ENTREVISTA com Robb Weir (Tygers of Pan Tang)


 Poucos são os músicos que podem bater no peito e dizer alto e bom som que são detentores do status de lenda em seus nichos específicos. Robb Weir, sem dúvida, é um deles. Aos 64 anos, o guitarrista, fundador e “big boss” do Tygers of Pan Tang está entre os arquitetos da chamada New Wave of British Heavy Metal. Diferente de muitos de seus contemporâneos — incluindo alguns ex-colegas de banda —, o “Tyger Robb” não se acomoda em feitos de outrora e, na companhia de uma rapaziada do mais alto gabarito, segue produzindo em ritmo incessante. Seu mais recente lançamento é o EP “A New Heartbeat”, de 22 de abril, pela dinamarquesa Mighty Music. Tive 1h para conversar com Robb, que da Inglaterra respondeu a todas as perguntas sem rodeios e matou uma de minhas grandes curiosidades: de qual capa do Tygers será que ele mais gosta? Descubra abaixo. Boa leitura!


Transcrição: Leonardo Bondioli

Fotos: Facebook.com/tygersofpantangofficial


Marcelo Vieira: Eu gostaria de começar falando sobre o novo EP, “A New Heartbeat”. Considerando tudo o que aconteceu com a banda e com o mundo nos últimos dois anos, sinto que a faixa-título está relacionada a ambos. Tipo, o Tygers passou por mudanças na formação e o mundo está reabrindo lentamente após dois anos de pandemia. Ambos os corações voltando a bater, por assim dizer. Estou certo na minha análise?

Robb Weir: Completamente. Sangue novo na banda, dois novos corações batendo, o do guitarrista e o do baixista. E o título [“A New Heartbeat”] se apresentou como o mote perfeito para a próxima etapa, o caminho a seguir.


MV: A nova formação traz você, Jack [Meille, vocais], Craig [Ellis, bateria], o baixista Huw Holding e o guitarrista Francesco Marras. O que torna esses dois últimos, recém-chegados, os caras certos para a banda?

RW: Bem, eles foram cuidadosamente escolhidos. Fizemos testes online no ano passado para guitarrista, obviamente porque não podíamos nos encontrar, e cada um dos candidatos gravou duas faixas; pedimos para eles mesmos gravarem os vídeo e os enviamos para o nosso empresário. Vimos todos eles e o Francesco foi, de longe, o que melhor se saiu. E quando finalmente sentamos para compor com ele, tivemos a certeza de que ele era o cara. O Francesco é um guitarrista incrível, muito melhor do que eu; o que é bom, porque aí ele toca todas as partes mais difíceis! [Risos.] Não dou conta mais daqueles solos muito velozes porque não sou mais nenhum garoto. 

Já o Huw fez o teste junto com outros quarenta baixistas, e foi incrível. Grande sujeito, um cara muito legal. No fim das contas, não basta ser um grande guitarrista ou um grande baixista, mas também é preciso ser uma pessoa legal porque temos que viajar juntos, conviver por horas e horas na estrada; você precisa conseguir se dar bem com os outros. Esse é um fator preponderante na escolha também. Craig e eu estamos juntos há 21 anos, Jack está conosco há 16 ou 17, todos nos damos muito bem, nunca tivemos desentendimentos, brigas ou coisas do tipo. É lógico que temos que experimentar cair na estrada com nossos dois novos caras, mas sinto que não haverá problemas. Acho que vai dar super certo.


MV: A outra música nova do EP se chama “Red Mist”. Em inglês, quando se diz que “baixou a névoa vermelha” é porque alguém está com muita raiva de algo. O que te irritou a ponto de você escrever essa música?

RW: Raiva é uma coisa que todo mundo sente em algum momento. Dito isso, eu pensei no título, mas não escrevi a letra. Acho que foi o Craig ou o Jack porque são eles que escrevem as letras separadamente ou em conjunto. Sempre que tenho a ideia para uma música, dou um título a ela antes, e às vezes o título gera reflexão. Quando Craig e Jack ouvem a backing track e curtem o título sugerido, eles escrevem a letra com base no título.



MV: Quanto aos lados B do EP, vocês regravaram “Fireclown” e “Killers” do álbum “Wild Cat” (1980); duas músicas que raramente são tocadas ao vivo, embora sejam frequentemente solicitadas pelo público. O que motivou a escolha delas?

RW: Quando Francesco se juntou à banda no ano passado, perguntei a ele qual era sua faixa favorita do Tygers, e ele disse que “Killers” era uma delas, então é lógico que a regravamos. A princípio seria um EP de três faixas, mas aí eu perguntei para a chefia se poderíamos gravar mais uma, e eles disseram: “Lógico. O que você tem em mente?” Eu disse que sempre quis regravar “Fireclown”, que não tocávamos desde 1981. Usando tecnologia de ponta, acho que conseguimos trazê-la à vida novamente. E agora vamos inclui-la no set ao vivo como número de abertura!


MV: Agora, quais músicas não solicitadas com frequência você gostaria que fossem para que pudesse tocá-las nos shows? 

RW: Ótima pergunta. Oh, Deus! [Risos.] Eu gostaria muito de tocar “Life of Crime”, que foi gravada na época do “The Cage” (1982), mas acabou ficando de fora do álbum. “You Always See What You Want To See”, nossa música de abertura na turnê do “The Cage”, também; sempre foi uma ótima música para tocar ao vivo. 


MV: Para quem está olhando de fora, é você quem dá as cartas no Tygers, o “chefão” da banda. Como a hierarquia opera de fato?

RW: Todo mundo tem direito ao voto e faz valer esse direito. A banda é gerida como uma democracia: se precisamos votar em alguma coisa, como se devemos ou não incluir tal música no set, então obviamente a maioria dos votos vence. Se três pessoas votam pela inclusão e duas pessoas não, a música será incluída. 

Temos também um ótimo empresário que nos aconselha nas decisões de negócios e ajuda a manter um clima favorável. Temos um ótimo agente, Ludy Wetzl, que mora na Holanda e consegue ótimos shows para a gente. E temos uma equipe que cuida de nós e faz com que tudo funcione muito, muito bem.



MV: No passado, o Tygers tinha todo o necessário para bombar: boas músicas, integrantes bem-apessoados e belíssimas e hoje em dia icônicas capas de álbuns. O que, na sua opinião, impediu a banda de alcançar um patamar mais elevado?

RW: Acho que se nossa gravadora não tivesse nos obrigado a gravar músicas de outras pessoas em 1983, talvez tivéssemos feito tanto sucesso quanto o Def Leppard, porque na época gozávamos do mesmo tipo de popularidade que eles, o Iron Maiden e o Saxon. Fomos as primeiras quatro bandas da NWOBHM a serem comentadas na imprensa musical. Depois que gravamos o “The Cage”, a gravadora queria que gravássemos um álbum inteiramente escrito por compositores externos, e eu não quis fazer isso. 

Nosso histórico depunha a nosso favor: “Wild Cat” foi escrito por mim e pelo Rocky [baterista] e alcançou o número 13 das paradas, e o “Spellbound”, no ano seguinte, alcançou o número 18. A gravadora tinha noção de que poderíamos escrever boas músicas; músicas que as pessoas consumiam em grande número, porque os álbuns entravam nas paradas. Não entendemos porque, de repente, eles meteram essa. Daí, nós rompemos com a gravadora. Se foi maluquice nossa fazer isso ou não, tanto faz, mas foi o que decidimos.


MV: Se você pudesse mudar alguma coisa, qualquer coisa, na história da banda, o que seria? 

RW: Se eu pudesse mudar alguma coisa seria o pensamento dos executivos da gravadora naquela sala de reuniões em 1982, quando estávamos conversando sobre a gravação do nosso quinto álbum, que na verdade já havia sido escrito e gravado usando um pequeno gravador de quatro pistas. Fred [Purser], que substituiu John Sykes, o produziu. Ficamos imensamente orgulhosos, mas a gravadora nos deixou sem chão ao dizer que “sim, o álbum é muito bom, mas queremos que vocês gravem músicas do Mickey, da Minnie, do Pato Donald e do Pluto”. Nós dissemos que nunca, jamais, faríamos isso.


MV: Já que mencionei as capas dos álbuns do Tygers duas perguntas atrás, qual é a sua favorita? E tem alguma de que você não goste?

RW: Acho a do “A New Heartbeat” muito boa, pois diz tudo: tem o tigre ali, tem cores bem modernas, tem os batimentos cardíacos passando como em um monitor cardíaco. Quanto às antigas, pintadas pelo Rodney Matthews, fico com a do “Crazy Nights” (1981), com o tigre-dentes-de-sabre escalando a Torre do BT como o King Kong escalou o Empire State. 

A única capa de que não gosto é a do “Noises from the Cathouse” (2004), porque é a nossa única capa que não tem um tigre. 



MV: Quando vocês entram em estúdio para gravar um álbum, é uma preocupação dar aos fãs o que eles esperam ouvir de vocês?

RW: Tomamos cuidado para não nos afastamos muito do que as pessoas esperam, sim, que é um rock pesado de alta qualidade. Muitas bandas tentaram no passado gravar material diferente daquele pelo qual são realmente conhecidas, e não funcionou para elas. Não vou citar nomes, mas aposto que você já foi a uma loja de discos, comprou “aquele álbum” e, ao chegar em casa e ouvi-lo, pensou: “putz, isso não tem nada a ver com a banda”. 

Dito isso, quando você está ouvindo rádio e ouve o Bruce Dickinson cantar, você sabe que é o Iron Maiden. Se você nunca ouviu a música antes, mas reconhece a voz dele, sabe que é o Iron Maiden. Eu gosto de pensar que quando você ouve a voz do Jack, você sabe que é o Tygers. E as músicas que escrevemos para o próximo álbum, que esperamos que chegue às lojas em janeiro de 2023, estão sendo gravadas com isso em mente. 


MV: O que mais você pode adiantar sobre o próximo álbum?

RW: O álbum terá 10 faixas e haverá uma bonus track para o Japão e outra diferente os Estados Unidos. Ainda estamos decidindo se vamos gravar uma décima-terceira faixa também... quem sabe?!


MV: Você, enquanto artista, gostaria de ter mais espaço para inovar nos álbuns do Tygers? Talvez tentar coisas diferentes...

RW: Estamos sempre procurando incluir algo. Certamente haverá violões neste novo álbum em uma das faixas que fizemos chamada “She”. Talvez role um instrumento diferente, como gaita, não sei. Enfim, nunca diga nunca.

Por outro lado, você pode esperar por talkboxes. Isso é muito Tygers e eu amo meu talkbox, que inclusive já gravei em algumas faixas!



MV: Quais artistas ou bandas os seus fãs ficariam surpresos de saber que você ouve?

RW: Earth, Wind & Fire, Bob Marley and The Wailers, Larry Carlton. Sim, três nomes de estilos completamente diferentes, e todos igualmente tremendos.


MV: Você se lembra do exato momento em que decidiu que viveria de música?

RW: Lembro-me de voltar para casa, porque ainda morava com meus pais. Meu pai era médico e estava se aposentando, e eu voltei para casa com o LP do “Wild Cat” em mãos, imensamente orgulhoso, e disse: “Fui eu que fiz”. Eles obviamente sabiam que eu tinha uma banda e que estava gravando um álbum, mas nada como verem em primeira mão o álbum de estreia de seu filho. 

Nessa mesma conversa eles me falaram que iam se mudar para o outro lado do país, para a mesma cidade onde minha irmã morava, um lugar chamado Ilha de Wight, que é uma ilha localizada na costa sul da Inglaterra. E eu disse que tudo bem, mas que não iria com eles; que ficaria na Baía de Whitley porque era isso [aponta para o LP] que estava fazendo agora. Essa era a minha vida agora. Pouco tempo depois, fui morar sozinho, e foi aí que tudo começou.


MV: Qual foi o riff ou solo que te fez querer aprender a tocar guitarra?

RW: Provavelmente algum do Jimmy Page ou do Ritchie Blackmore, ou mesmo do Mick Box no Uriah Heep. Sem dúvida foi algum de um desses três guitarristas.


MV: Tem alguma música que toda vez que você ouve você pensa “putz, cara, como eu gostaria de ter escrito isso!”?

RW: Há algumas que eu gostaria de ter escrito porque seus compositores ficaram milionários! [Risos.] Acho que “Stairway to Heaven” [do Led Zeppelin], que é uma obra-prima absoluta, e “Child in Time” [do Deep Purple].


MV: Passando agora para músicas que você realmente escreveu, se tivesse que escolher uma, aquela que melhor representa você como músico e compositor, qual seria?

RW: Talvez “Suzie Smiled”, ou “Silver and Gold”, ou mesmo “Red Mist”, quem sabe? [Risos.]



MV: Há seis anos o Tygers fez seus primeiros quatro shows no Brasil. O que você lembra dessas datas e do país em si?

RW: Os fãs brasileiros são sem comparação; completamente loucos, todos eles, mas de uma forma incrível, muito calorosa e acolhedora. Mal podemos esperar para voltar!


MV: Algum recado para esses fãs?

RW: Se não fossem os fãs brasileiros, e de fato os fãs de todo o mundo, não haveria Tygers. Na verdade, não haveria nenhuma banda porque não haveria motivo para continuar. Se não fosse pela lealdade e pelo apoio contínuo dos nossos fãs, nada disso faria sentido. Então, tudo o que posso dizer é, a todos da nação Tygers no Brasil, muito obrigado, e realmente mal podemos esperar para voltar e tocar para vocês!



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