ENTREVISTA: De volta do inferno, Siegrid Ingrid antecipa ano repleto de novidades



“Ninguém e nada mais segurará o Siegrid Ingrid”, diz o press-release que anuncia o lançamento de “Back from Hell”, primeiro álbum dos decanos do heavy metal nacional em 23 anos. A banda, atualmente composta por M. Punk (vocal), L. Morales “Borô” (guitarra), André Gubber (guitarra), Luiz Berenguer (baixo) e Herbert Loureiro (bateria) nunca esteve tão sedenta, e seu novo trabalho é a prova cabal disso: à sonoridade death/thrash/hardcore/ somam-se letras que são tanto um dedo na cara quanto um dedo do meio.

Mas as novidades não param por aí: 2023 será também o ano em que o Siegrid Ingrid subirá ao palco do festival Setembro Negro, um dos mais importantes dedicados às vertentes mais pesadas do Metal no país. 

Conversei com Punk e Gubber a respeito disso e muito mais. Confira!


Fotos: Luiz Berenguer / Divulgação


Novidade é o que não falta no momento para o Siegrid Ingrid. Tem disco novo na área, relançamento de disco antigo, show em festival. Vamos falar sobre tudo isso, começando pelo “Back from Hell”. Esse título permite algumas interpretações, mas eu gostaria de saber de vocês qual o real significado – se é que tem um (rs)

André Gubber: Sim, o significado é literalmente o da tradução, “De volta do Inferno”. Podemos afirmar que o Siegrid Ingrid ficou inativo por todos esses anos devido à luta do Punk contra o uso abusivo de álcool e drogas, mas quando ele nos procurou dizendo que estava limpo e pronto, nos reunimos e, naquele momento, decidimos que estávamos preparados para esse recomeço. Então, em 2019, retomamos os ensaios e, em abril de 2020, lançamos o single “Damned Conviction”, mas infelizmente veio a pandemia, daí começamos a compor e pensar em lançar um novo álbum. Porém, as músicas não tratam isoladamente das questões relacionadas às experiências difíceis vividas pelo Punk, porque nós também tivemos que enfrentar nossos próprios demônios e a própria humanidade está cada vez mais se mostrando traiçoeira, destruidora, egoísta e violenta com si mesma e com o planeta. Esse é o Inferno a que nos referimos, e ele não tem nenhuma relação com questões de religiosidade.

 

Como foi o processo de composição e gravação do álbum e como ele se diferencia de trabalhos anteriores da banda?

AG: Como consequência da pandemia, por vários momentos tivemos que ficar sem ensaiar presencialmente. Por esse motivo, o processo de composição foi totalmente diferente dos outros álbuns. Compomos partes do material em estúdio e outras à distância utilizando as novas tecnologias para nos ajudar, mas acredito que daqui pra frente voltaremos a trabalhar com mais proximidade. Já o processo de gravação foi feito em momentos diferentes; algumas captações em nossos home studios, outros no Dual Noise, além de também contar com o estúdio Sputnik, do guitarrista Michel Oliveira, que ficou responsável pela produção do álbum. O mais importante, é que a concepção musical e lírica foi definida em conjunto e tivemos bastante coesão nesse processo.

 

Como vocês descreveriam a evolução da música do Siegrid Ingrid desde o “Pissed Off” (1995), que está sendo relançado, até o “Back from Hell”?

AG: Parte do repertório do “Pissed Off” havia sido composta por ex-integrantes. A banda tinha passado por uma reestruturação importante e o Punk era o único membro remanescente da formação original, então trabalhamos mudando os arranjos e criando novas características para as músicas. No “The Corpse Falls” (1999) também houve uma mudança no line-up. No entanto, naquele momento já éramos músicos mais experientes e as composições definiram um novo direcionamento e uma identidade para o som da banda; além de ser um álbum que contou com uma melhor produção. Já no “Back from Hell”, o som mais brutal, calcado no Death Metal, está em evidência. É um álbum ainda mais brutal que seu antecessor, porém, mais elaborado e com mais detalhes de produção. Esse trabalho também conta com a estreia do baterista Herbert Loureiro, que teve um papel primordial em todo processo de composição.

 

Qual é a mensagem que vocês querem transmitir com o “Back from Hell”? Tem alguma música nele em especial que vocês gostariam de explicar o significado ou detalhar a inspiração por trás?

AG: Acho que “Back from Hell” está mais relacionado a um conceito do que a uma mensagem. Em várias músicas tratamos de situações que não gostaríamos de reviver, mas ao mesmo tempo, o “agora” é tão intenso e insano que mostra a fragilidade das relações humanas em sociedade e do indivíduo consigo mesmo. Acreditamos que muitas mensagens serão absorvidas com mais clareza porque o álbum terá quatro músicas em português, o que também é uma novidade. A música “Nojo”, por exemplo, trata da total descrença na raça humana. A inspiração veio principalmente do pensamento utópico de vários filósofos, pensadores e “formadores de opinião” da atualidade que tentaram romantizar o caos dizendo que a pandemia transformaria a humanidade em uma sociedade melhor e mais fraterna, o que com certeza jamais acontecerá.

 

Como vocês se sentem em relação a se apresentarem no festival Setembro Negro? Expectativa a mil? Planejam fazer algo especial durante a apresentação?

M. Punk: O Setembro Negro é um dos principais festivais de Metal do nosso país! Nos sentimos lisonjeados, ansiosos e com “sangue nos olhos” em poder participar! A expectativa está em um milhão. Estamos prontos para subir no palco e quebrar tudo! Nossa apresentação será brutal como sempre! Aguardem...

 


Pensando em shows e turnês passadas, quais são suas lembranças mais marcantes? Ainda nesse aspecto, vocês têm algum sonho?

MP: Tivemos muitos momentos marcantes, cada show com uma história diferente! Mas sem dúvida a tour com o Exodus sempre será inesquecível. Sim, temos objetivos e metas de tocar em grandes festivais. Em relação a abrir ou dividir o palco com outras bandas, sempre estaremos dispostos!

 

A descoberta de artistas e o consumo de música atualmente é praticamente ditado pelas plataformas digitais. Vocês acham que as plataformas digitais democratizaram o acesso à música para novos artistas e bandas? Quais são as vantagens e desvantagens de lançar música nessas plataformas em comparação com o lançamento de álbuns físicos?

AG: Com certeza as plataformas digitais vieram para ficar e democratizaram o acesso a vários artistas e bandas. A vantagem em relação ao material físico é o custo e a velocidade para lançar algo e disponibilizar ao seu público. A desvantagem é que com tanto conteúdo à disposição, fica muito difícil para o artista fazer o público prestar atenção naquele lançamento, então acho que esse é o maior desafio: conseguir se manter conectado com seu público a ponto de ele acompanhar seus lançamentos e todas as demais informações e atualizações relacionadas à banda.


Como vocês descreveriam a cena de heavy metal brasileira atualmente? Como veem o papel do heavy metal brasileiro na cena global de heavy metal? Acham que as bandas brasileiras de heavy metal podem se destacar ainda mais na cena global? O que falta para que isso aconteça?

AG: Acho que as bandas e músicos brasileiros estão vivendo um momento bem interessante no cenário internacional, assinando com grandes gravadoras, participando de importantes festivais na Europa, enfim, grandes conquistas. Na minha percepção, o músico que quer ter uma carreira internacional tem que se preparar para isso e todos os músicos e bandas que vejo atualmente em ascensão parecem ter tido essa preocupação. E isso vai além de apenas ter uma banda; falar outro idioma e ter bons contatos ajudam e muito, mas é um caminho bem difícil e os músicos precisam ter uma dedicação quase que exclusiva à sua carreira para poder alcançar esses níveis de profissionalismo, o que sabemos que no Brasil é bem difícil, por diversos motivos.

 

Quais são as maiores dificuldades que as bandas de heavy metal underground brasileiras enfrentam atualmente? Como vocês lidam especificamente com esses desafios? Falem um pouco sobre como é difícil viver de heavy metal no Brasil sem ter uma major ou um grande investidor por trás e como é necessário — e seria ideal — contar com o apoio de todos em todas as esferas (público, imprensa etc.)

MP: Bom, as dificuldades sempre existiram e continuam existindo: falta de espaços, falta de investimento, falta de produtores dispostos a trabalhar no underground... Não lidamos! Hoje trabalhamos como uma empresa, sempre analisamos as propostas e viabilizamos se estamos de acordo ou não. Não existe viver de heavy metal no Brasil, a não ser que você seja uma banda de médio ou grande porte ou tenha uma grana para se bancar. Mas isso não é só com o heavy metal; tem a ver com toda a cena underground

 

O que vocês podem antecipar em relação ao Siegrid Ingrid para 2023?

MP: Estamos nos preparando para lançar um álbum impactante e fazer muitas apresentações; estamos sedentos por isso! Sabemos que temos o grande desafio de reconquistar o nosso antigo público e conquistar novos fãs e a atenção das novas gerações, mas vamos trabalhar incessantemente para retomarmos o nosso lugar no underground.



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