ENTREVISTA: Kael Freire apresenta o dinamismo pesado do Godhound

 


Terreno cada vez mais fértil para o metal em todas as suas vertentes, o Nordeste do Brasil segue produzindo bandas cujo diferencial é confundir os afeitos por rótulos e classificações. Embora a existência date de mais de uma década, somente em agosto passado o Godhound lançou seu álbum de estreia, “Refueled”, exatamente com essa premissa; ou, como o vocalista e baixista Kael Freire define no bate-papo a seguir: “rock and roll com ‘pitadas’ de metal [...] várias ramificações da música pesada”. Ele também conta o que inspira as composições do grupo — completado pelos guitarristas Vitor Assmann e Victor Freire e pelo batera Lázaro Fabrício —, como foi contar com um convidado pra lá de especial nas gravações e antecipa o que está no horizonte deste que é um dos nomes mais promissores da cena nacional no momento. Confira!


Fotos: Som do Darma / Divulgação


Como surgiu a ideia de formar o Godhound? 

Kael Freire: A banda surgiu em Natal (RN) quando ainda estávamos na faculdade, mais precisamente com o meu irmão, Victor Freire, e Vitor Assmann, que estagiavam no mesmo laboratório e tiveram a ideia de montar uma banda de rock. Foi quando meu irmão me chamou e o Assmann chamou o baterista Alessandro Natalini e o vocalista Hilton Trindade. Começamos a ensaiar no final de 2010.


Como você descreveria o som do Godhound para quem nunca ouviu antes? 

KF: Costumamos descrever nosso som como rock and roll com “pitadas” de metal, o que pega várias ramificações da música pesada, mas com a proposta de um som cru e direto. 


Quais são as principais influências musicais da banda? 

KF: Cada integrante da banda tem seu próprio background, indo do rock clássico ao heavy metal, e isso contribui para a diversificação do nosso som. A principal influência certamente é o Motörhead, mas as inspirações são sempre muito dinâmicas e variam com o que a gente está curtindo no momento. Volbeat, por exemplo, tem sido uma baita inspiração.


Vamos falar sobre o álbum “Refueled”. Como e quando se deu o processo de composição dessas músicas? 

KF: Houve um período em que demos uma pausa nas atividades, que foi alguns meses após o lançamento do segundo EP, quando a maioria terminou a faculdade e estava indo batalhar na vida. Neste período, a gente foi trabalhando devagar em algumas músicas como “Gravestone” e “Jack the Lumber”, desenvolvendo alguns riffs, e foi quando eu comecei a estudar produção musical, gravação e mixagem. Hoje, tenho um home studio e, graças a isso, pudemos pela primeira vez fazer um trabalho de pré-produção e maturação das composições.


Reparei que nas letras a banda mistura bem: desde mensagens otimistas e despreocupadas (“Diesel Burner”, “Rockin’ Spirit”) a coisas mais aterrorizantes e irreais (“Jack the Lumber”, “Deathmask Trucker”). De onde vem a inspiração para tantas abordagens diferentes? 

KF: Nos inspiramos em notícias, “causos” do dia-a-dia, mensagens que gostaríamos de ouvir e também em outras obras de arte. “Deathmask Trucker”, por exemplo, foi inspirada em uma notícia bizarra de um caminhoneiro na Bahia que estava usando uma máscara e tocando o terror na estrada, fazendo ultrapassagens arriscadas. Na época que desenvolvi o riff eu estava lendo muitos quadrinhos, e tinha um chamado Road Rage que permitiu link imediato com a notícia do caminhoneiro, então a letra surgiu da mistura de uma notícia real com uma obra fictícia. 


A letra que mais chamou a minha atenção foi a de “Open Letter”, que é uma crítica ao pensamento polarizado e a como as pessoas agem no ambiente digital; o bom e velho “na internet todo mundo é faixa-preta”. Queria que você falasse especificamente sobre o que motivou essa letra e se algum de vocês já se viu envolvido em alguma discussão online ou coisa do tipo. 

KF: A ideia da letra partiu do meu irmão, que numa bela manhã ficou muito p#to com o que estava vendo no noticiário. Era uma notícia sobre polarização política, bancada evangélica, essas coisas... Então eu e ele nos reunimos no estúdio para escrever sobre esses temas que estavam deixando a gente p#to e, em algum momento, começamos a nos lembrar dos shows de um comediante chamado George Carlin, que fazia esse humor mais ácido, e acabamos por fazer referência a ele no refrão da música. Quanto a polêmicas e discussões online, corro léguas!



Como foi poder contar com Jimmy London na faixa “Deathmask Trucker”? Me conta desde o convite até como a participação tomou forma. 

KF: Quando estávamos no processo de pré-produção, tivemos a ideia de convidar alguém para cantar em alguma das nossas músicas, e meu irmão falou em tom de zoação: “chama o Jimmy London”. Só que o nosso baterista já tinha produzido shows aqui pela cidade, levou o comentário a sério e mandou uma mensagem para o Jimmy. Ele pediu para a gente mandar a música, que curtiu e topou gravar. Foi tudo feito a distância; mandei as faixas separadas e ele mandou a faixa vocal da música toda. Na hora da mixagem, optei por fazer o dueto com o Jimmy e foi muito bom poder contar com uma participação dessa, pois elevou o nível da música.


Como tem sido a recepção do público e da crítica ao “Refueled”? Teve algum feedback que chamou mais a sua atenção por algum motivo especial? 

KF: Até agora a recepção tem sido positiva, sempre com muitos elogios à arte conceitual da capa feita pelo Wildner Lima e à melhoria na qualidade quando comparado aos primeiros EPs. O review que mais me chamou a atenção até agora foi o escrito pelo crítico Diego Pinheiro; além de ele dissecar o álbum, a crítica dele me deu a oportunidade de ver a pluralidade de sentimentos que uma obra pode despertar numa pessoa. 


Como é a cena de rock/metal no Brasil atualmente, na sua opinião? É um ambiente mais amistoso ou mais competitivo e por quê? 

KF: Na minha opinião, a cena underground hoje está caminhando para se tornar um nicho, e a única maneira que vejo de isso não acontecer é por meio da união das bandas, principalmente das autorais. Seja com a criação de um festival bem estruturado, seja com a criação de uma associação de bandas, precisamos somar.


Quais são os maiores desafios enfrentados pela banda no cenário musical brasileiro? 

KF: O desafio do momento é apresentar o nosso primeiro álbum para o público, o que temos feito por meio de produção de conteúdo para a internet e com o planejamento para os shows futuros. Ouvir uma banda ao vivo é sempre a melhor forma de sentir a energia da música.


Para encerrar, quais são os planos futuros da banda? 

KF:  Antes de responder, gostaria de agradecer o espaço concedido para falar da Godhound. São canais como esse que fortalecem a nossa cena. Sobre os planos futuros, é basicamente continuar a divulgação do nosso trabalho por meio de shows. Já estamos planejando uma turnê pelo nordeste, e o processo criativo é contínuo; quem sabe já conseguimos entregar mais uma música inédita ainda esse ano?!



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