“Paella cultural”: Um papo com Riccardo De La Cuesta, Rudy Sarzo e Fabio Laguna


No último dia 22 de janeiro, a banda equatoriana Anima Inside lançou “Prophets Word”. O single conta com a participação de nomes de peso do rock e metal latino-americanos: na bateria, Fernando Scarcella, do Rata Blanca; nas guitarras, o trio Marcelo Barbosa (Angra), Toño Ruiz (ex-Coda, QBO) e Coqui Tramontana (Masacre); nos teclados, Fabio Laguna (ex-Angra, Edu Falaschi); e no baixo, o lendário Rudy Sarzo, que tocou com Quiet Riot, Ozzy Osbourne, Whitesnake, Dio e muitos, muitos outros. Quem comanda a festa é o líder do Anima Inside, Riccardo De La Cuesta, também responsável pela letra, produção e mixagem da faixa. Foi com ele, Fabio e Rudy que bati um papo na última semana. Bora conferir? 


Fotos: Divulgação


Marcelo Vieira: Em “Prophets Word” você reúne um verdadeiro supergrupo. Qual foi a ordem dos acontecimentos que tornaram isso possível?

Riccardo De La Cuesta: Eu estava em Los Angeles em janeiro de 2020. Anos atrás, Marcelo Barbosa, Toño Ruiz, Fernando Scarcella e eu havíamos falado sobre gravar algo juntos. Alguns amigos em comum me levaram até o Fabio. Quando começou a pandemia, Marcelo, Toño e eu decidimos dar início ao processo. Foi aí que falamos com o Fabio. No fim das contas, tivemos o privilégio de poder contar com o Rudy, que é amigo da minha empresária em Los Angeles. Rudy não é apenas um excelente músico, mas um ser humano da melhor qualidade. Seu envolvimento foi uma grata surpresa para todos nós, e o resultado mostra que todo esforço valeu a pena. Primeiro recebi a bateria, que Fernando gravou em Buenos Aires. Em seguida, Rudy gravou o baixo em seu estúdio em Los Angeles. Então, comecei a trabalhar em todo o restante. Depois que o Fabio enviou as faixas de teclado, comecei a gravar as vozes. Sem pressa, tudo muito tranquilo e natural. 


MV: Gravar remotamente já era uma tendência mesmo antes da pandemia do novo coronavírus. É mais fácil trabalhar dessa maneira?

Rudy Sarzo: Para mim, é interessante gravar remotamente quando há tantos panos de fundo musicais diferentes envolvidos. Apesar de sermos todos latinos, cada um tem suas próprias influências. Eu venho do Caribe, o que é bem diferente de alguém que vem da Argentina ou do Brasil. Acredito que o mais importante é conseguir trazer esse diferencial para a mistura. Estamos falando de uma música multicultural, e não apenas do bom e velho rock ‘n’ roll, que já tem seus parâmetros bem-estabelecidos. O que fizemos aqui foi uma paella cultural em que cada ingrediente contribui com o sabor final do prato. 

RDLC: Quando o trabalho é feito por músicos tão gabaritados, sim. Todos os envolvidos têm anos de estrada e muitos álbuns no currículo. Rudy tocou com Ozzy Osbourne. Imagine só a minha reação ao receber sua gravação? Congelei na hora! Sua técnica é absurda e o som da gravação era surreal. Era exatamente o que eu queria: um baixo que você pudesse definir como “agressivo”. 



MV: Houve liberdade para que cada músico convidado contribuísse como bem entendesse ou rolaram diretrizes do tipo “faça isso / não faça aquilo”?

Fabio Laguna: Riccardo me deu toda a liberdade. Estávamos em plena pandemia, então eu tive cerca de dez meses para pensar nos arranjos e trabalhar a música. O legal é que eu pude fazer coisas que normalmente não tenho espaço para fazer, como tocar um refrão em tom maior e outro em tom menor. Minhas outras bandas não permitem esse tipo de experimentação. 


MV: Foi, de alguma forma, desafiador para vocês, Rudy e Fabio, tocar algo tão progressivo, beirando o shredding? 

RS: Não foi a primeira vez que gravei algo assim. Recentemente toquei com [o tecladista] Derek Sherinian e [o baterista] Brian Tichy no disco de um guitarrista brasileiro chamado Gustavo Carmo. Eram quatro ou cinco instrumentais de caráter progressivo. Além do mais, sou velho, né? [Risos]. Cresci ouvindo e tocando rock progressivo. Ou seja, não foi um desafio para mim. 

FL: Idem aqui. O progressivo faz parte da minha rotina desde que eu tinha 16 anos e gravei minha primeira demo. Meus álbuns são mais progressivos que metal. Curto expandir os horizontes, quebrar as regras, navegar conforme a energia da música. Tudo muito tranquilo e natural, como disse o Riccardo. 


MV: Haverá mais músicas ao estilo supergrupo como “Prophets Word”?

RDLC: Estamos considerando gravar mais músicas. Rudy e eu temos conversado sobre. Seria ótimo repetir a dose. Por ora, estamos curtindo a repercussão de “Prophets Word”. Estamos muito satisfeitos com o resultado. Ela não é o tipo de música que eu costumo compor. Minha veia é mais hard rock. Enfim, não podemos prever cenas dos próximos capítulos. Acredito que o mais importante seja a mensagem por trás dessa música, além da união de tantos músicos incríveis. A mixagem e a masterização também ficaram excelentes. Quem masterizou foi German Villacorta, que também é de origem latina.



MV: Já que você falou em mensagem, qual o significado da letra de “Prophets Word”? 

RDLC: É um misto de várias coisas. Quando escrevi a letra, levei em consideração como nós, da América Latina, somos tão facilmente manipulados pelos autoproclamados profetas, sejam eles políticos ou religiosos. Mas também pode ser sobre a conquista das Américas, quando pessoas de fato morreram por não compartilharem das mesmas crenças que esses profetas. Enfim, são vários os pontos de vista; interpretação é sempre algo muito pessoal. Mas, no fim das contas, a mensagem é de união. É isso que importa. 


MV: Para o pessoal que ouvir “Prophets Word” e quiser saber mais sobre os trabalhos prévios de cada um de vocês, qual disco que já gravaram vocês recomendariam?

FL: O meu seria o “Freakeys” (2006), que é o meu segundo álbum solo. Apesar de ser uma banda, eu produzi e arranjei tudo sozinho; a bateria, o baixo, as guitarras. É o álbum que melhor me representa e que mais toco nos meus workshops. 

RDLC: No meu caso, acho que o “Duality” (2015), que é um disco duplo de 16 faixas. Tem uma mistura de estilos, uma diversidade de que gosto muito. É um disco que dificilmente ouvinte vai se cansar de ouvir.

RS: Música é arte. Não acho que Picasso tivesse uma pintura favorita; ele apenas pintava. [Risos]. Tenho orgulho de cada coisa que fiz; seja um álbum completo, seja uma participação especial em uma música. Em cada um eu emprego o mesmo esforço e o mesmo empenho. “Prophets Word” traz o espírito de todos aqueles com os quais já toquei; os que ainda vivem e os que já partiram desta vida. O meu respeito a todos eles. A música que faço é minha maneira de demonstrar o quanto sou grato a cada um com quem já dividi o palco ou o estúdio. 


MV: Para terminar, o que podemos esperar de cada um de vocês para os próximos meses de 2021?

FL: Espero estar em turnê muito em breve. Quero que a vacina chegue para todo mundo e que a gente possa promover o álbum [“Vera Cruz”] do Edu [Falaschi] que está para ser lançado em maio, além do DVD [“Temple of Shadows In Concert”] que a gente lançou em 2020 e não pôde trabalhar. Os trabalhos de estúdio, as aulas e gravações continuam, mas no âmbito artístico e autoral, o foco é carreira solo do Edu. Estúdio é legal, mas bom mesmo é poder cair na estrada.

RDLC: Por enquanto, vou continuar promovendo “Prophets Word”. Espero poder contar com amigos como Rudy e os outros em projetos futuros, dependendo da disponibilidade de cada um deles. Torço para que o mundo inteiro seja vacinado e, assim, possamos voltar à vida como era antes. A pandemia acabou com as finanças de muita gente. Sinto-me abençoado por estarmos minha família e eu com saúde, mas muitos estão sofrendo diretamente as consequências da pandemia. Que 2021 seja um ano diferente, um ano melhor. Musicalmente, continuarei compondo e tocando. É isso.


MV: E quanto a você, Rudy? O que podemos esperar de você em 2021?

RS: Baixos ensurdecedores! [Risos]



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