Entrevista: Don Airey avalia atual momento do Deep Purple e relembra trabalhos de outras épocas

 


Conhecido por seu estilo virtuoso de tocar, incorporando elementos de rock, música clássica e progressiva em seu trabalho, Don Airey é um dos mais renomados tecladistas e pianistas de rock britânicos. 

Airey começou sua carreira musical nos anos 1970, tocando com várias bandas e artistas, como Cozy Powell, Gary Moore e Colosseum II. Ele se juntou ao Rainbow, banda do guitarrista Ritchie Blackmore, em 1978, e tocou em álbuns clássicos como “Down to Earth” (1979) e “Difficult to Cure” (1981). Também gravou com Whitesnake, Black Sabbath e Ozzy Osbourne, além de grupos de menor expressão do hard e do metal.

Em 2002, Airey substituiu o lendário tecladista Jon Lord no Deep Purple e tem sido um membro ativo da banda desde então, contribuindo para vários álbuns de estúdio e turnês mundiais.

Prestes a desembarcar no Brasil para um novo giro com o Purple — que incluirá apresentação no festival Monsters of Rock, em São Paulo —, Airey, de um quarto de hotel no Japão, bateu um papo com este jornalista. Confira!


Fotos: Facebook.com/officialdeeppurple (Divulgação)


O Deep Purple vem de uma sequência muito boa de álbuns produzidos pelo Bob Ezrin, mas também sofreu a baixa do guitarrista Steve Morse. Enfim, ganha-se de um lado e perde-se de outro. Como você avalia o atual momento da banda?

Mudanças na formação são muito comuns a todas as bandas. As circunstâncias que obrigaram o Steve a deixar o Deep Purple foram realmente infelizes, mas um pouco de sangue novo parece ter revitalizado toda a operação; músicos, equipe técnica, empresários. A vida continua e estamos ansiosos para voltar ao estúdio com o Señor Ezrino ainda este ano.


Sobre os álbuns produzidos pelo Ezrin, em que aspectos você acredita que eles se diferem daqueles que a banda vinha produzindo antes da chegada dele?

Nós nos conectamos com Bob depois de um show em Toronto, em 2012. Ele ficou obviamente impressionado e começou a trabalhar conosco quase que de imediato. Ele é um capataz duro, mas muito simpático também, e apenas nos disse para sermos nós mesmos, deixarmos acontecer naturalmente, mas ao quadrado! 


Você acredita que ele tenha meio que assumido um posto de sexto integrante não oficial?

Ele desempenha um papel bastante criativo na construção das músicas, mas eu não diria —nem ele — que ele é o sexto integrante. Há um sexto integrante incidentalmente, mas ninguém nunca o viu; apenas sentiu sua presença!


O que poderia dizer a respeito do trabalho com ele e dos discos resultantes dessa parceria?

Os álbuns tiveram muito sucesso em termos de vendas e foram bem recebidos ao tocá-los ao vivo; o melhor, na minha opinião, sendo o “Whoosh!” (2020).



Em relação ao Deep Purple no palco, muda alguma coisa com a entrada do Simon McBride no lugar do Steve? Como é tê-lo a bordo e conviver com ele fora dos palcos no dia a dia?

A mudança na banda foi inacreditável, como se todos tivessem acordado e começado a detonar de novo. Simon se encaixou perfeitamente; ele tem um senso de humor irlandês realmente atrevido, é sempre pontual, gosta de uma bebida quando é a hora certa e se diverte todas as noites. Há um sorriso no rosto de todos novamente.


O Deep Purple é uma das poucas bandas de sua época ainda produzindo discos e realizando turnês e shows. Qual é o segredo para manter a produtividade e o clima sempre bom? 

O segredo é a operação correr bem, e a banda dar o melhor de si ao vivo. Temos uma equipe técnica maravilhosa e bons empresários, então a rotina dos shows e do dia a dia está muito bem estabelecida. 


Fora do palco, vocês possuem o que se pode chamar de relação de amizade, ou a convivência se restringe mais ao âmbito profissional?

Somos todos amigos. No camarim prevalece uma quietude — o olho do furacão, se preferir —, mas com muito bom humor. Falamos de futebol, dos velhos tempos, do que está nos noticiários etc. Simon e Roger [Glover, baixista] ficam tocando violão, só esperando o momento em que nosso gerente de produção — meu filho Mike — vem bater à porta para nos levar para o palco.



As principais músicas do Deep Purple datam dos anos 1970. Desse repertório do qual você originalmente não é autor, quais músicas considera mais legais de tocar? E quais as mais desafiadoras, por assim dizer? 

Eu particularmente gosto de “Highway Star”, “Bloodsucker”, “Hard Lovin’ Man” e “Fireball”. As partes de teclado são fantásticas, principalmente em “Fireball”, e depois de vinte anos finalmente estou pegando o jeito!


Desde 1974, você tem gravado com muitos artistas e bandas de hard rock e heavy metal, incluindo nomes como Ozzy Osbourne, Rainbow e Thin Lizzy. De todos os álbuns dos quais participou, qual você considera o mais especial?

Essa é uma pergunta difícil, pois são muitos, mas provavelmente o “Down to Earth”, do Rainbow, e o “1987” (1987), do Whitesnake.


Tem algum que você gostaria que tivesse obtido maior reconhecimento?

O “Over the Top” (1979), do Cozy Powell. Poderia ter sido mais bem-sucedido. Muita música boa e foi divertido de gravar.



Vale citar que, nos anos 1980, você foi frequentemente chamado para fazer sessions para bandas de hard rock, muitas das quais pouco lembradas hoje em dia, como Glasgow, Jagged Edge, Slave Raider e Tigertailz. Faz tempo, eu sei. Mas algum desses trabalhos, ou trabalhar com algum desses grupos de menor expressão, deixou alguma lembrança em você? Alguma história curiosa ou incomum, talvez?

Os caras do Tigertailz eram gente boa. O guitarrista, Jay Pepper, era muito talentoso. Eu me lembro dele dizendo que achava Jimi Hendrix um lixo! O álbum [‘Bezerk’ (1990)] começou a soar bem com todos os teclados, daí eles decidiram adicionar cordas também. Então, reservei o Morgan Studios, em Londres, e contratei uma seção de cordas de 16 músicos para gravar às 10h da manhã. A banda implorou para assistir, e eu concordei com a condição de que eles viessem com seus trajes de palco completos. Tínhamos acabado de terminar a seção com uma primeira passagem quando os quatro apareceram com todas aquelas plumas e roupas de lycra. A maioria dos músicos da seção de cordas eram carecas de meia-idade vestindo ternos e gravatas de veludo cotelê. Foi uma cena e tanto – e eles adoraram o resultado!


Um projeto pelo qual tenho um carinho especial é o Colosseum II. Você lançou três discos maravilhosos com Gary Moore e Jon Hiseman. Poderia compartilhar algumas recordações dessa época?

Algumas das minhas melhores lembranças são de tocar com aquela banda. Nós nunca capturamos isso em álbum, mas ao vivo a banda era surpreendente. Gary estava a mil e Jon era simplesmente um dos maiores bateristas do mundo. Fizemos um show em Nápoles, em 1978, com ingressos esgotados, mas o movimento de música livre estava fazendo uma apresentação do lado de fora da casa. A polícia pôs esses pobres inocentes para correr para a segurança do salão já lotado e, em seguida, para garantir que todos ficassem lá dentro, disparou bombas de gás lacrimogêneo contra eles. Com dificuldade de respirar, saímos do palco e corremos para o camarim arrombando a porta. Ouvimos uma debandada vindo em nossa direção e Hiseman gritou “Preparem-se para defender a Les Paul!” Quando a porta se soltou das dobradiças, estilhaçando-se no chão, a multidão entrou. Logo nos demos conta de que eram apenas jovens fugindo de policiais excessivamente zelosos. Antes que percebêssemos que uma festa havia começado, eles se serviram da comida do camarim, nós servimos bebidas para eles e um incidente bastante desagradável terminou em uma agradável social.



O Deep Purple volta ao Brasil para tocar, entre outras datas, no festival Monsters of Rock ao lado de um line-up estelar. Como está a expectativa para essa vinda e o que os fãs podem esperar da banda em matéria de setlist e performance?

Nós gostamos do Brasil e dos fãs brasileiros porque a música faz parte da vida cotidiana daí. Tocaremos alguns sucessos do passado, além de material proveniente dos discos com o Ezrin. Teremos telões no palco, então é música antiga, mas em um ambiente moderno.


Tendo vindo ao Brasil algumas vezes desde a sua entrada no Deep Purple, o que você poderia dizer a respeito dos fãs de rock daqui e do país como um todo? 

Simplesmente amo o entusiasmo que os fãs trazem para o ambiente do show. 


Tem algum lugar a que gostaria de ir durante a vinda?

Gostaria de voltar a Recife (PE) algum dia ou conhecer a Cachoeira dos Anjos e Arcanjos (GO).


Para encerrarmos, qual é o seu recado para os fãs que estão com ingressos comprados para um ou mais de um dos shows do Deep Purple no Brasil?

Estamos ansiosos para ouvi-los, vê-los e agitarmos com vocês!



Ingressos aqui.


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