Entrevista: Phil Collen comenta futura vinda do Def Leppard ao Brasil


Nem o mais esperançoso entre os esperançosos poderia imaginar que a The Stadium Tour, protagonizada por Def Leppard e Mötley Crüe, viria ao Brasil. 

Ainda que as vendas dos ingressos para a única data mantida, dia 7 de março, em São Paulo — os shows previstos para Curitiba e Porto Alegre foram cancelados —, estejam magras, há que se comemorar o que o fato representa; o país voltando a ser destino de grandes turnês internacionais. 

Às vésperas do desembarque em terras tupiniquins, pude conversar com Phil Collen, guitarrista do Def Leppard, que está animadíssimo para vir para cá. O papo ainda incidiu nos 40 anos do clássico “Pyromania” (1983) e em “Slang” (1996), o patinho feio da discografia da banda.

Boa leitura!


Transcrição: Bia Cardoso

Fotos: Divulgação


Como tem sido a experiência de voltar a fazer shows após a pandemia, e agora em turnê com o Mötley Crüe?

A maior razão de ser dessa banda é tocar ao vivo, então ficar dois anos parado foi meio estranho. Não sabíamos se voltaríamos a fazer shows nem se as pessoas teriam interesse em ir aos shows. Mas assim que caímos na estrada, foi incrível. Nossa última turnê pelos Estados Unidos [The Stadium Tour, 16 de junho de 2022 – 9 de setembro de 2022] foi provavelmente a melhor que já fizemos. Estamos tocando como nunca e cantando como nunca, e ter nossos amigos do Mötley Crüe conosco foi ótimo. Conheço Nikki [Sixx] e Tommy [Lee] desde 1983, então é como se fôssemos uma grande família, sabe?


A presente turnê visa à divulgação do álbum “Diamond Star Halos” (2022). Como você descreveria o som e a direção musical dele em relação aos álbuns anteriores do Def Leppard?

O que torna este álbum único é o fato de que não sabíamos que estávamos fazendo um álbum. Sempre começávamos a gravar um álbum tendo uma vaga ideia de como ele iria soar. Neste, gravamos uma ou duas músicas e, logo em seguida, veio a pandemia. Então Joe [Elliott] e eu começamos um intercâmbio de ideias, e todas as músicas soavam muito diferentes umas das outras; soavam como [músicas dos] artistas e bandas que nos fizeram querer viver de música: David Bowie das antigas, T.Rex e até mesmo Pink Floyd. Nós meio que curtimos isso, então ouvimos o que nosso coração dizia e seguimos em frente.


A pandemia afetou a produção do álbum ou refletiu de alguma forma nas letras das músicas?

Afetou, mas de uma maneira mais positiva. Gravei todos os meus vocais e as minhas guitarras em casa. Veja [Phil mostra seu closet], foi aqui que gravei meus vocais. Na época a gente não tinha muito o que fazer; eu no máximo ia ao parquinho com meu filho de 2 anos, que acabou de fazer 4, e voltava para casa inspirado para compor. Aí mandava uma mensagem para o Joe, que mora em Dublin — eu moro na Califórnia —, e íamos compondo dessa forma. Antes que percebêssemos, tínhamos finalizado cinco músicas e dado andamento a tantas outras. 

Sobre as letras, eu diria que nem tanto. [A letra de] “This Guitar”, por exemplo, foi escrita há 18 anos e fala sobre aquilo que você sente quando tem em mãos esse instrumento que nunca te abandona, sabe? Ela [a guitarra] está sempre lá, a tempo e a hora, como um amigo fiel. 



Este ano marca o 40º aniversário do álbum “Pyromania”. Como você se sente sobre o fato de que ele ainda é muito amado e influente na música?

Eu me lembro de quando o estávamos gravando. Eu tinha acabado de entrar na banda, e nem sabia que havia entrado pra valer; só estava ajudando meus amigos. Joe havia me pedido para tocar alguns solos no álbum e eu disse que sim. Daí, chegando ao estúdio, encontrei [o produtor] Mutt Lange, e ele disse: “Então, você vai fazer os backing vocals aqui, e tocar guitarra ali e acolá”. O álbum saiu e fez um enorme sucesso. Ninguém poderia imaginar que isso aconteceria. Foi demais a MTV ter nos promovido como fez. Quarenta anos... passou voando! Foi a melhor época da nossa carreira. Pense bem: um dia você é um garoto tocando em um clube vazio ou meio vazio e, de repente, está fazendo shows em ginásios lotados e o seu clipe está passando na TV o tempo todo. Em razão disso, tenho muito amor por esse álbum, obviamente. 


O que você acha que torna “Pyromania” tão especial e duradouro em comparação com outros álbuns lançados na época?

Tenho que dar todo o crédito ao Mutt Lange, porque ele disse: “Não queremos soar igual a todo mundo”. E foi ele que arquitetou esse híbrido entre pop e rock. Muitas bandas faziam isso, de se apegar muito a doces melodias. Nós não! A gente meio que gritava, sabe? Basta ouvir [a música] “Rock of Ages”. Queríamos combinar [gritaria] com boas melodias, coisa que ninguém tinha feito até então. Nos sentíamos como os Sex Pistols, mas cantando afinado e dando ênfase aos backing vocals e a solos de guitarra que significavam alguma coisa, sabe? 

As primeiras [músicas] que gravei foram “Stagefright” e “Photograph”, e me perguntei: “O que a melodia e o vocal estão fazendo?”. A ideia era melhorar ainda mais isso. Daí, quando fizemos o “Hysteria” (1987), ele [Mutt Lange] disse: “Não podemos fazer um ‘Pyromania’ parte dois porque todo mundo está fazendo isso agora”. Então, mais uma vez, tivemos de correr atrás de influências diferentes.



Existe alguma música em particular do álbum “Pyromania” que você acha que teve um impacto duradouro na história do Def Leppard?

Algumas. Tipo, eu adoro quando tocamos “Billy’s Got A Gun”, que não é uma música muito conhecida, e “Die Hard The Hunter”. Algumas dessas músicas meio que ficaram em segundo plano, mas, quando fizemos a residência em Las Vegas (2019), tocamos todas elas. E foi incrível, bem como foi a reação das pessoas. Então eu acho que é isso. 

É mais difícil fazer isso em uma turnê, porque nós só temos noventa minutos [no palco] e ainda estamos promovendo o novo álbum, e certas músicas você tem que tocar, como “Hysteria”, “Pour Some Sugar On Me”, “Photograph”, “Love Bites”, então as possibilidades são mais limitadas. Em Vegas, você podendo tocar por duas horas e meia, dá tranquilamente.


O que os fãs podem esperar em relação às comemorações dos 40 anos do “Pyromania”?

Todos esses aniversários meio que pegam a gente de surpresa. Antes que a gente se dê conta, alguém nos diz: “Olha, este ano o disco tal completa tantos anos de lançamento”, e nós respondemos: “É mesmo? Olha só...”. Eu diria que comemoramos “Pyromania” sempre que tocamos “Foolin’”, “Photograph” ou “Rock of Ages” ao vivo, o que fazemos em todos os shows. É o que pode ser feito dentro do contexto de uma turnê; a menos que seja uma turnê na qual toquemos apenas um álbum na íntegra, mas não é esse o presente caso. 



A primeira vez do Def Leppard no Brasil foi em 1997. O que você se lembra daqueles shows promovendo o álbum “Slang”?

Foi uma época estranha para nós, porque os shows ficavam às moscas, e eu amo o “Slang”, mas ele meio que passou despercebido. Foi um álbum muito diferente para nós. Steve [Clark, guitarrista] havia morrido durante [as gravações de] “Adrenalize” (1992), então foi um período muito estranho durante o qual ficamos imaginando o que fazer depois disso...

Tentamos encontrar um novo caminho. Então, tudo o que fizemos [no “Slang”] foi meio experimental e reflete um estado de espírito muito específico. Passado esse ciclo, tudo voltou para onde deveria estar. Mas foi ótimo; eu não mudaria de opinião por nada nesse mundo. Para mim, o “Slang” foi um ótimo álbum e rendeu uma ótima turnê que poucas pessoas conferiram de perto.


O que você acha que foi o motivo da recepção controversa do álbum “Slang” por parte dos fãs e da crítica?

É impossível agradar a gregos e troianos. Acima de tudo, você tem que agradar a si mesmo. E isso é algo que sempre priorizamos. Nunca mudamos uma coisa ou outra para atender às expectativas. No “Slang”, não perdemos muito tempo compondo as músicas ou trabalhando as harmonias. Gravamos tudo ao vivo em estúdio, coisa que nunca havíamos feito. Tudo em “Pyromania”, “Hysteria” e “Adrenalize” foi feito separadamente. Pensamos que as pessoas iriam gostar disso, mas o tiro saiu pela culatra. 

Reitero: amo esse álbum. Acho que ele simboliza uma fase muito artisticamente distinta da nossa carreira. Algumas das minhas músicas favoritas estão nesse álbum. “Pearl of Euphoria” eu acho incrível. Tivemos uma seção de cordas e tal. “Slang” foi um disco muito à frente do seu tempo, e muito legal também. 


Você acha que a rejeição do álbum “Slang” pela mídia e pelos fãs teve algum impacto na carreira da banda ou em sua abordagem à música nos anos seguintes?

Acho que nossa reação imediata foi ficarmos p#tos com as críticas que recebemos. O disco vendeu pouco, não despertou lá muito interesse. Mas daí surtiu o efeito contrário para nós. Você assistiu à final da Copa do Mundo ano passado? A Argentina estava dominando o jogo quando, de repente, o [Kylian] Mbappé sofreu um pênalti e então marcou outro gol e mudou a cara do jogo. Sei que a França não venceu o jogo, mas foi tomada por um espírito de luta e foi pra cima da Argentina, tomou conta dentro de campo. Na vida você tem que ser como aquele time francês. Não pode deixar o placar te afetar. Você precisa se levantar e dar o máximo de si. Naquela época, “Slang” fez isto conosco: nos tornou mais ferozes, perigosos e obstinados. 



A banda levaria vinte anos para voltar ao Brasil, quando tocou no Rock in Rio. A má impressão da primeira vinda foi desfeita?

Discordo que tenha ficado uma má impressão. Acho que foi apenas sintomático, sabe? Mas calhou de nenhum promoter nos contratar [pelos próximos vinte anos] com base nisso. Dito isso, nós amamos o Brasil! Já estou ansioso para voltar a esse país incrível!


Muita gente jura de pés juntos que o Def Leppard era atração confirmada no primeiro Rock in Rio, em 1985. É verdade que a banda viria ao Brasil naquela ocasião e não veio em razão do acidente ocorrido com o baterista Rick Allen?

É mentira. Estávamos em estúdio gravando o álbum “Hysteria”. Ficamos em estúdio de 1984 a 1986, então não havia possibilidade de irmos fazer o show.



Há algo especial que você e a banda planejam fazer em termos de performance ou repertório para os shows no Brasil?

Nosso setlist muda com frequência. Não muito porque, como eu disse, há músicas que você precisa tocar. E sabemos que algumas pessoas aproveitam as músicas novas para ir comprar uma cerveja ou algo assim. Então, mudanças frequentes se fazem necessárias. O importante é manter o show sempre alto-astral. Temos lasers, telões e tudo mais. A cada ano nosso palco fica maior e melhor, mas a nossa performance se supera também. Sinto que estou tocando melhor do que nunca. Joe está cantando melhor do que nunca. As pessoas percebem e comentam isso.


E quando a atual turnê terminar, o que podemos esperar de você, musicalmente falando?

Eu componho o tempo todo, né? Seja sozinho, seja com o Joe. Temos uma porção de músicas que ficaram de fora do álbum [“Diamond Star Halos”]; ou seja, é meio caminho andado para um próximo. Também tenho outros projetos em andamento sobre os quais falarei na hora certa.


Você tem alguma mensagem ou recado para os fãs brasileiros que estão ansiosos para ver a banda ao vivo?

Com certeza! Estamos ansiosos por esses shows! Mal podemos esperar para chegar aí! Faz anos desde a última vez que estive no Brasil, então sim, mal vejo a hora de ser arrebatado pela paixão dos fãs brasileiros e por outras coisas típicas do seu país!



 

SERVIÇO: DEF LEPPARD E MÖTLEY CRÜE EM SÃO PAULO

Data: 7 de março de 2023 (terça-feira)

Local: Allianz Parque (Av. Francisco Matarazzo, 1705 – Água Branca, São Paulo – SP) 

Abertura dos portões: 16h

Horário do show de abertura (Edu Falaschi): 18h15

Horário do Mötley Crüe: 19h30

Horário do Def Leppard: 21h30

Ingressos a partir de R$ 180,00

Classificação etária: 16 anos. Menores de 10 a 15 anos, apenas acompanhados dos pais ou responsáveis legais.

Canal de vendas oficial: www.eventim.com.br


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