ENTREVISTA: Fred Mika comenta sobre “Sunesthesia”, novo álbum do Sunroad

 


Pense num cara que é sinônimo de trabalho. Seu nome é Fred Mika e desde meados da década de 1990 ele responde pelo Sunroad, uma das mais prolíficas bandas do hard & heavy brasileiro, cujo mais recente lançamento, “Sunesthesia”, chegou às lojas no começo do ano. 

Neste bate-papo, Mika fala sobre o conceito por trás do álbum, as participações especiais nele e também como ele se insere na abrangente discografia do grupo.

Boa leitura!


Por Marcelo Vieira

Fotos: Divulgação


Primeiramente, parabéns pelo lançamento do novo álbum, “Sunesthesia”. Pode me contar um pouco sobre o conceito por trás do título e como ele abraça o conteúdo das letras?

Então, trata-se de um álbum pós-pandemia com o mesmo anseio em produzir, lançar e fazer turnês como antes. É claro que esse transbordamento de ânimo se refletiria nas letras e no conceito do artwork também. “Sunesthesia” é um trocadilho entre as palavras SUN (sol) e SYNESTHESIA (a mistura dos sentidos); ou seja, um álbum feito por nós que deveria invadir todos os sentidos do público, pois é rico em detalhes de arranjos e ideias visuais, bem como nas composições bem variadas. É nosso álbum mais ousado até o momento. Apesar do pilar central continuar a ser aquele hard rock clássico, tem elementos do AOR, do metal neoclássico, do heavy metal e até do stoner rock. 


Como você descreveria a evolução sonora da banda no “Sunesthesia” em comparação com os álbuns anteriores?

Já havíamos explorado alguns desses elementos anteriormente, porém, agora adicionamos ideias que nunca antes cogitamos como o stoner rock e um hard rock pop cadenciado com grooves. A liberdade artística foi irrestrita, claro, como disse antes, sem perder a ideia central do hard rock. 


O que inspirou a banda durante o processo de composição do novo álbum? Tem alguma mensagem específica que vocês queriam transmitir? 

Um vislumbre de um novo mundo, como toda uma sociedade iria se portar num processo de pós-isolamento, de pós-pandemia, se isso seria mais positivo ou negativo, se o medo ainda persistiria ou ainda se seríamos mais empáticos com as outras pessoas. É um álbum de reflexões e despido de preconceito de estilos, porém tem faixas simplesmente divertidas como o anseio de uma viagem a um lugar paradisíaco como em “Speed Warning #1”; faixas reflexivas de como toda uma geração se tornou refém das redes sociais e da internet como a densa e intrigante “Screen Screw”; e baladas intimistas e líricas como “By Any Means”.


Fala um pouco sobre as participações especialíssimas no álbum. Não é a primeira vez que vocês trazem convidados de peso, né? 

Em 2003 conseguimos uma distribuição internacional pela primeira vez com o álbum “Arena of Aliens” e desde então fomos conhecendo alguns artistas, bandas e produtores internacionais, fato esse que se intensificou desde 2009 quando começamos a fazer turnês pelo Brasil com Whitecross, Narnia, Joe Lynn Turner, Mad Max, Dr. Sin e várias outras bandas. Em 2016 conheci o vocalista e instrumentista francês Steph Honde e lancei seu álbum solo [“Covering the Monsters” (2017)] no Brasil e, na sequência, acabei por gravar uma faixa para sua banda, Hollywood Monsters. Alguns anos antes também conheci o músico e produtor alemão Michael Voss (MSG, Mad Max e Casanova). Tanto Voss como Honde e o canadense Carl Dixon (Coney Hatch, The Guess Who, April Wine) já haviam participado de meu álbum solo [“Withdrawal Symptoms”], de 2018. Em 2022, Voss estava produzindo o MSG que contava com Ronnie Romero nos vocais e daí o convenceu a fazer uma participação junto ao Sunroad, assim como Dixon, ambos em faixas distintas em duetos com Honde.



Antes do “Sunesthesia”, vocês lançaram um álbum ao vivo gravado no Roça N’ Roll.

Na verdade foi um convite do pessoal do festival para uma live nossa já que estávamos em meio a pandemia, e com isso o referido festival estava suspenso em sua forma presencial. Daí resolveram fazer o esquema online. Gravamos o áudio e vídeo aqui em meu estúdio numa tarde, tipo plug & play, só o Steph que gravou posteriormente os áudios e vídeos, já que se encontrava na França. Editamos o vídeo filmado com três câmeras individuais no estúdio aqui e mixamos o áudio, e na sequência, para a edição final, incluímos o material enviado pelo Steph e mandamos para o festival. Todos nós gostamos muito do resultado e na virada do ano resolvemos lançar um álbum ao vivo baseado nessas gravações e sem overdubs.  


Quais são os principais desafios em comparação a gravar um álbum de estúdio tradicional?

Essa gravação online foi algo inédito para a gente. O lado ruim é que não há público, então por isso quase que se assemelhou a ideia de um álbum de estúdio já que a gente se concentrou mais na performance do que no clima de show. A parte diferente de um álbum de estúdio foi a de que gravamos todos juntos, tipo ensaio com tudo microfonado, e com isso capturou toda a energia e autenticidade da banda.



Ao longo da trajetória da banda, vocês passaram por diversas mudanças e adaptações e o próprio estilo de hard rock que vocês fazem sofreu mutações. É uma preocupação de vocês não ficarem “parados no tempo” ou esse processo se dá de maneira mais natural, conforme vocês vão ouvindo coisas novas e descobrindo coisas novas?

Eu gosto de variações, não sou adepto de ficar repetindo sempre a mesma fórmula porém claro, sempre buscando um aprimoramento em relação às composições de forma constante. Mas bem nos primórdios estávamos bem indefinidos, erámos ainda uma banda cover para você ter uma ideia da imaturidade artística na qual estávamos. Só no ano seguinte, 1997, passamos a nos chamar Sunroad e iniciar as composições próprias. O primeiro álbum [“Heat from the Road”] veio em 1999 com uma produção sofrível e lá tinha de tudo; rock progressivo, psicodélico, hard & heavy clássico, baladas, blues, trechos de metal neoclássico, era impossível definir nosso estilo. Em 2001 lançamos um EP e daí já entramos no caminho de um hard & heavy tradicional. Nos dois álbuns seguintes, “Arena Of Aliens” (2003) e “Flying N’ Floating” (2006), já nos estabelecemos como um hard rock progressivo a la Uriah Heep. Em “Long Gone” (2009), tivemos nosso álbum mais rock ‘n’ roll; um hard rock visceral, sem teclados e com dois guitarristas pela primeira vez. E por fim, a partir do “Carved In Time” (2013) nos firmamos no atual estilo do Sunroad: um hard & heavy melódico e mais sofisticado e clássico com um pé no hard AOR europeu. Assim se seguiram os álbuns com alguma variação entre eles mas nessa linha, “Wing Seven” (2017), “Heatstrokes” (2019), “Walking The Hemispheres” (2021) e, por fim, o “Sunesthesia”.


Quais artistas e bandas mais influenciaram vocês ao longo da carreira e como essas influências se refletem na música do Sunroad?

No início tivemos como influências bandas que misturavam hard rock, blues e psicodelia como The Cult, Scorpions dos anos 1970, Uriah Heep, Van Halen e Triumph. Ao longo da década de 2010 fomos adentrando um esquema hard rock mais europeu como UFO, Gotthard, Deep Purple, Fair Warning etc. e estamos ainda em constante evolução. [Risos.]


Pensando na trajetória da banda como um todo, quais foram os momentos mais marcantes até agora? Algum show específico ou experiência em particular que você gostaria de compartilhar?

Tivemos vários momentos interessantes, tanto pela alegria como pela preocupação, como a van que quebrou no meio de uma estrada em Minas Gerais em nossa turnê com o Mad Max em 2013, também como nos perdemos em Brasília com o pessoal do Whitecross e os celulares não tinham mais bateria. Na turnê de 2017, ficamos no mesmo camarim com os suecos do Narnia e não sabíamos, acabamos comendo todos os bombons enquanto aguardávamos para subir ao palco. [Risos.] Um hotel fez confusão de reserva na tour com o pessoal do L.A. Guns, e lá se foi todo mundo para um novo hotel atrasando tudo. As histórias ao lado do Joe Lynn Turner são insuperáveis, fantásticas. E um momento legal também foi uma jam com o Whitecross. Christian [Liljegren, vocalista] do Narnia estava tentando me fazer aprender algumas palavras em sueco para falar sobre o time de hockey que ele torcia [Risos.] Teve uma pessoa que nunca vimos que pegou uma guitarra do Stryper e entrou para o backstage e daí para a pista do público sem pagar [Risos.] Tem várias outras histórias também que tenho que me lembrar.



Como o Sunroad encontra seu espaço na cena underground brasileira e como vocês lidam com os desafios de se destacar?

Encontramos nosso nicho de mercado e isso vem com longos anos de contatos e experiência de palco, e também tem o facilitador de eu ter um estúdio para ensaio e gravações e uma van. Isso tudo nos leva a minimizar os gastos e vamos balanceando os cachês com negociações de modo a fecharmos bons shows com bandas nacionais e internacionais e não termos mais prejuízos. Outra coisa que ajudou bastante desde algum tempo foi o fato de iniciarmos nossa produção de álbuns, divulgação e expansão musical na época que o CD estava em seu auge, a primeira metade dos anos 2000 e isso nos permitiu construir e solidificar nossa base de fãs e público consumidor que perdura até hoje; claro, que sem aquele impacto maior de vendas, porém o suficiente para nos manter na mídia especializada.


Você possui um selo, MusiK Records. Pode falar um pouco sobre?

Sempre lanço álbuns de que eu gosto; ou seja, na ideia do hard & heavy clássico, do AOR, do metal neoclássico, do rock progressivo e afins. Entre meus lançamentos, estão três álbuns do Narnia [“Narnia”, “From Darkness to Light” e “Ghost Town”], Scream Taker [projeto paralelo de Honde cujo baterista é Vinnie Appice], Kee of Hearts [do guitarrista Kee Marcello, ex-Europe com o vocalista Tommy Heart, do Fair Warning], a discografia completa dos alemães do Dreamtide e também Pride of Lions [banda de AOR liderada pelo ex-Survivor Jim Peterik] e vários outros. Todos esses lançamentos estão disponíveis através da distribuidora Die Hard Records. Em breve teremos mais novidades!



Saiba mais em facebook.com/sunroadofficial.


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