Abençoado por Deus: os 35 anos de “Disturbing the Peace”, do Alcatrazz

Alcatrazz – “Disturbing the Peace”

Lançado em 22 de março de 1986


Quando Yngwie Malmsteen deixou o Alcatrazz em 1984, coube ao relativamente desconhecido Steve Vai, egresso da banda de Frank Zappa, assumir o posto não apenas de guitarrista, mas também de compositor. Na esteira da mudança na formação, troca, também, de gravadora: com a falência da Rocshire Records — pela qual haviam saído “No Parole From Rock ‘N’ Roll” (1983) e o ao vivo “Live Sentence” (1984) —, Graham Bonnet (vocais), Gary Shea (baixo), Jimmy Waldo (teclados), Jan Uvena (bateria) e Vai assinaram com a Capitol Records, do grupo EMI, e lançaram “Disturbing the Peace”, que hoje completa 35 anos. 



Impressiona a maneira como o novato, na época com 24 anos, abraça a missão e faz do disco, o segundo de estúdio do Alcatrazz, terreno fértil para seus experimentos, ainda que com resultados contraditórios: do heavy elementar de “Mercy” à tentativa fracassada de épico “Desert Diamond”; de “Wire and Wood” — construída sobre um lick marcante que o guitarrista reaproveitaria em “Answers”, de seu álbum solo “Passion and Warfare” (1990) — a “Stripper”, que leva o mau gosto para “oto patamá” ao incluir um projeto de “Gemidão do Zap” em seu interlúdio; do galope empolgante de “Skyfire” ao Abba com esteroides de “Sons and Lovers”.   


Para combater ou compensar tanta inconsistência, uma boa dose de talentos individuais, com destaque para o desempenho de Bonnet, comparável ao que se ouve em “Down to Earth” (1979), do Rainbow, de onde vêm os sucessos “All Night Long” e “Since You’ve Been Gone”, incorporados pelo Alcatrazz em seu repertório ao vivo. 



Produzido pelo lendário Eddie Kramer, “Disturbing the Peace” teve como carro-chefe o single “God Blessed Video”. A letra, uma crítica ao padrão-videoclipe da época, é, nas palavras de Bonnet, “heavy metal para quem tem neurônios.” Por mais ilógico que isso possa parecer 35 anos mais tarde, em meados dos anos 80, era comum que artistas veteranos, como o vocalista, se referissem ao novo com o desdém típico de um aristocrata musical. Com alavancadas dignas de fazer Jeff Beck cagar nas calças, a faixa é o exemplo perfeito de por que a velha guarda deveria temer os que estavam surgindo. Deviam ter aprendido que os melhores mestres não são aqueles que formam bons discípulos, mas, sim, novos mestres. 


Texto originalmente publicado no site Metal Na Lata em 19 de fevereiro de 2020.

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