ENTREVISTA: Músicos do Angra revelam qual a lição mais valiosa que aprenderam em suas carreiras

 


Há tempos não se via o chamado Angraverso tão em polvorosa. Em meio à mixagem do novo álbum, previsto para o primeiro semestre de 2023, e prestes a embarcar na segunda etapa da turnê em comemoração aos vinte anos de seu álbum “Rebirth” (2001), o Angra — representado pelo guitarrista e fundador Rafael Bittencourt, pelo baixista Felipe Andreoli, pelo vocalista Fabio Lione e pelo empresário Paulo Baron — concedeu uma entrevista coletiva da qual pude participar fazendo a pergunta abaixo. Confira:


Transcrição: Leonardo Bondioli


Marcelo Vieira: Nesses anos todos de carreira, não só considerando o Angra, mas tudo, qual foi a lição mais valiosa que cada um de vocês aprendeu?

Rafael Bittencourt: O grande aprendizado é o que a gente faz pros outros. A gente quer muito realizar coisas, [cumprir] expectativas sobre a nossa própria carreira, mas, no fim das contas, o que comanda mesmo é o público; o propósito é o público e a gente faz pra ele. Então, quando a gente aprende que é sobre as pessoas pra quem você direciona e não sobre você, você faz com mais facilidade e leveza. Essa é uma das coisas [mais valiosas] que aprendi: [criar] menos expectativas minhas e mais uma entrega pra quem vai receber isso [o trabalho]. Outra [lição valiosa] é não se levar tanto a sério, porque você mistura a imagem que eles [o público] têm de você com a imagem que você tem de si mesmo e pode acontecer uma confusão interna sobre essas duas. Acho que, se você se mantiver leal à sua intimidade, ao que você se reconhece [como sendo] e não se confundir com aquela figura idealizada que o público faz de você, quanto mais você conseguir ter o pé no chão, mais fortalecido estará.

Felipe Andreoli: Bom, eu aprendi diversas lições importantes ao longo dos quase vinte e dois anos de banda, e dá pra dizer que amadureci dentro da banda convivendo especialmente com o Rafa, dos que estão presentes aqui, nesses anos todos. Mas, pra mim, a principal lição é a seguinte: mais importante do que qualquer coisa que você faça, vem a música; o fã vai atrás da música, ele quer ver verdade na sua arte. Sendo assim, eu aprendi a cuidar e prezar muito por isso; muitas vezes em detrimento de outras coisas que podem parecer mais importantes em algum momento. Mas perto da música, que é o que une todo mundo, tanto músicos quanto fãs e toda a indústria, qualquer outra coisa é supérflua e passageira. Então você pode tomar uma decisão de marketing, de imagem, uma decisão estratégica na carreira, mas uma coisa que não é negociável, na minha opinião, é a música. Qualquer outra coisa é um adereço a essa música.

Fabio Lione: Não é [uma vida] simples. Às vezes você tem que viajar, tem que cuidar de muitas coisas ao mesmo tempo. Acho que o Rafa falou certo quando disse que você tem que fazer as coisas bem, do jeito legal, mas ao mesmo tempo não levar tudo tão a sério. Você precisa “brincar” um pouco com você, com o músico que você é, porque, se você está focado cem por cento na música, não é crítico o bastante. Você tem que ficar um pouco longe, como se você fosse outro cara que está chegando e escutando essa música que você escreveu pela primeira vez. Pensar “e se eu fosse esse cara, escutando essa música ou essa letra pela primeira vez, o que eu pensaria?” é muito importante.

Paulo Baron: Eu aprendi, ou estou aprendendo ainda todo dia, que um dos pontos importantes é nunca deixar de sonhar, e quando você se sentir estagnado, parado, destrua e volte a construir, porque o mais importante é se sentir vivo. Também acredito que sem que haja vontade de viver, de ser feliz, nada faria sentido, nenhum trabalho, nenhum dinheiro, nenhuma posição social ou bem material. Portanto, felicidade em primeiro lugar.


Num segundo momento da entrevista, a colega e colaboradora Bia Cardoso pôde perguntar a respeito do vindouro álbum de estúdio — conseguindo um furo de reportagem — e em que pé estão os relançamentos do catálogo da banda. Veja:


Bia Cardoso: Por qual selo o novo álbum do Angra vai ser lançado?

FA: Vai ser lançado pela mesma gravadora que lançou o “Ømni” (2018), que é a earMUSIC, gravadora alemã que é uma das maiores da Europa. Aqui no Brasil, ela é representada pela Shinigami Records. Estamos mantendo o mesmo esquema de distribuição, com exceção da Ásia, onde já há trinta e um anos o Angra trabalha com a JVC Victor, que hoje é Kenwood Victor, uma das grandes responsáveis por alavancar a carreira da banda lá no início dos anos 1990.


BC: E falando rapidinho sobre os relançamentos dos álbuns antigos, o que vocês podem contar pra gente sobre em que pé está isso?

RB: Olha, nós estamos nos preparando pra relançar os álbuns antigos periodicamente. Não sabemos [ainda] se vamos lançar um grande box com todos de uma vez ou se serão lançamentos periódicos. Isso está sendo consultado também junto aos parceiros de diferentes gravadoras, mas a ideia é que, a partir do ano que vem, a gente volte a lançar o catálogo. Lançamos o “Angels Cry” (1993) em vinil recentemente e foi o maior sucesso; foi a maior briga pra conseguir um, tanto que nem eu tenho, mas a ideia é que a gente faça isso agora de maneira periódica.


Assista à entrevista coletiva na íntegra no YouTube do FaceTV. 


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