REVIEW: Shape of Despair – “Monotony Fields” (Relançamento 2020)

 


Shape of Despair – “Monotony Fields”

Lançado originalmente em 15 de junho de 2015

Cold Art Industry / Death Cult Records – NAC. – 1h14min


Assim como os Correios, o Shape of Despair tem seu próprio tempo. A diferença é que, ao contrário da empresa que monopoliza o sistema de envio de correspondências no Brasil, os finlandeses nunca decepcionam em suas entregas. Tudo bem que da última vez eles abusaram: foram onze anos de silêncio após “Illusion’s Play” (2004); momentaneamente interrompidos pelo lançamento do EP “Written in My Scars” (2010). Desesperador para dizer o mínimo. Mas a entressafra teve seu valor.


Formado em 1995 como Raven e rebatizado em 1998, o Shape of Despair tem como molas propulsoras três membros fundadores: a vocalista Natalie Koskinen, o guitarrista solo/tecladista Jarno Salomaa e o guitarrista base Tomi Ullgrén (Impaled Nazarene). Completam a formação responsável por “Monotony Fields” o baixista Sami Uusitalo (Finntroll), o baterista Samu Ruotsalainen e o vocalista Henri Koivula.


O quarto álbum de estúdio do sexteto justifica o atraso com conteúdo. Mais que isso: é uma aula de contrapontos, notavelmente nas vozes — ao canto sereno de Koskinen na chamada, o gutural “por favor me deixe morrer” de Koivula na resposta. A música em si é pura atmosfera, com referências ora sutis ora explícitas a Black Sabbath (típico) e Pink Floyd (“In Longing” é uma espécie de “Shine On You Crazy Diamond” do funeral doom metal). 


Aliás, esse caráter progressivo é um dos traços mais marcantes de “Fields”; a audição de ponta a outra é recomendadíssima neste caso para fins narrativos. OK, muitas das letras não têm mais do que uma frase – a de “Reaching the Innermost”, por exemplo, é “Even though the world was in our hands and life whispered in our ears, we could only gaze at the eager distance that would soon live within us: the slowly emerging shapes of the innermost despair” –, mas a mensagem é óbvia e dialoga tanto com o nome da banda quanto com o título do álbum.  


Por mais que date de cinco anos atrás, a perturbadora monotonia que estabelece o fio condutor temático tem tudo ou quase tudo a ver com 2020, o ano em que ficar em casa ganhou novo significado. Quem não chegou perto de surtar diante das imposições do distanciamento que atire a primeira pedra.


A presente edição nacional, fruto da parceria entre os selos Cold Art Industry e Death Cult Records, inclui slipcase com hot-stamping dourado e pôster dupla-face, além de uma faixa bônus (a supracitada “Written in My Scars”). Como todo produto de luxo, a tiragem é limitada. É como dizem lá fora: “once they’re gone, they’re gone”. 


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