Danny Vaughn está pronto para emocionar novamente os corações dos fãs brasileiros. Os palcos de São Paulo e Curitiba serão iluminados com nostalgia e energia, já que o histórico álbum de estreia do Tyketto, “Don’t Come Easy” (1991), será apresentado na íntegra durante os tão aguardados shows no Brasil. A oportunidade de reviver faixas icônicas como “Forever Young”, “Wings” e “Standing Alone” promete ser uma experiência única e emocionante.
Além da música, descobrimos um lado mais pessoal de Danny, explorando seu comprometimento com o veganismo e como essa escolha de vida influencia sua jornada como músico, especialmente durante as turnês. A pandemia global trouxe desafios e mudanças significativas para a indústria musical, mas artistas resilientes como ele encontraram novas formas de se conectar com os fãs, incluindo transmissões ao vivo que nos permitiram compartilhar momentos íntimos mesmo à distância.
Relembramos, também, a passagem anterior do Tyketto pelo país, que trouxe consigo momentos memoráveis e desafios inesperados no emblemático único show realizado no Rio de Janeiro.
Boa leitura!
Por Marcelo Vieira
Transcrição: Beatriz Cardoso
Fotos: facebook.com/dannyvaughnvox
Você está prestes a voltar ao Brasil, três shows em duas cidades, sendo um deles sold-out em São Paulo. Como se sente diante desse fato?
É claro que estou muito feliz. A última vez que estive aí, foi para apenas um show no Rio de Janeiro e muita coisa deu errado, então espero que desta vez seja mais tranquilo. E, obviamente, espero que possamos trazer a banda toda numa próxima vez.
Nesses shows você tocará o “Don’t Come Easy”, do Tyketto, na íntegra. Você acha correto dizer que é o álbum mais importante ou icônico da sua carreira?
Acho. Provavelmente o mais importante, embora isso dependa do ponto de vista, porque o álbum do Waysted [“Save Your Prayers” (1986)] marcou o início da minha carreira. Isso também é bastante importante, sabe? Foi o álbum que meio que me colocou no cenário mundial, entende?
O que o “Don’t Come Easy” significa para você e como você vê o impacto que ele ainda exerce, mesmo 32 anos após o seu lançamento?
Houve momentos na minha vida em que eu simplesmente não conseguia mais ouvir essas músicas. A cada novo álbum que eu lançava, as pessoas diziam: “Que legal esse seu novo álbum. Agora toca ‘Forever Young’”. Era frustrante. Mas percebi, com a ajuda de alguns amigos, que essa é uma atitude muito ruim de se ter, porque você precisa reconhecer o quanto um álbum ou uma música pode ser importante para algumas pessoas. Isso vale, inclusive, para mim. Só eu sei o quanto as músicas do Bad Company, do Led Zeppelin ou do Doobie Brothers significam para mim. É difícil entender que é possível que minhas músicas signifiquem o mesmo para outra pessoa, então levei tempo para me acostumar com isso. Agora que tenho essa noção, posso tocar “Forever Young” todos os dias, ou “Standing Alone”, que provavelmente significa para as pessoas mais do que qualquer outra. É uma música em razão da qual ainda continuo recebendo mensagens dizendo: “Só quero dizer o quanto essa música é importante para mim”, e, para um compositor, nenhum reconhecimento se compara a isso.
Você sente que o fato de o “Don’t Come Easy” ser tão cultuado acaba por ofuscar os seus trabalhos posteriores a ele?
Às vezes, sim. Eu, particularmente, acho o “Reach” o melhor álbum do Tyketto. Mas qualquer banda que teve um ótimo primeiro álbum não pode lutar contra isso. É interessante porque se você pega uma banda como o Aerosmith, o primeiro álbum [“Aerosmith” (1973)] é brilhante. Daí o álbum seguinte [“Get Your Wings” (1974)] foi ainda melhor, e então veio o “Toys In The Attic” (1975), que é incrível, e quando o “Rocks” (1976) saiu, foi a melhor coisa que qualquer um já tinha ouvido! Então, eles não começaram com seu melhor disco, e acho que isso é uma bênção. O mesmo vale para o Mr. Big; foi o segundo álbum deles [“Lean Into It” (1991)] que explodiu, sabe? E a partir desse eles fizeram inúmeros álbuns incríveis. Então, é um pouco difícil [ter um disco de estreia tão culturado] quando você segue lançando músicas novas o tempo todo, e a cada lançamento tem de ouvir: “Gostei, mas prefiro o ‘Don’t Come Easy’”. Desapega! Já fizemos um “Don’t Come Easy” uma vez, não vamos tentar fazê-lo de novo!
Dito isso, qual ou quais discos posteriores ao “Don’t Come Easy” você acha que poderiam ter obtido mais destaque ou ostentar um status maior do que ostenta?
Sério? Quase todos. O próprio “Strength in Numbers” acho que foi um álbum tão bom quanto [o “Don’t Come Easy”] e, por incrível que pareça, em algumas partes da Europa, foi mais popular do que o “Don’t Come Easy”. Idem no Japão. E eu amo aquele álbum porque o “Don’t Come Easy” nós escrevemos com um objetivo em mente. Nosso plano era escrever o máximo possível de músicas que pudessem ser consideradas hinos de arena. Quando o refrão “If I only had the wings to fly” [de “Wings”] entra, todo mundo ergue as mãos e canta junto. O refrão de “Burning Down Inside”, “Seasons” e “Lay Your Body Down”, também. A ideia era que tudo no “Don’t Come Easy” fosse grandioso. No “Strength in Numbers” nós diversificamos. Havia metal em “Inherit the Wind”, blues em “Why Do You Cry?”; queríamos mostrar que não éramos apenas bons músicos, mas que poderíamos escrever músicas de vários estilos diferentes.
É difícil para um cantor que se consagrou em grupos encontrar aceitação para seu material solo? Pela sua experiência, ter feito parte do Waysted e do Tyketto foi mais um facilitador ou um dificultador?
Facilitou no sentido de que mais pessoas sabiam quem eu era, mas tenho muita sorte que meus fãs apoiem muito minhas mudanças de direção, por mais frequentes que sejam. O último lançamento da minha carreira solo, “Myths Legends and Lies” (2019), foi muito diferente em termos de estilo musical, atirou para todos os lados. E muitas músicas não eram nada rock ‘n’ roll. Na verdade, todas elas foram escritas ao longo dos últimos 40 anos, mas não se encaixavam com o Tyketto, nem com o From the Inside ou o Flesh and Blood. Eu pensava: “O que fazer com essas músicas?”. No fim das contas, havia o suficiente delas para colocá-las em um álbum, e meus fãs compraram a ideia. Literalmente, pois foi um projeto financiado coletivamente pelos fãs; eles pagaram pelo disco. E já tenho músicas suficientes para fazer outro, então está nos meus planos fazer outro álbum assim.
Na condição de único remanescente da formação original, qual a importância de manter o nome Tyketto ativo?
Quando o Michael [Clayton Arbeeny, baterista] e depois o Chris [Green, guitarrista] decidiram se aposentar, eu disse: “OK, vamos parar”. Ambos disseram que eu estava louco. “Contanto que seja você cantando, as pessoas continuarão a querer ouvir essas músicas”. Então, foi mais por pressão deles que segui em frente. A prova de fogo veio numa turnê pelo Reino Unido, quando pude ver que os fãs, de fato, aceitaram os novos caras. “Sinto falta do Michael, mas adorei a banda”. Qualquer que seja a formação, nossa missão sempre foi ser a melhor banda ao vivo que pudéssemos ser; dar o nosso melhor para os fãs, nunca apenas tocar por tocar. E essas músicas terem sobrevivido ao teste do tempo é algo do qual podemos nos orgulhar muito.
As histórias de bebedeira do baixista Pete Way adquiriram uma dimensão quase lendária. Como você descreveria o trabalho com ele e o seu período como vocalista do Waysted?
O Pete nunca me quis na banda. Era 1985, Journey e Night Ranger estavam em alta, Jon Bon Jovi e Geoff Tate eram os vocalistas do momento. Então a gravadora lhe disse: “Vocês precisam mudar de vocalista”. Sinceramente? Adoro a voz do Finn [Muir, vocalista original do Waysted], mas a gravadora queria algo mais “comercial”, mais “moderno”. Foi por isso que me chamaram. O Paul [Chapman, guitarrista] adorou a ideia; já havíamos trabalhado juntos antes. Mas o Pete, não. E o que ele diz em sua autobiografia [“A Fast Ride Out of Here” (2017)] a meu respeito faz jus a esse sentimento. Portanto, quando você assume a vaga numa banda na qual não é bem-vindo, fica difícil ser feliz.
Em 2009, a formação original do Tyketto se apresentou no Brasil com House of Lords e White Lion. Já entrevistei músicos dessas duas bandas e todos disseram que aquela noite não foi das melhores. Como foi para você?
Houve alguns problemas, sim. O Brooke [St. James, guitarrista] não estava muito bem de saúde. Ele fez o melhor que pôde, mas tocou de maneira meio dispersa. Ficamos muito, muito estressados no trajeto do hotel até o local do show [Circo Voador]. Eu nunca tinha ido ao Rio de Janeiro antes, e a cidade à noite é uma loucura! Era tanta gente no meio da rua que os carros mal podiam se mover. Levamos o que pareceram horas para percorrer cerca de dois quilômetros. E a polícia local não fazia nada a respeito. Quando finalmente chegamos, quase todos os membros da equipe da casa estavam chapados, completamente fora de si. A comunicação era precária. As soluções durante o show demoravam a vir. Então, foi um pouco difícil, mesmo.
Apesar dos contratempos, existe algum momento ou memória especial dessa vinda ao Brasil que você gostaria de compartilhar conosco?
Muitas! Nós fomos até o Pão de Açúcar, andamos de bondinho, fomos às praias... Vou te falar: nunca vi tantas mulheres bonitas em um só lugar na minha vida! As ruas parecem passarelas, mulheres que parecem supermodelos, uma loucura. Mas saí do Rio com a impressão de que, apesar de ser um lugar muito bonito, é, ao mesmo tempo, muito perigoso.
Isto é um fato.
Lamento muito.
Jimi Kennedy, Michael Clayton Arbeeny, Brooke St. James e Danny com o autor, em 2008. |
Durante a pandemia, você foi um dos muitos artistas que recorreram às transmissões ao vivo para se conectar com os fãs. Você poderia falar um pouco a respeito das suas experiências com as lives?
Foi muito estranho, mas foi algo que eu tive que fazer. Na Espanha, tivemos um lockdown de 47 dias. Ninguém estava autorizado a sair de casa; você olhava pela janela e parecia uma cidade fantasma. O que me restava? Ficar tocando violão. Não tinha muito o que fazer. Daí pensei: “Preciso me apresentar de alguma forma”. Vi que outros artistas haviam feito lives, mas todas de 15, 20 minutos. “Se é para fazer isso, vou fazer direito”. E assim fiz. Às vezes o show durava mais de duas horas porque eu simplesmente não queria parar. Mas era muito estranho terminar uma música e ter apenas minha esposa [Melissa] lá, aplaudindo, sabe?
Mas ela é sua maior fã!
Com certeza! Enfim, fiquei impressionado com a quantidade de pessoas ao redor do mundo que disse: “Muito obrigado, suas lives me ajudaram”. “Aguardávamos ansiosamente as quintas-feiras”. Isso significa muito para mim.
Com a retomada dos shows presenciais após o período desafiador da pandemia, como você se sente em voltar a se apresentar para o público?
Sinto-me incrível. Não tínhamos certeza de como as coisas iriam acontecer, mas me sinto melhor do que nunca. Este ano começamos com o Monsters of Rock Cruise, que foram os últimos dois shows com Michael e Chris; depois, fomos para o Reino Unido com FM e Dare; então, fizemos alguns shows solo pela Europa continental. Agora que podemos tocar com mais frequência, muitas portas se abriram, muitas ofertas vêm sendo feitas. Já estamos discutindo projetos para o próximo ano, e ainda temos algumas datas no Reino Unido em 2023. Enquanto eu tiver forças, continuarei fazendo isso.
Você sente que esse expediente de shows está diferente em relação ao que costumava ser?
Sinto. Por exemplo, não realizo mais meet & greets com os fãs depois dos shows. É chato, porque adoro conhecer pessoas, mas preciso pensar no dia de amanhã e nos shows seguintes. Na turnê com o FM e o Dare, nenhum de nós realizou meet & greets. Estamos todos na casa dos sessenta, não queríamos ficar doentes e havia muitos shows a fazer. Por enquanto, é assim que vai ser. A Covid-19 veio para ficar, então temos que respeitar, mesmo que, com o tempo, vá se tornando menos ameaçadora.
Do ponto de vista financeiro, está mais custoso cair na estrada hoje do que era antes da pandemia?
Com certeza. Vou dar um exemplo: estávamos confirmados no Monsters of Rock Cruise em 2020. É lógico que não houve Monsters of Rock Cruise em 2020, então a United Airlines disse: “Tudo bem, aqui está o seu voucher”. A passagem até Miami, na época, tinha custado 900 dólares. Quando o cruzeiro foi remarcado, peguei meu voucher para reservar um novo voo. Adivinha? A passagem agora custa 1.400 dólares! Então, tive que pagar 500 dólares de diferença! Fora isso, excursionar pela Europa ficou muito complicado após o Brexit. Tudo passou a custar o dobro, fora a papelada. O combustível aumentou no mundo todo. Os hotéis ficaram mais caros. Entendo o porquê de muitas turnês pararem no meio do caminho: é muito dinheiro.
Você é vegano, certo?
Quase isso. Afrouxei um pouco as restrições e voltei a comer peixe. Sei que os produtores daí do Brasil ficaram muito chateados quando descobriram que eu não como mais carne. “Como assim você está vindo para o Brasil e não vamos poder levar você a uma churrascaria?, e eu falei: “Pois é, foi mal”. [Risos.]
O que o levou a fazer essa escolha?
Acredito que, nutricionalmente, é o que faz mais sentido para mim. Quanto mais leio sobre, mais vejo o quanto o consumo de carne vermelha é perigoso para nós. Toda carne vermelha é cheia de hormônios de crescimento, aditivos etc. Eles injetam um bando de coisas nas vacas, e todas essas coisas acabam no seu sistema. Quer um fato? Tanto a Associação Americana do Coração quanto a Associação Americana de Diabetes proclamaram, uns cinco anos atrás, que a carne vermelha é um cancerígeno de classe um. Sabe o que mais é um cancerígeno de classe um? Plutônio.
Ser vegano afeta muito a sua vida como músico em turnê? Tipo, existem desafios específicos que você enfrenta ao manter uma dieta vegana enquanto viaja?
Sim, é quase impossível. É muito, muito difícil mesmo. Acho que não comer laticínios ajudou muito, porque mantém minha garganta limpa e eu canto melhor sem eles, mas tente ir a algum lugar na Espanha em que não sirvam manteiga, queijo etc. Há lugares na Espanha que, juro para você, você pede uma salada vegetariana e terá frango nela. Eles acham que frango é tipo alface. [Risos.]
De todas as conquistas que obteve na carreira, qual foi a maior e mais importante na sua opinião?
Acho que a maior e mais importante é ainda estar aqui, sabe? Não tenho estatuetas, prêmios ou algo do tipo, mas estou fazendo música profissionalmente desde o início dos anos 1980, e o fato de as pessoas ainda quererem ouvir minha voz e ainda quererem ver o que faço é uma bênção para mim.
E qual foi a lição mais valiosa que aprendeu nesses anos todos?
Boa pergunta. Acho que é fazer o que acredita ser o certo. Fale com qualquer músico que já teve um contrato de gravação, e ele vai te contar pelo menos uma história do tipo “eu não deveria ter feito isso, mas a gravadora me obrigou, ou o empresário disse que era uma boa ideia”. Você passa o resto da vida tendo de conviver com essa má decisão; seja uma capa de álbum tosca, uma música que você não queria gravar, uma entrevista ruim, ou qualquer outra coisa. Se você está tentando entrar nesse negócio, tem que seguir o que te faz mais feliz e aquilo em que acredita. Não importa qual estilo seja; vá em frente! Num dia as pessoas amam o Iron Maiden, no outro, amam a Jessie J, e você tem que conviver com isso. Então, desde que esteja fazendo a música que te anima e que vem do seu coração, acredito que pelo menos isso você tem a seu favor. E você sempre vai encontrar as pessoas que querem ouvi-lo.
Para encerrarmos, o que você ainda espera alcançar enquanto músico?
Não acho que tenha um objetivo específico em mente, eu só quero continuar fazendo música, aprendendo mais sobre música, e conseguir pagar as contas. Durante a pandemia eu comecei a compor música para a televisão, e isso é muito divertido, porque posso tentar qualquer coisa agora; blues, jazz, música clássica etc. É como brincar. E é assim que fazer música deveria ser, sempre.
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