ENTREVISTA: Celli exalta o rock de alto teor etílico de seu Crossplane


Com doze anos na ativa, o Crossplane já se tornou um nome de referência da nova geração do rock ‘n’ roll alemão. Nitidamente inspirados pelo Motörhead – inclusive no slogan que diz “Nós somos o Crossplane e tocamos rock ‘n’ roll!” –, Marcel “Celli” Mönnig (vocais, guitarra), Alexander Störmer (guitarra), Andrew Barrett (baixo) e Mark Bridgeman (bateria) estão entre os queridinhos de figuras como Zakk Wylde (Black Label Society), Tom Angelripper (Sodom) e Shagrath (Dimmu Borgir, Chrome Division), que já os levaram para a estrada e, aos poucos, vêm conquistando o público brasileiro; primeiro por meio da apresentação transmitida na Horror Expo, em São Paulo e, segundo, em razão do lançamento de seu primeiro álbum, “Class of Hellhound High” (2013), no Brasil pela Shinigami Records. Tudo isso foi abordado no bate-papo com Celli que você está prestes a ler. Boa leitura!


Fotos: Facebook.com/crossplane.band


Marcelo Vieira: A premissa de Crossplane é elementar: rock ‘n’ roll direto, sem frescuras e barulhento. Quais grupos você cresceu ouvindo e tomou como referência para moldar o som da banda?

Celli: O primeiro que realmente conheci foram os Beatles. Graças a eles comprei minha primeira guitarra e decidi seguir carreira na música. É nessa hora que as pessoas costumam dizer: “Ah, igualzinho ao Lemmy!” Esse é realmente o caso. Nós temos isso em comum. Metal e Hard Rock vieram até mim por meio de Accept, Deep Purple e Black Sabbath. Então descobri o Metallica e eles mudaram a minha vida.


MV: A associação com o Motörhead é instantânea e inevitável. O fato de vocês usarem um slogan muito parecido com o que o Motörhead usou ajuda. Como você lida com as comparações?

C: Muitos nos comparam ao Motörhead, sim. Nós tocamos um rock rápido e agitado, os vocais são roucos e a temática é relativamente direta. Mas nossos fãs são nossos melhores advogados: “Sim, vocês até que soam parecido com o Motörhead, mas têm identidade”. Eles gostam de nós porque somos o Crossplane e não porque soamos como o Motörhead.


MV: Apesar de ter sido lançado em 2013, “Class of Hellhound High” chegou ao Brasil apenas em 2021. Tendo em vista que este é o primeiro álbum da banda, como você o avalia hoje em dia? 

C: “Class of Hellhound High” é um álbum importante para o Crossplane. É um marco em nossa história. O álbum foi escrito em um momento que coincidiu com um novo começo e rompeu nossas amarras musicais. Esse era o álbum que queríamos fazer. As músicas dele são sempre uma parte importante dos shows; são atemporais para nós. Se você observar os fãs sempre que tocamos essas músicas, verá o quanto elas são importantes para eles.



MV: Shagrath (Dimmu Borgir, Chrome Division) participa de uma das músicas do álbum. Poderia falar um pouquinho a respeito disso?

C: Não tenho palavras para descrever como foi trabalhar com um cara como o Shagrath. Pedimos a ele para cantar conosco e ele felizmente disse que sim. A música [“I Will Be King”] ficou ótima e parece que foi escrita para ele. Mais tarde, nossos caminhos se cruzaram várias vezes. Entre outras coisas, fizemos uma turnê conjunta com o Chrome Division. Foi absolutamente incrível. Nós nos divertimos muito, festejamos muito e nos demos bem. 


MV: Você o prefere no Dimmu Borgir ou no Chrome Division?

C: Em ambas. São duas bandas completamente diferentes. Em uma ele encarna o Senhor das Trevas, que é um artista realmente brilhante, e na outra ele é o guitarrista de uma banda que é puro rock ‘n’ roll.



MV: Um comentário comum nas resenhas diz respeito à suposta falta de uma música que seria o “carro-chefe” do álbum, responsável por dar o tom de todo o repertório. Na sua opinião, qual das doze faixas poderia ocupar essa posição e por quê?

C: “Take It or Leave It”, “Rollin’” e “I Will Be King” são as três músicas que melhor refletem o som e a atitude do Crossplane. Sujas, agitadas e alto-astral. 


MV: As letras das músicas são um caso à parte; sempre divertidas, despreocupadas, motivadoras, parecem combinar perfeitamente com os instrumentais de alta octanagem. Alguma delas se originou de alguma história ou experiência real?

C: Muitas das letras são sobre experiências que tivemos. Algumas são sobre coisas e impressões que experimentamos como banda em turnê ou descrevem como é um dia típico na estrada. Às vezes são sobre amor e morte, mas também sobre festas e rock ‘n’ roll. Tudo junto e misturado. Assim como na vida real.


MV: Considerando os muitos estereótipos – alguns presentes na capa e na contracapa do álbum – tão frequentemente explorados em filmes ambientados no ensino médio, quem você era no ensino médio? 

C: [Risos.] Nunca fui aquele garoto que queria se tornar advogado ou engenheiro. Acho que os outros também não. Na escola eu ficava muito na minha. Não que eu não tivesse amigos, mas o ambiente em si não me empolgava tanto. Nós já tínhamos uma banda naquela época. Nos intervalos eu preferia ir para a sala de ensaio tocar violão. 

Vale observar que “Hellhounds” é como nos referimos aos nossos fãs. A família Crossplane. Todos nós nos sentamos na mesma sala de aula e fazemos aulas de rock ‘n’ roll.



MV: Como líder de uma banda relativamente nova que toca um som quase retrô, você sente que é mais difícil convencer o fã da velha guarda que só quer saber dos clássicos ou conquistar os jovens cuja referência de rock ‘n’ roll acaba sendo coisas como Imagine Dragons ou Twenty-One Pilots? Enfim, fala um pouco sobre o desafio de encontrar o público hoje em dia.

C: Pessoalmente, nunca vi convencer os mais velhos a ouvir bandas novas ou convencer os mais novos a ouvir as antigas como um problema. Pelo contrário, nosso público é bastante misto e gosta de uma boa festa. Os shows do Crossplane são sempre momentos de alegria e diversão. Queremos entreter as pessoas e isso é bem recebido. Mas concordo com você que rocks ligeiramente mais pesados têm tido pouca aceitação no momento. Mas logo logo os jovens voltam a curtir esse som. A música funciona assim. Ouvi recentemente que os Beatles não conseguiram um contrato de gravação porque o dono da gravadora lhes disse que guitarras estavam fora de moda. E isso em 1962! [Risos.]


MV: Pensando a longo prazo, existe um tipo específico de som que você gostaria de fazer e não vê como o Crossplane poderia fazê-lo?

C: O som do Crossplane é o ar que eu respiro, mas também gosto muito de stoner rock e, lógico, de metal. 


MV: Quais artistas/gêneros seus fãs ficariam surpresos em saber que você tem na sua playlist?

C: Acho que os Beatles mesmo, como mencionado anteriormente. Eles me acompanharam desde que comecei a ouvir música. Grandes músicos. Acho que alguns fãs ficariam surpresos, e outros, maravilhados. No metal, meus favoritos são Sepultura e Metallica.



MV: Antes da pandemia, havia especulações sobre uma possível turnê do Crossplane no Brasil. Houve negociações para tal? 

C: Teria rolado não fosse a pandemia. Em vez disso, gravamos em vídeo um show inteiro do Crossplane aqui na Alemanha, que foi transmitido como parte da Horror Expo em São Paulo. Estou muito confiante de que podemos compensar isso.


MV: Você acha que o fato de o álbum ter sido lançado aqui pode acelerar essa compensação?

C: Com certeza! E ficaríamos muito felizes. Acima de tudo, vimos o quão bem o clipe de “Rock ‘N’ Roll Will Never Die” se saiu no Brasil. Acho que todos nos divertiríamos muito juntos!


MV: A pandemia foi, sem dúvida, algo sem precedentes na história da humanidade. Depois de quase dois anos, você acredita que os seres humanos aprenderam alguma coisa? 

C: Gostaria que as pessoas tivessem aprendido algo e tomassem melhores resoluções para o tempo pós-covid. É terrível ver como algumas pessoas se tornaram ainda mais reclusas e egoístas na pandemia. Não vejo alguns amigos há quase dois anos. Todos nós deveríamos valorizar mais os encontros.



MV: Na impossibilidade de estarmos juntos em um show, qual cenário você acha mais adequado para ouvir Crossplane? 

C: Churrascão regado a cerveja e rock ‘n’ roll. Muita diversão e alegria. É assim que eu faria.


MV: Qual é o seu recado para os fãs do Brasil, em especial aqueles que vão comprar a edição brasileira de “Class of Hellhound High”?

C: Vocês são os roqueiros mais loucos do mundo! Adoraríamos ir ao Brasil e curtir pessoalmente com todos vocês! 

Caso compre o CD, faça um pequeno vídeo enquanto o ouve e compartilhe suas impressões. Agradeço desde já!



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