ENTREVISTA: BJ descreve a sonoridade do Spektra e elege o top 3 da carreira de Jeff Scott Soto


 

Dono de uma voz potente e versátil, BJ ficou conhecido por seu trabalho como vocalista na banda de hard rock Tempestt. Sua paixão pelo rock e sua dedicação à música o tornaram uma figura importante na cena hard brasileira. 

Em 2021, com nome já consolidado internacionalmente, BJ trouxe à vida o Spektra. Acompanhado pelos parceiros de longa data Edu Cominato (bateria), Léo Mancini (guitarra) e Henrique Canale (baixo), lançou “Overload” pela italiana Frontiers Records

Às vésperas de subir ao palco do Manifesto Bar em comemoração ao Dia Mundial do Rock em evento que traz também a banda Nite Stinger (de Bento Mello, filho de Branco Mello, dos Titãs), BJ conversou com este jornalista a respeito do atual momento.

Boa leitura!


Transcrição: Leonardo Bondioli

Foto: Thiago Kiss / Divulgação


Como você descreveria a sonoridade do álbum de estreia do Spektra? Quais influências musicais vocês buscaram incorporar?

Cara, o “Overload” é o meu filho, sabe? É um projeto que sempre quis fazer, é o tipo de som que sempre quis tocar e que acho que combina comigo. A oportunidade surgiu quando fui convidado para participar de um projeto da Frontiers, liderado por Jeff Scott Soto e Alessandro Del Vecchio. Adoro as composições desses caras e já trabalho com o Jeff há muito tempo, inclusive escrevendo músicas juntos. Na audição para o projeto, gravei duas músicas que acabaram sendo usadas no disco, pois o Jeff gostou tanto delas que não me deixou gravar de novo. A Frontiers ouviu essas gravações e decidiu que eu era o cara certo para o projeto. 

A partir daí, propus que o Spektra não fosse apenas um projeto da Frontiers, mas sim uma banda de verdade. Eles viram meu comprometimento e confiaram em mim para tomar as rédeas, escolher os músicos, o nome, a capa e tudo mais. Transformei esse projeto em realidade, pois já tinha um relacionamento com a Frontiers e eles me queriam como cantor há algum tempo. A sonoridade do “Overload” é exatamente o que idealizei: uma mistura de AOR dos anos 1980 com elementos modernos. O Alessandro, que produz muitos artistas na Frontiers, foi aberto a trabalharmos juntos para alcançar um som diferenciado. Tivemos liberdade para dar nossas opiniões e gravar do jeito que quisemos. Para mim, o “Overload” é meu álbum mais maduro e tem um som incrível.


Desde o início, o objetivo foi criar um som que pudesse atrair tanto os fãs saudosistas do hard rock dos anos 1980, que são aqueles que se dedicam exclusivamente às bandas daquela época, quanto o público mais jovem? A ideia era encontrar um equilíbrio para apelar a ambos os públicos, conquistando tanto os fãs antigos como uma nova geração de ouvintes?

Exatamente. A sonoridade é algo pelo qual tenho me preocupado desde o Tempestt. Alguns gostam da sonoridade mais antiga e nostálgica, e eu amo, cara, amo os anos 1980. Amo o pop dos anos 1980, pois sou um cantor que veio do pop. Todo cantor que canta AOR tem fortes influências do pop, porque cantar pop tem uma linguagem diferente, sabe? É por isso que acho que os maiores cantores do mundo são os cantores de AOR, pois eles conseguem mesclar a energia do rock ‘n’ roll com interpretações lindas do pop, criando algo belo e único. É agradável, algo que mesmo as pessoas que torcem o nariz para o rock podem apreciar. Se ouvirem uma música como “Faithfully”, do Journey, vão se surpreender e perguntar: “Quem é esse cara?”. E aí eu respondo: “É o mesmo que cantou no USA for Africa. Aquele com cara de índio. É o cantor do Journey”. E o Steve Perry é realmente espetacular. Para mim, é o maior cantor da história. É um cantor pop que está numa banda de rock, mas quando é necessário ter uma pegada incrível, ele vai lá e arrasa. Embora não seja conhecido por ter uma pegada tão pesada, ele canta algumas coisas que têm um toque mais pesado. No entanto, é um cantor que tem uma forte influência da black music e do soul americano, uma grande inspiração vinda de artistas como Sam Cooke.


Assista ao videoclipe oficial de “Just Because” no YouTube.


A pandemia, de certa forma, obrigou vocês a mudarem de estratégia, adiarem alguma coisa?

A pandemia atrasou o lançamento do disco em nove meses. Eu gravei as vozes em 2020, durante o auge da pandemia, e não pude ir a nenhum estúdio para gravar. Foi interessante porque eu tinha um equipamento em casa, mas faltava um microfone que eu gostasse para gravar. Então, emprestei um microfone de um amigo meu, que acabei comprando dele depois porque gostei muito. [Risos.] Também tenho um computador e uma placa de áudio de qualidade.

Minha família foi para a casa da minha sogra na praia, então fiquei sozinho em casa. Transformei meu quarto em uma cabine de gravação, colocando colchões para evitar vazamentos de áudio. Fiz alguns testes e gravei uma colaboração, lembro-me disso na época. Enviei a gravação vocal para o Jeff e o Alessandro para ver se eles aprovavam o som. O Jeff respondeu, depois que enviei a gravação isolada da colaboração, dizendo: “Deixa eu te perguntar uma coisa, me fala qual é o setup que você está usando, porque eu quero comprar um para mim”. Eu expliquei a configuração que estava utilizando e ele ficou interessado em adquirir também. [Risos.]

Então ele disse: “Cara, está incrível, pode continuar gravando em casa, fique tranquilo. Como você se isolou aí?”. Expliquei a ele que transformei um quarto em uma cabine de gravação e que minha família estava viajando, então aproveitei esse período para gravar metade do álbum. Depois que voltaram, gravei a outra metade. Durante esse tempo, as coisas foram acontecendo, mas o lançamento do disco acabou sendo adiado devido aos atrasos causados pela pandemia, o que é compreensível, já que isso afetou os lançamentos de muitos artistas, incluindo os da Frontiers. Durante esse período, gravamos três videoclipes, escolhemos os singles e fizemos tudo o que precisava ser feito. O lançamento ocorreu em 6 de agosto de 2021, no dia do lançamento do último single. O primeiro single foi em junho, o segundo em julho e o terceiro em agosto.


Como músico dedicado ao seu ofício, gostaria de saber como é trabalhar com o Jeff, considerando o que ele mencionou anteriormente sobre os músicos brasileiros. Ele destacou o empenho dos músicos brasileiros em dominar não apenas a execução de uma música, mas também a técnica e a composição. Portanto, gostaria de saber qual é a sua experiência de trabalho com o Jeff e como é colaborar com alguém que valoriza essa dedicação e busca constante aprimoramento.

Cara, eu sou insuportável comigo mesmo, sou muito perfeccionista. Desde que o Jeff nos conheceu em 2002, ele percebeu que éramos jovens e já viu o potencial da banda, que não foi escolhida por ele, mas sim pelo produtor Carlão, da Animal Records, que o trouxe para o aniversário da loja. Lembro do nervosismo no estúdio quando tocamos a primeira música com ele. Já tínhamos jantado juntos, mas quando nos sentamos para ensaiar, saímos tocando. Acho que tocamos algo do Talisman. Quando terminamos, ele olhou para nós e disse: “Uau! Bons músicos, cara!” Ele adorou e sempre falava: “Cara, por essa eu não esperava”.

Com o tempo, construímos uma relação de confiança. Ele veio para o Brasil em 2004 e o Tempestt abriu o show. Em 2005, ele veio novamente e lembro que fiz algumas participações especiais com ele. Em 2007, ele fez uma turnê conosco quando lançamos o disco. Ele ficou muito empolgado ao ouvir o disco do Tempestt [“Bring ‘Em On” (2008)]. Lembro de um dia, durante a turnê, quando estávamos em Porto Alegre. Era hora de descer para o lobby do hotel e ir tocar, e eu desci sozinho. Ele estava lá embaixo e disse: “Cara, eu quero falar com você”. Ele me contou que estava ouvindo o CD do Tempestt enquanto tomava banho e disse: “Cara, você sabia que eu chorei? Tenho muito orgulho de vocês, é um disco lindo. A Europa precisa conhecer vocês, vou falar com Rick”. Na época, o Rick era empresário do Tempestt, e o que ele disse que faria, ele fez. Ele nos ofereceu ao manager dele na Europa, e já tínhamos conseguido uma gravadora lá porque entreguei um CD no Sweden Rock Festival para ter uma resenha na internet, e essa resenha fez a gravadora entrar em contato conosco. Foi uma loucura.

Então, fomos fazer uma turnê na Europa porque ele sempre acreditou em nós. Fomos ganhando a confiança dele ao longo do tempo. Em 2009, ele convidou eu e o Edu para entrar na banda. Eu sou cantor, toco para me acompanhar; sempre toquei piano e violão. Mas ele disse: “Meu sonho é ter alguém como você na banda, um lead singer. Mas sei que você é um lead singer, então fico um pouco receoso de te chamar”. Eu disse: “Como assim? Você precisa de mim, estou pronto. Não existe ego nisso, você está louco? Tocar com o herói da minha vida, estou dentro, me chama!”. E fui. Estudei como um louco por quatro meses para chegar lá preparado. Entrei na banda e gravamos o DVD ao vivo, com muito poucos overdubs. Esse é apenas um exemplo, estou falando apenas sobre mim. 


Assista ao videoclipe oficial de “Runnin’ Out of Time” no YouTube.


Como parceiro de longa data, imagino que você esteja familiarizado com a extensa discografia do Jeff Scott Soto. Na sua opinião, quais álbuns seriam os principais “cartões de visita” para alguém que deseja conhecer o trabalho dele?

Você precisa começar pelo “Humanimal” (1994), do Talisman. Se realmente quer conhecer o Jeff em sua totalidade, precisa ouvir também o disco do Boogie Knights [“Welcome to the Jungle Boogie” (2005)]. É incrível o que esse cara é capaz de fazer, sabe? Além disso, você também pode conferir o álbum [solo] “Beautiful Mess” (2009). O Jeff simplesmente adora aquilo, cara, ele é apaixonado por esse trabalho. O “Prism” (2002) é maravilhoso, o “Lost in the Translation” (2004) também é incrível; ambos são hard rock na essência. Mas acho que o Talisman é o que representa mais o verdadeiro hard rock para ele. O “Beautiful Mess” mostra uma faceta gigante dentro dele, mas infelizmente não foi tão bem aceito pelas pessoas, principalmente pelos fãs de hard rock que não estavam interessados nessa sonoridade mais soul, mais no estilo do Seal, mas esse álbum é maravilhoso! Se você me perguntar: “Qual álbum do Jeff devo ouvir agora?”, eu responderia o “Beautiful Mess”.


Está nos planos alguma surpresa para o show com o Nite Stinger no Dia Mundial do Rock no Manifesto Bar?

Então, não poderemos estrear nenhuma música. Estamos atualmente compondo para o novo álbum, que será entregue até outubro, mas só será lançado em 2024. No entanto, planejamos tocar o “Overload” completo durante o show. Tem quase uma hora de duração, mas também vamos tocar outras músicas. Teremos uma participação especial do Hugo Mariutti no show, vamos tocar uma música em parceria com ele. Ele fez um collab em uma música do Winger e vamos apresentá-la no show. Deve ser lançado na próxima semana, junto com mais dois ou três covers. Vamos tocar uma música do Journey, por exemplo, não será “Don’t Stop Believing”, mas vai ser uma música do Journey. A galera sempre pede para a gente tocar uma música do Journey, então vamos fazer isso, além de outras coisas. A gente gosta de surpreender a galera. Uma vez tocamos “Run To You” do Bryan Adams e a galera curtiu demais. Vai ser muito legal, uma festa do rock autoral, e é uma oportunidade para os brasileiros mostrarem apoio e reconhecimento. As bandas são amigas, todos são próximos, então vai ser bem divertido.



Serviço: Dia Mundial do Rock – Manifesto Bar

Bandas: Spektra e Nite Stinger

Data: 13 de julho de 2023 (quinta-feira)

Local: Manifesto Bar

Endereço: R. Iguatemi, 36 - Itaim Bibi (São Paulo/SP)

Horários: 20h (portões), 21h (evento)

Ingressos: a partir de R$ 50

Venda online: https://bilheto.com.br/evento/1530/Dia_Mundial_do_Rock_-Bandas_Spektra_e_Nite_Stinger


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