ENTREVISTA: Josh Smith fala sobre o novo álbum do Halestorm


Chama-se “Back from the Dead” o novo álbum do Halestorm. Escrito e gravado em meio à pandemia, o quinto trabalho do quarteto é também o seu mais direto e pesado. Nele, Joe Hottinger (guitarra), Josh Smith (baixo) e irmãos Lzzy (vocais e guitarra) e Arejay Hale (bateria) apostam não apenas numa sonoridade mais crua, como também em letras que são a mais perfeita crônica de tempos pandêmicos e seus desdobramentos. Conversei com Smith para tentar entender a profundidade real da coisa. O resultado você confere abaixo. Boa leitura!

Transcrição: Leonardo Bondioli
Fotos: Jimmy Fontaine / Divulgação 

Marcelo Vieira: “Back from the Dead” é o quinto álbum do Halestorm. Como você o define e classifica em relação aos anteriores?
Josh Smith: É o que chamo de “rock sem frescuras”. Nos álbuns anteriores, adotamos abordagens diferentes e tentamos coisas diferentes, mas desta vez quisemos ir direto ao ponto em todas as músicas, e o álbum inteiro, acho, consegue isso. Quem gostou do single “Back from the Dead” verá que o resto das músicas é muito parecido, e é o álbum mais pesado, mais rock ‘n’ roll, que poderíamos criar.

MV: O título “Back from the Dead” permite uma associação com o recente momento pandêmico. É isso mesmo?
JS: Na mosca! Falo em nome de todos da banda, e acho que a Lzzy seria a primeira a concordar que foram tempos de autodescoberta. E como uma banda que adora fazer turnês, ter isso tirado de nós realmente nos afetou, como afetou muitos. Passamos por uma espécie de luto e só depois nos sentimos prontos para voltar a tocar. Sob essa ótica, [o “Back from the Dead”] foi um renascimento, e parece que começamos tudo do zero de certa forma.

MV: Gravar este álbum de alguma forma ajudou você a manter a mente sã?
JS: Ajudou, mas não sem sacrifícios. Começamos a gravar e então tivemos que parar por causa do lockdown, e nesse ínterim não fizemos nada além de esperar e esperar. Então, quando finalmente nos reagrupamos, tivemos de descobrir qual caminho seguir e sobre o que falar. Queríamos dar um passo em frente e não mais ficar ruminando o que estava acontecendo e o que havia acontecido. Tivemos de sair daquele buraco, voltar às origens e ao rock da forma mais pura possível.


MV: Você acha que a pandemia promoveu um amadurecimento na escrita da banda?
JS: Sem dúvida. Acho que nos ensinou certa humildade. Todos nós tomamos uma abordagem mais direta desta vez. Em álbuns anteriores sempre levávamos muito tempo pensando cada detalhe e talvez pensássemos até demais. Dessa vez trabalhamos a serviço da música; se soasse bom o suficiente, partíamos para a próxima.

MV: Vocês experimentaram alguma coisa ou tentaram algo pela primeira vez neste álbum?
JS: Experimentamos a gravação à distância. Trabalhamos separadamente por um tempo; algo que nunca tínhamos feito antes, enviar e receber arquivos etc. Sei que não é algo novo e conheço muitas bandas que fazem isso há tempos, mas para nós sempre foi “vamos nos reunir e tocar”. Dessa vez foi mais “bem, aqui está o material, vamos trabalhar em cima dele” e cada um trabalhava de casa e depois juntávamos tudo.

MV: A faixa-título faz referência a “diabos que tentam me manter vivendo como um prisioneiro”. Isso seria um aceno para o período mais severo do lockdown?
JS: Exatamente. Está tudo aqui dentro [aponta para a cabeça]. Você também pode ser o seu pior inimigo. Então, [no lockdown] tivemos que exorcizar nossos próprios demônios, e ajudou termos um ao outro para fazer isso.



MV: Versos de músicas como “Strange Girl” e “I Come First” soam como um grande dedo do meio para aqueles que menosprezam a banda. Tipo, depois de todos esses anos, um Grammy, músicas nas paradas etc., ainda tem gente que odeia vocês de graça?
JS: Sempre haverá pessoas que não são fãs ou simplesmente não gostam de você. Mas quer saber? Se as pessoas estão investindo tempo em não gostar de você, então talvez isso seja um bom sinal! [Risos.] É algo com o qual sempre tivemos que lidar, e encaramos isso como um sinal de que há muitas pessoas que gostam de nós e muitas outras que nos odeiam. Faz parte do crescimento; é algo que sempre haverá e algo para o qual não damos muita bola. Cada um tem sua própria opinião, e a beleza da música é essa: se você não gosta do que a pessoa ao lado gosta gosta, você não está errado, é apenas o seu gosto pessoal. 
Quanto a “Strange Girl”, Lzzy que a escreveu, mas é mais sobre a luta pessoal de alguém dentro de uma família que não a aceita como ela é. Essa música é bem profunda, pesada e empoderadora.

MV: Tempos difíceis revelam o melhor e o pior dos seres humanos. Considerando tudo o que passamos, para você, a surpresa foi maior que a decepção, ou o contrário?
JS: Se você assiste ao noticiário, pode se decepcionar facilmente; portanto, acho que você tem que viver um dia de cada vez e se surpreender e ficar feliz com as pequenas coisas. Então, escolho sempre me surpreender e esperar que algum progresso seja feito. E por mais polarizadoras que as coisas possam ser, para continuarmos como humanidade e melhorarmos, sermos mais inteligentes e trabalharmos juntos, acho que sempre me permitir a surpresa, e não a decepção.

MV: Às vezes os veículos de mídia tratam o Halestorm como “a banda da Lzzy”. Isso te incomoda? Quer dizer, vocês não são meros hired guns dela, mas a imprensa, especialmente aqui no Brasil, tende a fazer as pessoas acreditarem que é por aí.
JS: Bem, ela é a voz e porta-voz da banda, e eu sou só o baixista. [Risos.]

MV: Qual é, cara?!!! [Risos.]
JS: [Risos.] Amo o que faço, é por isso que entrei para a banda em vez de ter me tornado um artista solo. Então, isso não me incomoda nem me machuca, pois a Lzzy é muito mais do que uma voz incrível. Poder estar ao lado dela e fazer parte dessa coisa que é maior do que a soma de suas partes é realmente especial.


MV: O Halestorm tocou três vezes no Brasil. O que você tem a dizer sobre o meu país?
JS: Meu Deus! Vocês respiram rock e metal e são os melhores fãs do mundo! A paixão de vocês pela música, em especial pelo rock, é a maior que já vi!

MV: E a música “The Steeple”, do álbum novo, parece expressar gratidão a esse tipo de fã, certo?
JS: Na mosca mais uma vez! Nossos fãs são o nosso povo!

MV: E qual é a sua mensagem para o seu “povo”?
JS: Além de “obrigado”? [Risos.] Não há palavras para expressar o que sinto. Vocês realmente são os melhores fãs do mundo. Estamos com saudade e esperamos que vocês gostem das novas músicas. Mal podemos esperar para tocar ao vivo para vocês novamente!


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