ENTREVISTA com Tadeu Bon Scott e Phil Seven (Suck This Punch)

 


Sete anos de atividades, dois álbuns — muito diferentes um do outro — lançados e zero receio para escancarar assuntos delicados e acalorar discussões necessárias em suas letras. A impressão que tive de que o Suck This Punch é o estilo de banda do qual a cena metal brasileira precisa quando da primeira vez que ouvi seu disco mais recente, “The Evil On All Of Us” (2019), foi confirmada no bate-papo com seus cabeças, o vocalista Tadeu Bon Scott e o guitarrista Phil Seven, que você está prestes a ler. Da inspiração por trás do nome ao que podemos esperar da dupla para os próximos meses do ano, não deixando de fora, obviamente, a análise do atual cenário político do Brasil. Boa leitura!


Fotos: Divulgação


Marcelo Vieira: A primeira vez que li o nome Suck This Punch lembrei do filme “Sucker Punch – Mundo Surreal” (2011). Sou a primeira pessoa a comentar isso? Qual a origem do nome da banda? 

Tadeu Bon Scott: [Risos.] Na verdade, não, outras pessoas já fizeram essa mesma pergunta. O nome Suck This Punch veio depois da gravação de “Blood Bastard”, a segunda música do nosso primeiro álbum, “Fire, Cold and Steel” (2015). Após ouvir a gravação, Marcos Nock, ex-integrante, soltou a seguinte frase: “Nossa, chupa esse soco!”. A frase soou tão legal que decidimos adotá-la como nome da banda. Porém, hoje acho que esse termo passou a ser mais um golpe de realidade para a sociedade do que apenas um soco sonoro na cara.


MV: No press-release do “The Evil On All Of Us”, o som da banda é definido como “uma releitura do classic rock pela perspectiva do peso e [da] agressividade do thrash metal”. Uma das influências está explícita no nome do vocalista Tadeu BON SCOTT, mas quais outras bandas além de AC/DC fazem parte do panorama musical de vocês?

Phil Seven: O Suck This Punch tem uma mistura muito boa, e eu particularmente adoro esse mix de influências. Trazendo para o lado pessoal, eu, como guitarrista, sou muito fã de Zakk Wylde — acho que deu pra notar —, além de Dimebag Darrell e Tony Iommi. Esses caras são de grande influência para mim, boa parte dos riffs que monto vem dessa linguagem. Mas é claro que não é só isso. Também gostamos muito de bandas mais modernas, como Slipknot e Korn, entre outras. O grunge é também uma grande influência. 


MV: A banda é de Limeira, interior de São Paulo. Uns anos atrás, Limeira entrou na rota dos shows internacionais, ocupando um lugar que antes pertencia ao Rio de Janeiro ou a outras capitais do sul e sudeste do Brasil. Como foi para vocês, de repente, se verem inserido num contexto até então inédito e exclusivo a cidades maiores? A banda, de alguma forma, se favoreceu disso?

TBS: Ver a cidade de Limeira inserida neste quadro do metal é maravilhoso. Bandas e artistas como Symphony X, Tim “Ripper” Owens, Grave Digger, U.D.O., Glenn Hughes e Destruction, entre muitos outros, que só poderíamos ver na capa dos álbuns ou em grandes festivais, pisando em sua cidade, é fantástico. 

Infelizmente, o Suck This Punch ainda não teve a oportunidade de abrir o show de nenhuma dessas lendas, porém estamos em constante evolução e buscando sempre nosso espaço na cena. Em um futuro próximo, quem sabe? Seria uma honra tremenda.


MV: Após a pandemia, a realidade aí conseguiu se manter a mesma? Em que aspectos a pandemia impactou na vida cultural e na cena rock e metal da cidade?

TBS: A pandemia teve um impacto tremendo. Como já dito, a cidade vinha com um quadro excelente de bandas internacionais passando por aqui, porém, com a pandemia, houve vários cancelamentos de shows, muitas casas e bares fecharam e muitos eventos culturais foram cancelados. Após a pandemia, começamos a ver novos lugares abrindo e as bandas internacionais voltando à cidade, o que é muito bom, e também temos os eventos culturais acontecendo novamente, o que dá força ao underground e às bandas novas. 



MV: O sucesso de uma banda underground é medido pelas conquistas, por mais singelas que sejam, frente às dificuldades impostas pelo ambiente em si. Existe um segredo para não desanimar diante das adversidades? Qual?

TBS: Hoje uma banda de som próprio quando nasce já é automaticamente julgada, principalmente se tiver que fazer som próprio no Brasil. Você é julgado a todo momento e, às vezes, coloca essas dúvidas dentro da própria banda, entre os integrantes. Isso é ruim, pois a banda tem que ser centrada em seus objetivos. Uma banda precisa trabalhar com total respeito e ciência de seu objetivo. Se a banda conseguir manter esse alicerce, nada consegue atingi-la. Se todos tratam como uma empresa e cuidam da sua empresa, é 100% de certeza que você vai conseguir bons resultados e as conquistas virão naturalmente. 

A ideia de sucesso nem sempre é inalcançável, como muitos pensam. Muitas vezes podemos pensar que precisamos fazer sucesso, mas na verdade nós já temos sucesso, só que não notamos por conta do trabalho duro. Um ponto de vista diferente: antigamente, para fazer sucesso, você teria que tocar em rádios, sair em revistas, ter seu clipe na televisão, mas e hoje em dia? Temos tudo isso na palma da nossa mão. Quer dizer então que não temos sucesso? Tudo depende de qual lado da moeda você quer ver. [Risos.]


MV: Falando especificamente sobre o “The Evil On All Of Us”, em quais quesitos ele representa uma evolução em relação ao “Fire, Cold and Steel”? Essas novidades e diferenças foram resultado do quê, especificamente? 

PS: Se falarmos em evolução, pode soar que o novo disco é melhor que o anterior, quando na realidade eles são apenas diferentes, com propostas e linguagens diferentes. 

Acredito que a grande mudança ocorreu quando eu entrei na banda. Tadeu me disse que queria modificar um pouco o som, deixá-lo mais pesado e agressivo, então me deu carta branca e eu pude trazer meu estilo, que é pautado em riffs e mudanças de afinação. 



MV: O título pressupõe que o mal seja inerente a todo ser humano. Vocês acreditam mesmo nisso? Poderiam dar algum exemplo para ilustrar essa crença? 

TBS: Todo ser humano já nasce com os dois lados, bom e ruim, como dizia o provérbio Cherokee. Porém, algumas pessoas deixam aflorar mais seu lado bom, mas isso não quer dizer que seu lado ruim não continua lá. Levando para o lado religioso, a ideia de você estar livre de pecados é incorreta, pois há o mal que fazemos sem notar: um xingamento, um desejo ruim ao próximo etc. Há também o mal que fazemos para atingir e prejudicar o próximo. A ideia do “mal sobre nós”' é tentar citar isso. Como na música “Machines”, o homem virando máquina, vazio por dentro e desprovido de sentimentos. “We All Live in a Hole”, a ideia de as pessoas acharem que têm mais problemas do que as outras, ao invés de darem as mãos e se ajudarem. “Alone” fala sobre o monstro da depressão, o qual atinge a mente das pessoas e as manipula dizendo que o problema não é o mundo em volta delas, e sim elas mesmas que são o problema do mundo. É sobre esse mal psicológico que tratamos no “The Evil On All Of Us”, o mal que está escancarado na sociedade, com panos quentes sendo colocados sobre essas feridas. A ideia aqui é mostrarmos esse quadro para a sociedade. 

 

MV: “Coward” é definida como “uma carta de suicídio sem êxito”. Foi inspirada numa história real ou a partir de alguma vivência que alguém da banda teve? O que vocês procuram transmitir enquanto mensagem por meio dessa música em especial? 

PS: Sim, “Coward” foi inspirada em momento específico da minha vida, um momento de queda, de depressão. Não tenho vergonha nenhuma em falar sobre isso, pois sei do tabu que ronda essa doença e, sim, temos que falar sobre isso.

Resumindo, a música narra um momento de baixa, onde se nota a ideia de um suicídio, porém, a personagem em questão não consegue cometê-lo e se acha duplamente covarde: por querer se matar e por não conseguir. Felizmente, a música termina com uma mensagem de esperança, assim como foi na minha vida. Consegui sair daquela situação e acredito que muitas pessoas também possam, desde que esse assunto não seja tabu, não seja motivo de piada, e que as pessoas não tenham medo e nem vergonha de expor o que sentem, para assim poderem ser ajudadas e curadas. 



MV: “Sons of War” fala sobre preconceito racial e étnico. Está no sangue de vocês utilizar sua música como instrumento social? Qual é a sua leitura do atual momento do Brasil, no qual racistas, homofóbicos etc. parecem receber aval do próprio presidente para agir como agem? 

TBS: Todos nós temos sangue indígena, não importa o que a pessoa pense. É um absurdo ainda termos pessoas que se achem “puro sangue”. Somos uma mistura de raças, crenças e cores e deveríamos nos orgulhar disso. Temos que respeitar essa ideia. 

Nunca pensei que chegaríamos ao ponto que chegamos, de colocar para governar o país uma pessoa sem respeito às origens. É ridículo falarmos de evolução se não nos respeitamos. Estamos regredindo cada vez mais e isso é uma coisa que o sistema busca atingir sempre. Se as pessoas não começarem a buscar cultura e conhecimento, mais quadros como esse do atual Brasil irão se repetir. 

A música, além de entretenimento, deve, sim, ser um instrumento social. Temos que atingir as massas levando conteúdo e música boa. Porém, a cada ano que passa, vejo mais jovens não se interessando por isso e querendo saber realmente o que o influencer dele preferido pensa, ao invés de ele mesmo pensar e ter a voz ativa, ser a revolução: a melhor arma contra o sistema.


MV: Vocês têm esperança de que a resposta do povo venha em outubro pelas urnas?

TBS: Se a galera não parar de usar o Google para se encher de fake news e começar a pensar, acho difícil nos salvarmos nas urnas. 

 

MV: O último som que ouvimos da banda foi o single “Armagedom” em novembro. Vocês poderiam falar um pouquinho sobre ele?

PS: “Armagedom” foi gravada para entrar em um tributo de comemoração aos 54 anos banda Made In Brazil. Fizemos um trabalho bem interessante quando trouxemos a ideia rítmica da música original com um novo riff de guitarra e outra afinação, deixando-a mais pesada e com a nossa cara.

 

MV: Caso o mundo não acabe, o que o segundo semestre de 2022 reserva para o Suck This Punch?

PS: O ano 2022 está difícil. Não tivemos muitos shows e as produções desaceleraram, mas isso não significa que estamos parados. No final de junho lançamos mais um single, dessa vez internacional. Participamos do tributo ao Motörhead produzido pela revista ucraniana Antichrist Magazine, e como somos uma banda brasileira, tivemos a honra de gravar “Going To Brazil”. Fizemos uma versão bem com a nossa cara, com muito peso, riffs de guitarra e um vocal matador. Essa versão foi produzida pelo meu irmão Etore Mota no estúdio Criatudo, e tivemos a participação do nosso grande amigo Marcelo Cameron, da banda Traíra de Juiz de Fora/MG, que gravou os baixos e backing vocals. 

Como o ano ainda não acabou, continuamos na luta. Estamos ainda fazendo shows da turnê do “The Evil On All Of Us”, pois somos uma banda de palco, uma banda de energia. Gostamos mesmo é de pegar a estrada e fazer shows, mas músicas novas já estão sendo produzidas. As ideias para o próximo álbum não param. O Suck This Punch nunca para. 

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Saiba mais sobre o Suck This Punch em:

www.facebook.com/Suckthispunch
www.instagram.com/suckthispunch 
www.youtube.com/suckthispunch 


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