REVIEW: Urchin – “Anthology” (2020)

 


Urchin – “Anthology”

Classic Metal Records – NAC. – 48min (CD 1) 33min (CD 2)


Em 2009, o site Metal Storm publicou as 101 regras da New Wave Of British Heavy Metal. Embora a lista não seja nada além de uma piada, boas verdades são ditas, como na regra número 69: “Urchin não é NWOBHM. Mas como Adrian Smith e Dave Murray tocaram nela, tudo bem.” Há quem conteste – o autor e sumidade Martin Popoff é um deles –, mas musicalmente falando, o Urchin está muito mais alinhado ao hard rock do Free – Smith é um fã confesso de Paul Kossoff (1950-1976) – e do Thin Lizzy que ao heavy metal de Black Sabbath e Judas Priest. 


Faz sentido: Adrian tinha apenas 16 anos quando formou o Evil Ways com seu colega de escola Dave, um ano mais velho, para tocar um “blues mais pesado”. Em agosto de 1976, com Murray fora da jogada, vieram a mudança de nome para Urchin e o contrato com uma gravadora (DJM Records). Em 13 de maio de 1977, a muito sonhada estreia em disco com o compacto “Black Leather Fantasy”/ “Rock and Roll Woman”. O futuro parecia tão brilhante para o quinteto londrino que Smith disse não ao primeiro convite feito por Steve Harris para se juntar ao Iron Maiden. 


Com Dave Murray foi o contrário: seis meses depois de ter sido despedido do Maiden, lá estava o guitarrista de volta ao Urchin, sendo o compacto “She’s a Roller” / “Long Time No Woman” (1978) o único fruto de sua breve segunda passagem. Murray não ficaria para contar história e o futuro que parecia brilhante começou a dar sinais de incerteza. Smith viu a banda para a qual disse não decolar – com Dave na formação – enquanto a sua própria amargava saídas de integrantes, mudanças de estilo – a formação derradeira contava até com um tecladista – e desinteresse geral como sinais de que o fim estava próximo. No final de 1980, o Urchin acabou, e foi questão de tempo até os laços de amizade falarem mais alto e Adrian reeditar a dupla com seu velho amigo agora no Iron Maiden. 


Avancemos quatro décadas e voemos da Inglaterra para o Brasil, país que concentra o maior número de ouvintes de Iron Maiden em todo o mundo. Apesar de o mercado consumidor de CDs ter sido basicamente reduzido a nichos específicos – um deles, o do rock e metal –, tudo que conta com algum integrante ou ex-integrante da Donzela desperta o interesse de quem prefere a música em formato físico. Sacando isso, a Classic Metal Records trouxe com exclusividade para o país este super box duplo contendo a antologia do Urchin. No repertório, dezoito registros dos anos derradeiros do grupo, incluindo faixas até então somente disponíveis em LP ou há quase uma década sem ver a luz do dia em CD. 


A primeira coisa que chama a atenção é o formato. Há quanto tempo não se via um lançamento em estojo do tipo fatbox no Brasil? A nostalgia começa antes mesmo de se rasgar o plástico. Dentro, além das duas mídias, dois encartes: um contendo as letras e outro contando a história, ambos com direito a muitas fotos raras. Vem um pôster também. E é lendo atentamente que descobrimos que todas as faixas foram gravadas ao vivo em estúdio pela formação Adrian (guitarra e vocais), Andy Barnett (guitarra e backing vocals), Alan Levett (baixo e backing vocals), Barry Tyler (bateria) e Richard “Dick” Young (teclados). 


“O físico atrai, mas é o espírito que cativa” – bonito isso, né? Eu li num livro. Fazendo jus à citação, é no conteúdo que “Anthology” consolida a ótima primeira impressão. Como dito acima, o som não tem nada ou quase nada do espírito da NWOBHM, pautando-se por um hard rock blueseiro, estradeiro, copo de uísque na mão. As temáticas procuram ser o mais urbanas e humanas possível, vide “Life in the City” (que o Iron Maiden retrabalharia como “Sheriff of Huddersfield”) e o puro Lizzy de “Watch Me Walk Away”. 


No CD1, ouve-se algo de “Dreamer Deceiver” do Judas Priest em “My Lady”, de The Who em “Need Somebody” e um experimento à disco music de Kool & The Gang em “Animals”. Fora da curva? Totalmente. Ainda assim, tão irrepreensível quanto irresistível. No CD2, os destaques vão para “Little Girl” (a um riff na escola de Ritchie Blackmore segue-se uma abordagem radiofônica que o próprio só alcançaria na fase Joe Lynn Turner do Rainbow), a dobradinha nunca antes lançada “Walking Out On You” e “See Me Through” e as versões alternativas de “Countdown” (estágio embrionário de “22 Acacia Avenue”?) e “Lifetime” do CD1. 


Há quem diga que a voz de Adrian lembra a do falecido Eddie Money (dos hits “Shakin’” e “Take Me Home Tonight”). Acima da média se considerarmos alguns vocalistas da época, mas nada comparado ao cantor que viraria sinônimo do Iron Maiden anos mais tarde. De qualquer forma, o que mais chama a atenção mesmo é sua guitarra, sempre afiada e aqui com total inclinação ao improviso.


Com “Anthology”, o ainda incompleto quebra-cabeça das origens de uma das maiores bandas da história do metal ganha uma nova peça. E não seria exagero dizer que trata-se de uma das peças mais procuradas e valiosas. Headbangers mundo afora, morram de inveja! 


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