ENTREVISTA: Thiê Rock reflete sobre a rotina de influencer e a nova fase da Lion Heart


Já perdi as contas de quantas vezes entrevistei Thiê Rock e participei de eventos em que a sua Lion Heart estava entre as atrações. São mais de dez anos de amizade com esse cara que, de uns tempos para cá, furou a bolha do rock ‘n’ roll, tornando-se quase que patrimônio cultural da internet. Seus vídeos, um melhor que o outro, seguem viralizando. Seus bordões estão na boca mesmo daqueles que nunca tiveram a oportunidade de vê-lo em ação no palco. O estilo, que o próprio define como “maluco cabeludo”, desperta a curiosidade. Só que Thiê é muito mais do que o meme ao qual tentam reduzi-lo, e o bate-papo que você está prestes a ler, passados mais de um ano do lançamento do bem legal “O Ferro do Escorpião”, mais recente álbum da Lion, e a poucos meses do vigésimo aniversário de formação da banda, é uma prova que pode constar dos autos. 


Transcrição: Leonardo Bondioli

Fotos: Jay Roxx


Marcelo Vieira: Vamos começar falando de números: você está com 43 mil seguidores no Twitter e 26 mil no Instagram. Crescimento totalmente orgânico, né?

Thiê Rock: Pois é, cara. Nunca fiz aquelas compras mirabolantes [de seguidores]. Às vezes vejo uma galera que tem muitos seguidores e são sempre as mesmas cinco pessoas que comentam [nos posts]. Você me conhece bem pra caramba, sabe que fui a mesma coisa sempre. Só que com a pandemia muita gente ficou mais grudada em rede social, e eu passei a usar mais o Instagram, o Twitter e o YouTube, onde eu só postava quando tinha show da Lion Heart. Acabou que muita gente com vontade de conhecer gente diferente, de ver coisas diferentes, de repente conheceu este maluco rock ‘n’ roll aqui, que faz chamadas engraçadas, que brinca com jargões que ele mesmo inventou, e uma coisa foi chamando a outra. Daí vieram os vídeos encomendados por empresas, por fãs etc., e isso é legal pra caramba, porque num momento como esse, o que a gente puder fazer de trabalho que não envolva show ou festa é ótimo. Foi ótimo porque abriu novas possibilidades de trabalho para mim e, ao mesmo tempo, faz tudo girar. Cada vídeo que faço, independentemente da finalidade, está fazendo o nome da Lion girar. E isso é legal pra caramba. 


MV: Os números da Lion Heart estão refletindo a popularidade que você está adquirindo por conta própria?

TR: Com certeza. Todas as redes sociais da Lion Heart aumentaram, todo o engajamento nas plataformas digitais cresceu muito. Passou a dar uma pingada todo mês para a gente. Independentemente da plataforma, as pessoas passaram a ouvir muito mais Lion Heart. E eu passei a brincar com certas situações que chamaram isso. Criei a Lion Sexta-Feira, que é o dia de ouvir Lion Heart, e toda sexta faço um vídeo que alimenta o meu YouTube, e tento criar conexões em tudo aquilo que faço para fazer tudo crescer junto, e nisso a Lion Heart vem junto. “Pô, cara desinibido, engraçado, vou ouvir essa banda!”


MV: E qual tem sido o feedback desse público que chegou à Lion Heart dessa forma? Esse público que não é do rock, mas que conheceu a Lion Heart porque é a banda do Thiê Rock?

TR: É muito difícil um ser humano não gostar de nada de rock. A maioria das pessoas ouve um pouquinho de tudo e tem lá seus discos de rock favoritos; um Guns N’ Roses, algumas músicas do Metallica, do Pearl Jam, Charlie Brown Jr., Capital Inicial... E é legal que essas pessoas que ouvem um pouco disso e um pouco de pagode um pouco de funk, de repente agora está ouvindo um pouco de Lion Heart! Essas pessoas não conhecem Mark Free, Harem Scarem, Icon etc., mas com certeza já ouviram falar de KISS, AC/DC, Bon Jovi e Guns. Não vão saber de subdivisões do rock, mas o importante é que tiveram contato com a Lion Heart e curtiram, deram um feedback legal. É uma soma de coisas: você joga no liquidificador e parece que está funcionando; do meu jeito doidão, mas está! Me divirto e dou risada!



MV: E quanto ao pessoal que já era fã da Lion Heart, ouvia as músicas e ia aos shows, como foi a aceitação do “O Ferro do Escorpião” por eles?

TR: A gente, praticamente, só recebeu elogios. Quase todo mundo concorda que é o nosso álbum mais bem-produzido. [Lion] Brandon e eu entramos muito de corpo e alma para gravar; a gente não gravava um disco completo há muito tempo, e, de repente, veio com um, com dez músicas, videoclipes, e isso foi o maior barato. Quem já era fã abraçou totalmente e sempre deixa aquele recado: “Que pena que não dá para curtir ao vivo! Estou doido para ouvir ‘Rock vai rolar’ ou ‘Animal’”. Ou brinca: “Pô, quando vai ter essa ‘Indecente’ ao vivo para a gente ficar indecente juntos?”. [Risos] 

É um momento muito ímpar para mim e para a banda; para mim com tudo isso que aconteceu, e com a repercussão em cima da banda, sabe? As resenhas que saíram foram superpositivas, a galera realmente curtiu e abraçou tudo. Não tenho do que reclamar. 


MV: De todos os lançamentos de vocês que acompanhei, esse foi, sem dúvida, o que mais teve divulgação e engajamento. Mesmo sem shows, a coisa está rolando. Como é que está a expectativa para quando tiver show?

TR: Acho que a galera já ouviu tanto esse disco que já decorou todas as músicas! O que a gente tocar ao vivo, quem curte a banda e for aos shows certamente vai cantar junto; talvez até mais forte do que alguns clássicos porque são novidade. A expectativa é a melhor possível. A gente chegou a fazer uma live como se fosse um show completo. Tocamos dez músicas com toda raça e garra como se tivesse um público enorme ali. É óbvio que quando você acaba de tocar a música, não ouve o grito da galera, e é muito estranho isso. A gente encarou como se fosse um show mesmo porque era a primeira vez que a gente ia tocar as músicas [do “O Ferro do Escorpião”], então eu olhava para câmera e imaginava [o público]. Foi uma situação totalmente nova, mas também muito interessante, porque você é uma banda independente underground, e uma pessoa poder assistir ao seu show de qualquer lugar do mundo do planeta? Isso foi o maior barato! Depois a gente correu atrás e viu a galera comentando: “Pô, acabamos com a nossa sala! Foi demais!” Foi um feedback diferente, mas muito legal também.


MV: Sem contar que essa coisa de não poder fazer show meio que mostrou a vocês outras maneiras de fazer o dinheiro entrar. Nunca vi tanto produto com a marca da Lion Heart disponível: camisetas, almofadas... Coisa pra caramba! Como é que está rolando isso?

TR: Costumo encabeçar meio que tudo. O Brandon é aquele cara que é um gênio do arranjo e da composição; acho que a praia dele é mais essa. O contato com o público e o “por trás das câmeras” é mais comigo, e eu meto a cara. Mas vou ser sincero: muita gente entra em contato comigo também. Aí a gente vai conversando e, quando fica bom para as duas partes, as coisas vão acontecendo. Quando vejo um trabalho legal, entro em contato e converso sobre a possibilidade de rolar coisa da Lion Heart lá. 

Às vezes é a própria pessoa que me procura para saber quanto eu cobro para fazer uma divulgação do produto dela. Aí eu analiso, vejo a qualidade e proponho: “por que a gente não faz uma parceria?” Ele passa a fazer produtos da Lion, cada um vai ter [direito a] uma porcentagem e os detalhes a gente acaba acertando em off. E bem ou mal, eu vou acabar divulgando o trabalho dela. Em termos de divulgação, é ótimo ter produtos bacanas. Na pandemia tivemos máscaras, chaveiro, almofada, caneca e até mascote feito de tricô.



MV: E o CD físico? Teve boa saída?

TR: Está vendendo legal. Isso numa época em que o CD virou objeto mais de colecionador. É legal que ver que tem uma parte do público que tenta ajudar e comprar o material das bandas [independentes] porque sabem que é importante pra caramba. Todo o dinheiro que entra a gente reinveste em novas coisas. Ter uma banda custa caro: gravar discos, manter site, tirar foto etc. Tanto eu quanto o Brandon temos outras profissões e tal; a gente não vive apenas de música. O que entra a gente reinveste em mais produtos Lion, faz uma caixinha e aí a máquina vai girando. 


MV: Passados mais de um ano do lançamento, ainda vai ter novidade relacionada ao “O Ferro do Escorpião”? 

TR: Com certeza a gente vai trazer novidade! A gente planeja gravar até o final do ano pelo menos mais dois clipes. O próximo vai ser da “Animal” e a gente deve gravar no mês que vem.


MV: Agora, na pandemia, rolou uma inspiração extra para fazer umas letras com aquele ingrediente motivacional que você costumava fazer?

TR: Mesmo que eu não quisesse, seria uma inspiração meio que por osmose, porque é o que a gente está vivendo. Só falar de coisas lindas e festivas num momento tão triste é complicado; embora o mundo precise muito disso para ter uma injeção de ânimo, então a gente tenta dosar. Para quem conhece a fundo nossa carreira, a gente sempre tentou dar umas dosadas. A gente faz hard rock, que é naturalmente uma coisa para cima, divertida e para ser ouvida no último volume numa festa, para dirigir o carro em alta velocidade e para comemorar um aniversário, uma promoção no emprego ou mesmo melhorar o astral depois de um dia péssimo. 

Nesse último disco, se você for pegar “Uma Lição Por Vez”, é total superação do fundo do poço. E por mais que eu tenha feito a letra de “Coração Entorpecido” antes [da pandemia], ela fala muito sobre tudo que a gente está vivendo. Assim como a “Suingue”, que fala de política. É óbvio que vou retratar questões de pandemia [nas músicas novas] e tenho certeza de que não tem nem como as pessoas não se identificarem porque todo mundo está vivendo o mesmo drama.



MV: Ano que vem a Lion Heart faz vinte anos. Num mundo ideal, sem pandemia, qual seria seu sonho de comemoração para essa data?

TR: Acho que fazer um LionFest como a gente fez no passado, aquele do vídeo que viralizou [Risos]. Não foi o único LionFest que a gente fez, mas aquele vídeo realmente entrou para o mundo de forma muito legal mil anos depois. Acho que um dos comentários que mais vejo é “Pô, queria tanto ir nesse evento que foi há mil anos e que só soube da existência agora!” [Risos]. Então seria muito bom fazer um LionFest e convidar outras bandas, DJs e músicos para fazer participação e ser uma grande celebração. Imagina só: vinte anos de Lion Heart comemorados com um LionFest! Sou muito positivo e acredito que em algum momento no ano que vem a gente vai conseguir viver bem sem essas ressalvas de agora. Graças a Deus os números de mortes estão caindo, mas acho que ano que vem a gente consegue ter todo mundo vacinado. [Grita:] LION REBANHO, TOMEM A VACINA! Vai ser uma ótima forma de comemorar e quem sabe a gente junta tudo isso que a gente fez agora na pandemia, transmite pela internet para todo mundo poder ver. Olha a doideira! LionFest mundial, vinte anos da Lion Heart para o mundo inteiro! Seria muito f*da! Quem não sonha não sai do lugar! [Risos]


MV: Para encerrar, eu gostaria de saber se, desde que você abriu essa possibilidade de contratarem você para divulgar uma marca ou parabenizar alguém, já recebeu algum pedido curioso, meio bizarro ou até muito engraçado.

TR: Rola de tudo um pouco. Já cheguei a fazer pedido de namoro, de casamento. Quando me pedem para zoar alguém, eu tento dar uma suavizada, para que seja uma coisa engraçada, não uma queimação de filme. De modo geral, é sempre engraçado e divertido [de fazer]. Tento colocar uma pimenta para que a pessoa não fique chateada e tenha orgulho de postar. Tenho orgulho de ter participado de muitos momentos importantes da vida de um monte de gente que não conheço. Teve cara que passou em concurso, a família me contratou para dar os parabéns. Já fui contratado para dar parabéns a uma senhora de 80 anos que estava fazendo aniversário. Imagina só a cara dela vendo esse maluco cabeludo falando um monte de coisa roqueira para ela? Isso é o maior barato! 

É óbvio que há pedidos mais picantes, como [uma vez que me pediram para] chamar o cara de “brochão” e dizer que ele “só pega mulher feia”. Acabei falando: “Ó, dizem por aí que quando você está numa festa bebendo todas, seu limite de escolhas fica um pouco mais baixo. Eu não acredito nisso, não. É verdade? Não é possível!” [Risos] Gosto muito de um que fiz para uma criancinha que me imitava igualzinho, moleque de cinco anos. A festinha dele foi do Thiê! O maior barato! É muito maneiro poder fazer parte da vida de um monte de gente que você nem conhece marcando um dia superespecial e de repente ela vai lembrar daquilo para sempre.


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