RESENHA: Thulcandra – “Ascension Lost” (Relançamento 2021)


Thulcandra – “Ascension Lost”

Lançado originalmente em 30 de janeiro de 2015

Cold Art Industry / Mutilation Records – NAC. – 1h 


A mistura de talento e determinação fez de Steffen Kummerer um nome bem conhecido no mundo do metal. Um ano após fundar a altamente técnica banda de death metal progressivo Obscura (2002), o multi-instrumentista e produtor alemão mergulhou de cabeça no black metal à frente do Thulcandra. O nome, embora seja o mesmo de um corpo celeste do livro “Além do Planeta Silencioso” (1938), na verdade, foi retirado da demo do Darkthrone de 1989 – o próprio Kummerer já declarou em entrevista que nunca leu a obra de C.S. Lewis. 


A perda trágica do cofundador e amigo Jürgen Zintz, que tirou a própria vida em 2005, inevitavelmente colocou o Thulcandra em um hiato. Três anos mais tarde, Kummerer uniu forças com os irmãos Sebastian (guitarra) e Tobias Ludwig (baixo) e reavivou o projeto. Daí, foram mais dois até seu álbum de estreia, “Fallen Angel’s Dominion”, seguido de pertinho por “Under a Frozen Sun” em 2011. Quando “Ascension Lost” foi anunciado, a expectativa subiu aos céus, e o terceiro trabalho da banda justificou o tempo de espera.


Sem saber que era possível, Kummerer embrenhou-se ainda mais na escuridão da própria mente e saiu de lá com um repertório que tem a maior cara de best of. Entre os recursos à disposição, um dos mais utilizados e que não é lá muito ouvido em álbuns de black é herança do Obscura: solos de guitarra tão longos quanto virtuosos, bem-timbrados e executados a exemplo dos grandes mestres da masturbação nas seis cordas. Na instrumental “Interlude” ouve-se outra raridade nas vertentes mais extremas: o bom e velho violão.


Nas bases, a semelhança com o Dark Funeral de hoje em dia é tremenda: muitas frases em harmonia de duas guitarras, bateria bate-estaca que surpreende nas viradas e teclados cumprindo o mero papel de ambiência.  Também com os suecos dividem o capista Kristian “Necrolord” Wåhlin. Dono de estilo inconfundível e responsável por capas icônicas, como a de “In the Nightside Eclipse” (1994), do Emperor, e “Voodoo” (1998), do King Diamond, é ele quem assina o projeto gráfico de “Ascension Lost”. 


Em Sebastian temos um letrista fora do óbvio, com total inclinação poética. São dele versos como “In the shackles of ignorance / The golden lie of innocence” (de “Demigod Imprisoned”) e “In separation of the flock / Along those rivers red / I recognize with scorn / The poison in their veins”, que poderia estar em “Hamlet”, mas é uma estrofe de “Sorrow of the One”. Pena que sua estada, bem como a do irmão Tobias, chegou ao fim em 2017; ano em que ambos optaram por dedicar-se aos grupos Helfahrt e Nebelmythen em tempo integral. 


O arremate do disco, lançado no Brasil com o capricho que é regra da Cold Art Industry – em nova parceria com a Mutilation Records –, vem na forma de quatro bonus tracks extraídas da primeira demo do Thulcandra, ainda com Zintz na formação, como forma de homenagear o colega que saiu da vida para entrar na história. Por fim, separe um lugar na parede para o pôster que acompanha esta edição. É impossível que você não descubra a sua nova banda de black metal favorita após ouvir “Ascension Lost”.


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