music”
Lançado em 22 de março de 2019
Shinigami Records – NAC. – 49min
Em maio de 2014, após doze anos de serviços prestados, muitas vezes levando a banda nas costas, Doug Aldrich pediu as contas no Whitesnake. O motivo declarado à imprensa na época foi a necessidade de ficar mais tempo com a família. Só que não demorou muito até o guitarrista aparecer com novidades. A primeira delas veio já no ano seguinte, com o autointitulado disco de estreia do Revolution Saints, supergrupo com Jack Blades (Damn Yankees, Night Ranger) e Deen Castronovo (Hardline, Journey). Na sequência, Aldrich se juntou ao The Dead Daisies e, de lá para cá, gravou “Make Some Noise” (2016), “Burn It Down” (2018), o ao vivo “Live & Louder” (2017) e “Locked and Loaded” (2019), apanhado de covers gravados tanto em estúdio quanto ao vivo. Também em 2019, ano em que a estreia homônima do Burning Rain completou duas décadas, Doug reuniu-se com o vocalista Keith St. John e encontrou em Brad Lang (baixo, ex-Y&T) e Blas Elias (bateria, ex-Slaughter) os substitutos para Sean McNabb e Matt Starr, que haviam gravado o último do projeto, “Epic Obsession”, em 2013.
Lançamento de destaque da italiana Frontiers Records no ano passado, “Face the Music” foi um dos grandes discos do hard rock de 2019 a ganhar edição nacional pela Shinigami Records nos últimos meses. No repertório, cem por cento assinado pela usina criativa Aldrich-St. John, indícios do que o Whitesnake poderia ter se tornado (nota mental: jamais se tornaria) se confundem com a planta baixa do som do Daisies, sobretudo quando era John Corabi, e não Glenn Hughes, no microfone. A inspiração da guitarra é totalmente anos 70, com riffs curtos e grossos que soam ainda mais pesados devido à afinação baixa do instrumento. Vem de décadas atrás também a predisposição para solos extensos. A timbragem moderna, às vezes excessivamente grave, é uma cortesia do baixinho Alessandro Del Vecchio, responsável por produzir, mixar e masterizar o álbum.
“Revolution” é uma abertura justa, mas a coisa esquenta mesmo é na faixa 2, “Lorelei”, cujos versos inspirados em “Kings and Queens” do Aerosmith remetem àquele meme que diz “copia, mas não faz igual”. Mais adiante, “Shelter” é elaborada a partir de um clima quase rural antes de ser alvejada por pisões providenciais no pedal de Overdrive. Naquela que dá nome ao álbum temos a melhor síntese da proposta geral sustentada num equilíbrio entre uma ousadia retrô e uma modernidade conservadora; o bom e velho “para alegria de todos”. A tentativa de balada vem mais adiante com “If It’s Love” e sua letra sobre o efeito nocivo de discussões em excesso numa relação; chega a machucar quando St. John propõe “Could we stop before it all breaks”. No gotejo final, o amor volta a dar as caras como protagonista, mas ao contrário do que o título pode nos levar a pensar, “Since I’m Loving You” só faz referência ao blues carregado do Led Zeppelin na teoria. Na prática, a derradeira de “Face the Music” está muito mais para números mais pesados do catálogo do Led, como “Immigrant Song” ou “Nobody’s Fault But Mine”.
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