Raio X – janeiro de 2021: Accept, The Dead Daisies, Nervosa, W.E.T. e Wig Wam

 Confira os cinco lançamentos de janeiro de 2021 que mais curti: 


Accept – “Too Mean to Die”

Com a saída do baixista Peter Baltes, o guitarrista Wolf Hoffmann, na condição de único remanescente da formação original do Accept, acabou ficando responsável pela assinatura da banda que fundou 45 anos atrás. Como isso impactou na música dos alemães? Em absolutamente nada. “Too Mean to Die” mantém a sequência vitoriosa de lançamentos iniciada com “Blood of the Nations” (2010) e confirma, a despeito do que possam dizer os saudosistas, a superioridade – a menos do ponto de vista criativo – da fase atual, com Mark Tornillo nos vocais, em relação aos tempos de Udo. O repertório inclui de tudo um pouco: temos hard rock na veia de “Midnight Mover” e “Screaming for a Love-Bite” (“Overnight Sensation”), acenos à música erudita (“How Do We Sleep”), momentos “queime borracha ou coma poeira” (“No Ones Master”, “Symphony of Pain”), dramaticidade sendo valorizada na forma de números mais cadenciados (“The Undertaker”, “The Best Is Yet to Come”) e o encerramento na forma de uma das melhores faixas instrumentais que você ouvirá em 2021 (“Samson and Delilah”). Que o passar do tempo assegure a músicas como as citadas o mesmo prestígio do qual “Balls to the Wall” e “Metal Health” gozam hoje em dia. 



The Dead Daisies – “Holy Ground”

Certa vez, o genial Stevie Wonder descreveu Glenn Hughes como “meu cantor branco favorito”. Essa é apenas uma das muitas credenciais que o veterano que atende pela alcunha de “a voz do rock” acumulou ao longo de cinco décadas de carreira e de carreiras. Hughes ingressa no coletivo Dead Daisies como um substituto dois em um para o vocalista John Corabi e o baixista Marco Mendoza. Sua entrada custa ao grupo não a identidade dele – até porque é impossível ter uma quando a proposta definida pelo mandachuva que ninguém lembra o nome David Lowy é justamente ser uma porta giratória de músicos –, mas o formata conforme aquilo que se ouve na carreira solo de Glenn, exceto talvez pela falta do groove cujo protagonismo no clássico “Stormbringer” (1974) pôs Ritchie Blackmore porta afora do Deep Purple. A guitarra sempre afiada de Doug Aldrich fornece o contraponto necessário para impedir que músicas como “Like No Other (Bassline)” finquem os pés no soul e no funk mais do que no rock, e Deen Castronovo, recém-saído para tratar de um problema na coluna, não tem como não ser apontado entre os melhores bateras em atividade, seja no toque disciplinado da primeira parte da belíssima “Far Away”, seja no braço forte (e na mão nada amiga) do cover de “30 Days in the Hole” do Humble Pie. 



Nervosa – “Perpetual Chaos”

As saídas de Fernanda Lira e Luana Dametto da Nervosa tiveram resposta à altura. Mais que isso: ao unir forças com Diva Satanica (vocais), Mia Wallace (baixo) e Eleni Nota (bateria), a guitarrista Prika Amaral não só tornou sua banda um supergrupo internacional, como também pavimentou o caminho rumo a uma sonoridade muito mais técnica – com destaque total para Eleni, cria do prog que bate forte e imprime sua marca em viradas e arremates fora da caixinha – e pesada, ultrapassando a linha tênue que muitas vezes separa o thrash do death e do black metal old school; cortesia do registro de Diva, que vocifera como se seu objetivo fosse trazer de volta ao mundo alguma entidade maligna de tempos remotos e sua própria vida dependesse disso. Com participações especiais de dentro (Guilherme Miranda, do Entombed A.D., em “Until the Very End”) e fora do país (Schmier, do Destruction, em “Genocidal Command” e Erik A.K., do Flotsam and Jetsam, em “Rebel Soul”), “Perpetual Chaos” é o “Quadra” de 2021. E caso não tenha ficado nítido na afirmação anterior, significa que, sim, é o melhor trabalho já lançado pela banda. 



W.E.T. – “Retransmission”

O mundo é um lugar melhor quando Robert Säll, Erik Martensson e Jeff Scott Soto encontram espaço em suas agendas e se reúnem para um novo álbum do W.E.T. — e olha que os caras vivem ocupados! Se bem que o que para nós é a oitava maravilha do mundo do hard rock e AOR, para eles nada mais é que um acampamento de verão. “Retransmission” deixa isso nítido ao incluir no repertório músicas que muito provavelmente sobraram de empreitadas recentes de Martensson e, por isso mesmo, pesam muito mais a balança para o lado do Eclipse. Se bem que temos notáveis exceções, como “The Call of the Wild”, que usa o mesmo molde de “Mysterious”, do Talisman. Já “Got to Be About Love” é a trilha sonora de encerramento que “Karate Kid” não teve e que uma vindoura temporada de “Cobra Kai” poderia (deveria?) ter. E dada recente declaração de Soto de que o W.E.T. nunca sairia em turnê devido à dificuldade de reproduzir ao vivo o que se ouve no disco, é torcer para que a derradeira “One Final Kiss” não carregue nas entrelinhas o adeus que não estamos preparados para ouvir. 



Wig Wam – “Never Say Die”

José Wilker, Robin Williams e Roberto Bolaños foram alguns dos que morreram em 2014; mesmo ano em que disse adeus ao sonho de ver o Wig Wam ao vivo. Após 13 anos na ativa, os noruegueses decidiram colocar um ponto final. Cinco anos mais tarde, a esperança reluz com o anúncio da retomada e de um novo álbum de estúdio. Fazendo jus à máxima de Abraham Lincoln – “Se eu tivesse apenas uma hora para cortar uma árvore, eu usaria os primeiros quarenta e cinco minutos afiando meu machado” –, Glam (Åge Sten Nilsen, vocais), Teeny (Trond Holter, guitarra), Flash (Bernt Jansen, baixo) e Sporty (Øystein Andersen, bateria) levaram um ano preparando o sucessor do enfadonho “Wall Street” (2012) e o resultado são 47 minutos de uma espécie de Festa Ploc do hard rock, com direito a todos os clichês temáticos e musicais acrescidos da roupagem que já simbolizava modernidade uma década e meia atrás, mas que permanece relevante e capaz de tirar os pés do chão. Na contramão do peso de “Where Does It Hurt” e da faixa título, que ecoa o brilhante “Wig Wamania” (2006), o destaque vai para “Kilimanjaro”, um country dos fiordes com potencial de arrebatar quem torce o nariz para Poison, mas acha o humor do Steel Panther o maior barato, e “Hard Love”, que parece egressa do catálogo de Joe Bonamassa, só que com a canastrice que falta ao nova-iorquino. 


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