ENTREVISTA: Quinze minutos com Chris Boltendahl, do Grave Digger

 


Falta pouco para o Grave Digger voltar ao Brasil. Escalada para a primeira edição brasileira do festival Summer Breeze, que acontece nos dias 29 e 30 de abril em São Paulo (SP), a veterana banda alemã está de álbum novo — o muito bom “Symbol of Eternity” (2022), gravado de maneira remota durante a pandemia —, mas, segundo seu vocalista e principal mente criativa, Chris Boltendahl, irá focar nos clássicos, para agradar aos seus leais fãs no país. 


De sua casa na Alemanha, Boltendahl ainda falou sobre aquele que considera o álbum mais emblemático do Grave Digger e surpreendeu ao listar não um, mas cinco outros que considera subestimados pelo público. Ele também revela o segredo da longevidade da banda e estabelece paralelos entre a cena metal de outrora e a de hoje em dia.


Boa leitura!


Transcrição: João Marcello Calil

Fotos: facebook.com/gravediggerofficial


Como você se sente em relação a tocar no Brasil novamente? O que espera dessa experiência?

Adoro tocar no Brasil. E acho que vai ser a primeira vez que tocamos aí em um grande festival, como o Summer Breeze. Nossos amigos do Accept estarão conosco, então é só sucesso.


O Grave Digger uma base de fãs leal no Brasil. O que você acha que é o segredo dessa conexão duradoura com os fãs brasileiros?

Acho que somos uma banda muito honesta. A gente toca heavy metal de verdade, se recusa terminantemente a usar bases pré-gravadas de vocais ou de baixo, por exemplo... [Risos.] Acho que somos uma típica banda alemã, e isso nos torna realmente interessantes ao longo dos anos. Também entregamos qualidade tanto nos CDs ou LPs quanto nos shows.


O Grave Digger é conhecido por suas letras épicas e temas históricos. Como vocês escolhem os temas para suas músicas e como isso influencia sua música e performance ao vivo?

Acho que são duas coisas separadas. Criar um álbum é muito complexo. Primeiro, decidimos fazer um álbum, e então espero até ter uma boa ideia, ou que venha até mim um bom conceito ou algo assim. Depois, com o conceito definido, é quando começo a compor as músicas; elaboro uma listagem com os títulos e, aí, é como construir uma casa, tijolo por tijolo, e, ao final de tudo, você coloca o telhado e, pronto: todo mundo pode entrar. [Risos.]



A casa mais recente que vocês construíram foi o “Symbol of Eternity”. Como você descreveria o som e a temática deste álbum em particular?

Acho que ele soa bem elementar. Os álbuns anteriores a esse soam mais polidos, porque gravamos em um grande estúdio, e havia um produtor renomado por trás. Mas por mais que eu adore isso, durante a pandemia, montei meu próprio estúdio e decidi gravar, mixar e masterizar tudo sozinho. Todos os caras da banda têm seus home studios, então cada um gravou suas partes remotamente. E deu certo porque sei muito bem como a banda deve soar e, sim, estou muito satisfeito com meu primeiro trabalho como engenheiro de som para a banda. Espero que gostem também. [Risos.]


A capa do álbum é impressionante. Como ela foi concebida e qual é o significado por trás dela?

Como sempre, lá está o nosso ceifador. Desta vez, ele está alimentando um cavaleiro templário morto com o sangue de Cristo, para dar-lhe a vida eterna. Usamos um capista diferente dessa vez, Uli Jarling, e acho que ele fez um ótimo trabalho.


Você tem alguma música favorita no “Symbol of Eternity”? 

“Hell is My Purgatory”.


Por quê?

Porque é tão tipicamente Grave Digger, com os riffs, o refrão; é meio melódica, mas também tem gritos... É como se fosse uma música do Grave Digger dos anos 1980 tocada no século XXI.



O Grave Digger tem uma discografia rica e diversificada, com muitos álbuns clássicos. Qual é o álbum que você considera mais emblemático da banda e por quê?

Acho que é o “Tunes of War”. Esse foi o nosso álbum de maior sucesso nos anos 1990 por causa da conexão com [o filme] “Coração Valente” e todo mundo foi dragado para dentro da história. Este é também o álbum mais acessível e mais famoso da banda.


O carro-chefe de “Tunes of War” é a música “Rebellion (The Clans Are Marching)”, um dos maiores sucessos da banda. Como você se sente em relação ao impacto duradouro dessa música e o que ela significa para você?

Acho que essa música é um hino para todas as pessoas que amam a liberdade; especialmente se você é metaleiro e vive na comunidade do metal. Quando eu era jovem, o metal era muito underground, ao passo que hoje em dia há muitas bandas de metal famosas. Mas quando eu cresci era quase um “nós contra todos”, sabe? “Nós temos cabelos compridos”, e todo mundo ficava possesso quando se deparava com um metaleiro. Portanto, acho que “Rebellion” é meio que um hino para todas as pessoas que amam a liberdade e lutam por seus direitos.


Na sua opinião, qual o álbum mais subestimado do Grave Digger?

Acho que o Grave Digger tem alguns álbuns subestimados. [Risos.]


Quais?

Acho que o “Rheingold” foi um, também o “The Last Supper”. Acho que a era Manni Schmidt [de 2000-2009, compreendendo os álbuns “The Grave Digger”, “Rheingold”, “The Last Supper”, “Liberty or Death” e “Ballads of a Hangman”] como um todo é meio subestimada. Manni é um grande guitarrista e fez muitas músicas legais conosco. Mas isso é coisa do passado. Vamos pensar em novos álbuns. [Risos.]



Ao longo dos anos, a música e o cenário do heavy metal passaram por mudanças significativas. Como o Grave Digger se adaptou e evoluiu ao longo de sua discografia para se manter relevante e fiel à sua identidade musical?

Acho que se você pegar cem discos e tocá-los para as pessoas, elas saberão dizer qual é do Grave Digger. Todos sabem imediatamente quando é o Grave Digger. E acho que a culpa é da minha voz; algumas pessoas odeiam, outras adoram. Também acho que, ao longo dos anos, estabelecemos nossa marca, com o som, com a voz e tudo mais, então todo mundo sabe o que é o Grave Digger. Não somos famosos como o Iron Maiden ou o Helloween, mas temos identidade suficiente, nossa própria identidade, para nos mantermos firmes na cena metal, e prova disso é sempre sermos requisitados para tocar em festivais, como o Summer Breeze. Somos caras de sorte.


Como vocês mantêm a criatividade e a paixão pela música em um mercado tão competitivo?

O segredo é bem simples: nós amamos heavy metal. [Risos.] Essa é a única razão. Se eu não amasse heavy metal, não poderia tocar esse tipo de música. Meu coração bate no ritmo do heavy metal. Eu não fico bebendo o dia todo, tipo... talvez as pessoas pensem, já que sou um músico de metal, que passo o dia todo bebendo. [Risos.] Mas tenho meu trabalho aqui, meu ateliê. Tento exercer minha criatividade. Já estou pensando no novo álbum do Grave Digger, acabei de gravar meu álbum solo, então... há realmente muitas coisas para fazer.


O Grave Digger é uma das bandas pioneiras do power metal. Como você vê a evolução do gênero ao longo dos anos e o que você acha que o futuro reserva para o power metal?

Eu penso muito a respeito disso, porque acho que a cena metal nunca esteve tão abarrotada de gente. Temos tantas vertentes diferentes ou maneiras de tocar heavy metal, então há espaço para todos. Acho que o heavy metal, ao contrário dos anos 1980 e 1990, quando alternava períodos de alta e períodos de baixa, tende à estabilidade, o que é bom para todo mundo.



O que podemos esperar do seu álbum solo?

Vocês podem esperar um álbum de heavy metal muito legal. É uma mistura entre Grave Digger e Metal Church. Acho que é mais voltado para o power metal, uma sonoridade um pouco mais americana. Foi gravado com três músicos diferentes, não os mesmos do Grave Digger. 


E do próximo álbum do Grave Digger?

Não sei, não faço ideia. Vou terminar a campanha do meu álbum solo e o próximo álbum do Grave Digger será lançado somente em janeiro de 2025.


Por fim, o que os fãs podem esperar dos shows do Grave Digger no Brasil?

Heavy metal de verdade. [Risos.] Nada além. Prometo que será um show de heavy metal muito legal com todos os clássicos do Grave Digger. Vocês vão curtir!



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