REVIEW: Jaguar – “Power Games” (Relançamento 2020)

 


Jaguar – “Power Games”

Lançado originalmente em 15 de junho de 1983

Voice Music / Rock Brigade Records – NAC. – 51min


Quando os recém-saídos do ensino médio Garry Pepperd (guitarra) e Jeff Cox (baixo) formaram o Jaguar em Bristol, Inglaterra, em dezembro de 1979, Geoff Barton ainda não havia cunhado a expressão New Wave Of British Heavy Metal para definir a então nova safra de bandas do Reino Unido cujo som era influenciado tanto pelos gigantes Black Sabbath e Judas Priest quanto pelo punk rock de Ramones e Sex Pistols. Fazendo jus ao animal e à marca de automóveis de luxo homônimos, o Jaguar se destaca, ao lado de Raven e Venom, como um dos grupos mais velozes de seu tempo, sendo constantemente desafiado por seu público a tocar “mais rápido, mais rápido!” 


Ego demais e criatividade de menos levaram o vocalista Rob Reiss a ser substituído por Paul Merrell. A essa altura, em janeiro de 1982, o Jaguar havia participado da histórica coletânea “Heavy Metal Heroes” (1981) com a música “Stormchild” – que o Metallica notadamente chupou em “Whiplash” –, esgotado as 4 mil cópias prensadas de seu compacto “Backstreet Woman” (1981) e ido pela primeira vez à Holanda, país que receberia o quarteto de braços abertos.


Por falar em braços abertos, foi assim que Pepperd e os outros receberam a proposta da emergente Neat Records para a gravação de um novo compacto, “Axe Crazy” (1982), que chegou à 18ª posição nas paradas das revistas Kerrang! e Sounds, e fez o nome Jaguar ficar conhecido do lado de cá do Atlântico. Apesar do moral em alta – sobretudo após novo giro pela Holanda –, os quatro foram obrigados pela gravadora a produzir seu LP de estreia em apenas cinco dias de novembro de 1982. Com uma ajudinha de Cronos (Venom) fazendo sabe-se lá o quê, a missão foi cumprida com êxito, e “Power Games”, que acaba de ganhar edição nacional com bonus tracks por meio da parceria entre Voice Music e Rock Brigade Records, consiste em um dos álbuns mais cativantes da NWOBHM, conduzido por um rifferama de dar gosto e um batera, Chris Lovell, que parece incorporar a besta de Phil Taylor (Motörhead) em suas conduções. 


Lançado originalmente em 15 de junho de 1983, “Power Games” já abre com seu carro-chefe: a pedrada “Dutch Connection”. Na letra, uma crônica das bem-sucedidas turnês pela terra das flores e dos moinhos de vento (“Full blooded full of energy / And after the show now I can hardly see”) e uma promessa ao público holandês (“I’ll be back someday”) que levaria duas décadas para ser cumprida. A temática se repete em “Rawdeal”, que em linhas mais gerais descreve o status (ou a falta dele) de uma banda de abertura: “The level’s too high, the sound is bad / Continuous feedback, it drives you mad / The top of the bill always get their way / Forget the rest they ain’t got no say”.


Imagens mais palpáveis são conjuradas ao longo do repertório: “Out of Luck” é o passo a passo de uma ressaca daquelas. “The Fox” e “No Lies”, por sua vez, inspiram-se em figuras femininas que ora “kill for food and not for fun”, ora “refreshes the parts that others cannot reach”. Mas a verdade suprema jaz na curtinha “Ain’t No Fantasy”: quem está no rock é para se f... mesmo. Quase quatro décadas mais tarde e um oceano de distância, a certeza de que nada mudou no underground. 


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