ENTREVISTA: o novo álbum do Black Stone Cherry nas palavras do guitarrista Ben Wells



É irônico que o único membro do Black Stone Cherry que não estava presente na única vez que a banda veio ao Brasil até agora tenha sido destacado para responder às perguntas deste jornalista brasileiro. Em setembro de 2016, Joe Hottinger, guitarrista do Halestorm, substituiu Ben Wells na apresentação do Maximus Festival, em São Paulo. A perda da oportunidade de conhecer o país naquela ocasião ainda é um ponto sensível para Wells, e ele espera corrigir isso em breve. Ele está determinado a trazer o BSC de volta à América do Sul em, e a vindoura turnê do excelente “Screamin’ at the Sky”, álbum previsto para ser lançado em 29 de setembro, parece ser a oportunidade ideal. Descubra o que Ben tem a dizer sobre o álbum na conversa a seguir. Boa leitura!


Por Marcelo Vieira

Transcrição: Beatriz Cardoso

Fotos: Divulgação / facebook.com/blackstonecherry


Quando li o título do novo álbum, imediatamente visualizei a seguinte cena: um cara olhando para cima, questionando Deus, “por que tudo isso que aconteceu nos últimos anos?” Ou seja, a pandemia. Faz sentido?

Sim, com certeza. Sabe, o legal do título é que pode ser interpretado da maneira que cada um escolher interpretar. Para mim acho que se trata mais de deixar para trás coisas que estavam incomodando você. Não vejo como algo religioso, tipo “Ai, meu Deus, você me abandonou”. É mais como depois de estarmos todos presos nos depararmos com tantas mudanças em nossas vidas pessoais e coisas assim; é como se você apenas inclinasse a cabeça para trás e deixasse pra lá. Então, para nós, é isso que este álbum é: muitas coisas saindo do nosso peito e indo mais fundo; liricamente, é mais pessoal e creio que dialogue mais com as pessoas no mundo.


Então, há um tema recorrente ao longo do álbum, e o título meio que abraça isso.

Acho que sim, e foi por isso que quisemos chamar o álbum de “Screamin’ at the Sky”. Tínhamos a faixa e depois decidimos dar ao álbum esse nome e colocá-la como abertura, porque achamos que ela realmente estabelece o tom. Este não é um álbum conceitual, mas definitivamente fala sobre deixar algumas coisas para trás e superar outras, chegar a um denominador comum. Acho que tínhamos muito a desabafar desta vez e é bom demais poder fazer isso através da música.


Você tem uma música favorita no álbum?

Acho que a própria “Screamin’ at the Sky” e a última faixa, “You Can Have It All”. Gosto muito dessa música por causa da mensagem, que é muito positiva e é isso que queremos também; mesmo que acabemos explorando algumas temáticas mais sombrias, liricamente, sempre queremos ter um desfecho positivo e deixar o ouvinte com uma perspectiva boa. Queremos fazer com que saibam que sempre há uma luz no fim do túnel.



Você poderia me contar como surgiu a ideia de gravar o álbum no The Plaza Theatre?

Sim, chegou a hora de pensarmos na gravação. Você pode gravar guitarras, baixo e quase vocais em qualquer lugar com a tecnologia moderna. Mas para a bateria, sabíamos que precisava ser especial. Em vez de irmos a um grande estúdio em Nashville, Tennessee, Califórnia ou outro lugar, optamos por usar um teatro local chamado Plaza, onde tocamos a cada dois anos perto do Natal. Foi construído em 1934 e é um teatro antigo lindo. Decidimos alugá-lo e gravar todas as partes de bateria lá. Trouxemos equipamentos de gravação e montamos no camarim, que fica abaixo do palco. Passamos cabos para cima, e o kit de bateria do Jon estava montado no palco vazio. O som dentro do teatro era gigante. Fizemos isso duas vezes, gravando a primeira metade do álbum em junho do ano passado e o restante após o Natal e no início deste ano. Tivemos que montar e desmontar tudo duas vezes no teatro, o que foi um pouco chato, mas valeu a pena. Eu costumava sentar no último assento do teatro e assistir à gravação da bateria. Era incrivelmente alto lá dentro, e eu sabia que o resultado seria incrível. E realmente foi.


Qual a importância do The Plaza Theatre na trajetória da banda? 

O Plaza é um lugar muito especial em nossa cidade natal, Glasgow, Kentucky. Foi construído em 1934 e costumava ser um cinema. Depois de um período fechado, foi reformado. Tem um lugar especial no meu coração porque cresci assistindo a pequenos shows e peças lá. Nossa banda também começou a fazer concertos beneficentes lá. É como se fosse nosso próprio teatro pessoal de alguma forma. Nossa cidade se orgulha muito dele, e ele traz muita diversão. Isso adiciona um toque extra especial a este álbum que conseguimos fazer em casa, em nosso teatro, por conta própria.


Quais são os principais desafios de gravar em um ambiente não convencional?

Acho que é garantir que qualquer que seja o som que está buscando, você realmente o esteja obtendo. Um ambiente controlado, como um estúdio, foi projetado exatamente para isso, para gravar. Quando você entra em outro local que pode até ter uma boa acústica, mas não foi projetado para gravação, meio que tem que garantir que a coisa funcione. Quando entramos pela primeira vez para gravar no Plaza, não sabíamos como seria. Pensamos que poderíamos entrar e ouvir a bateria e concluir de cara se daria certo ou não. Felizmente deu certo. Acho que o principal é garantir que você tenha o equipamento certo e a expertise certa . Felizmente tivemos um engenheiro de som chamado Jordan Westfall que cuidou da parte técnica do álbum e fez a mixagem. Ele é meio que um mago especialista. Ainda bem que tivemos ele para ajudar.


Como você descreveria a evolução musical da banda neste álbum em comparação com os anteriores?

Steve Jewell toca baixo conosco agora. Sua técnica é simplesmente de outro nível, ele é incrível, e você pode ouvir isso por todo o álbum. Então, isso adicionou mais uma camada a nós, e acho que, a cada álbum, somos capazes de ousar nas músicas cada vez mais e não apenas sermos tão previsíveis e ceder: “bem, vamos colocar um solo nessa música porque ela precisa de um solo”. Se a música não precisar de um solo, não temos de colocá-lo, ou se o riff está ficando longo demais em uma introdução, basta encurtá-lo, sabe? Acho que agora estamos tentando focar em garantir que nossas músicas sejam coesas, independentemente da estrutura, como uma boa música deve ser, e acho que a cada álbum estamos melhorando nisso.



“Screamin’ at the Sky” vem na esteira de um álbum muito bem-sucedido, que foi o “The Human Condition” (2020). Por que você acha que o “The Human Condition” foi tão bem-sucedido?

Acho que por ele ter sido lançado durante a pandemia as pessoas queriam algo novo e fresco e algo para se animar. Falo até por nós, e a música “Again”, que é uma das mais importantes para nós daquele álbum, simplesmente ressoou com as pessoas naquele momento. Vale para álbum, cada música que lança: você nunca sabe o que vai agradar mais aos fãs, e felizmente aquele álbum foi bem recebido, e todo mundo adorou, o que nos faz sentir muito orgulhosos, porque investimos muito de nós naquele álbum. Quando lança um álbum, você quer que as pessoas o amem, então esse amor é a coisa mais gratificante, é uma sensação maravilhosa.


Você sente alguma pressão para superar o “The Human Condition” em números?

Não sinto. Acho que se colocássemos essa pressão sobre nós mesmos, seria terrível. Em cada álbum queremos fazer melhor do que o anterior, musicalmente falando. Mas em relação a números e coisas do tipo, se você se apegar demais nisso, pode ser realmente desanimador, porque certas coisas levam tempos diferentes, certos álbuns podem ser lançados num ano e se sair melhor passados alguns anos. Tudo depende de onde as pessoas estão em suas vidas e onde está a indústria da música. Mesmo quando lançarmos este álbum, pode ser que haja um novo serviço de streaming surgindo em setembro, quem sabe? 


Com mais de vinte anos de carreira, houve muitas conquistas ao longo do caminho. Abrir para o Guns N’ Roses no Download Festival, gravar um DVD no Royal Albert Hall. Na sua opinião, qual feito foi o mais notável?

Tocar com o Guns na frente de mais de 100 mil pessoas foi bastante notável. Mas tocar no Royal Albert Hall foi algo que queríamos fazer há muito, muito tempo, e saber que a lista de espera para tocar lá é absurdamente longa e você precisa ser aprovado por um comitê para tocar lá etc. fez com que aquele show realmente significasse muito para nós. E acho que por isso decidimos gravá-lo. Minha família estava na plateia, o que foi realmente especial. Acho que essa é uma conquista da qual tenho muito, muito orgulho.


Infelizmente, você não pôde vir ao Brasil junto com a banda em 2016, mas o que sabe sobre a música brasileira e a cultura daqui em geral?

Não quero soar desrespeitoso dizendo que sei muito, pois provavelmente não sou tão versado quanto deveria. No entanto, tenho grande apreço pela culinária brasileira e pela cultura do Brasil. Posso afirmar isso com base na paixão demonstrada pelos nossos fãs brasileiros nas redes sociais. É realmente inspirador ver a dedicação e a paixão dos fãs brasileiros pela música. Recebemos mensagens diárias de pessoas nos convidando para visitar o Brasil, e eu penso: “Eles não desistem!” Adoro essa energia! Para mim, isso é extremamente inspirador e só aumenta minha vontade de conhecer o Brasil, todos esses fãs e compartilhar nossa música com eles. Mal posso esperar por essa oportunidade.



http://www.blackstonecherry.com/


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