ENTREVISTA: Christos Antoniou (Septicflesh) compartilha sua visão sobre Brasil, “Modern Primitive” e os 15 anos de “Communion”

 


Christos Antoniou não é sujeito de muitas palavras. O guitarrista, um dos três pilares do grego Septicflesh, que fundou em 1990 com o irmão Seth Siro Anton (baixo e vocais) e o também guitarrista Sotiris Vayenas, falou pouco, mas deu o seu recado em relação à vindoura turnê da banda pelo Brasil, promovendo o ótimo “Modern Primitive” (2022); celebrou os 15 anos de “Communion” (2008), um de seus trabalhos mais conceituados; atualizou o status do projeto paralelo Chaostar; e dividiu, ao término da entrevista que você está prestes a ler, algumas pílulas de sabedoria adquiridas ao longo de mais de três décadas de carreira.

Boa leitura!


Por Marcelo Vieira

Transcrição: Leonardo Bondioli

Fotos: Divulgação


Marcelo Vieira: Esta será a segunda vez que o Septicflesh tocará no Brasil. Antes de mais nada, quais lembranças ficaram da primeira vinda, em 2017?

Christos Antoniou: A primeira vinda foi ótima, temos ótimas lembranças. A plateia foi ótima, a resposta foi enérgica, muita empolgação, muita energia. Também tivemos algum tempo livre para ir conhecer um pouco o Rio de Janeiro, fomos à Praia de Copacabana e lugares assim. Bons dias.


MV: O que você mais gostou daqui?

CA: A comida, as bebidas, as praias; tudo foi ótimo.


MV: Quais são suas expectativas para esta turnê em relação ao país e aos fãs brasileiros? 

CA: Acredito que será ainda melhor. Agora conhecemos o público brasileiro e vamos dar o nosso melhor, como sempre.


MV: Vai haver alguma surpresa para os fãs brasileiros?

CA: O que pode ser surpreendente para os fãs brasileiros? Eu não sei...


MV: Talvez uma música que vocês não tocam há muito tempo, algo assim.

CA: No momento, estamos promovendo o novo álbum, e este é o nosso objetivo, mas será ótimo. Acho que será melhor do que da primeira vez.


MV: O novo álbum, “Modern Primitive”, marcou a estreia de vocês pela Nuclear Blast Records. Gostaria de entender como se deu essa mudança de gravadora, da Season of Mist para a Nuclear Blast.

CA: Fizemos quatro álbuns com a Season of Mist, que ajudou muito a banda, financeiramente e na parte da divulgação, mas chegou a hora de seguir em frente. Não que a Season of Mist tenha ficado ruim, mas queríamos ir além, e a Nuclear Blast é a maior referência, sem dúvidas. Recebemos propostas de outros selos, mas nosso sonho sempre foi fazer parte da Nuclear Blast, e aqui estamos agora.


MV: Como se sentem nesta casa nova? Cem por cento de satisfação?

CA: Sempre há espaço para melhorias. Sei que as gravadoras e as bandas têm que se recuperar do impacto da pandemia e de outras coisas também. Não foi fácil o [processo que levou ao] “Modern Primitive”, mas acredito que tudo vai melhorar quando as coisas estiverem mais estáveis. O mundo está em crise, com todas essas guerras acontecendo, mas precisamos ser otimistas.


MV: Do ponto de vista musical, em que aspectos você crê que o “Modern Primitive” se diferencie dos álbuns que o antecederam? 

CA: Para nós, um álbum é sempre um desafio. Sempre tentamos experimentar, desenvolver nosso som, dar algo de novo ao nosso ouvinte. Não queremos ser repetitivos. Quisemos algo mais orientado pela guitarra em “Modern Primitive”, [que soasse] mais brutal do o “Codex Omega” (2017), e acredito que conseguimos isso. Só nossos ouvintes podem nos julgar, mas nosso esforço foi honesto, foi o álbum mais difícil que já fizemos. E creio que o sucessor do “Modern Primitive” será ainda mais, porque somos muito, muito, muito exigentes com a nossa música.


MV: Você sente que está ficando cada vez mais difícil inovar a cada disco?

CA: Não diria “inovar”, pois nunca lançaremos um disco de jazz ou coisa do tipo, mas procurar fazer coisas que não fizemos antes; esse é o segredo para nós para não sermos repetitivos. Além disso, um álbum nosso leva no mínimo três anos para ficar pronto, porque não criamos música facilmente. Levamos tempo até chegar num resultado que nos satisfaça.



MV: O Septicflesh é conhecido por incorporar elementos sinfônicos e coros em sua música. Eu queria entender de onde vem isso. Vocês ouvem coisas fora do metal?

CA: Eu, meu irmão e Sotiris somos grandes fãs de trilhas sonoras. Tivemos as mesmas influências no metal, mas nosso amor por trilhas sonoras ficou muito evidente nos últimos álbuns com o uso de orquestras. Sempre quisemos combinar esses dois mundos diferentes, trilhas sonoras de filmes e metal, e acredito que conseguimos isso. Nossas músicas têm uma identidade, um som peculiar, estranho, único e continuará tendo.


MV: Então podemos dizer que gravar o ao vivo “Infernus Sinfonica MMXIX” (2020) com uma orquestra completa foi um sonho realizado para vocês?

CA: Sem dúvida, mas você tem que continuar sonhando para se desenvolver; e temos mais a oferecer. Vamos ver o que vem a seguir, mas, com certeza, esse ao vivo foi nosso melhor momento até que venha o próximo.


MV: Que artistas os seus fãs ficariam surpresos ao descobrir que você ouve?

CA: Não sei se eles vão ficar surpresos, pois não sou o tipo de cara que diria “Eu ouço Britney Spears”. Ouço muitas coisas, não tanto metal nos dias de hoje porque não sou fã das novas bandas, mas nada que vá surpreender os meus fãs.


MV: “Communion” é frequentemente considerado um marco na discografia da banda. Como vocês veem a importância desse álbum na evolução do som do Septicflesh e o que ele representa para vocês?

CA: Foi o nosso retorno. Foi a primeira vez que lançamos por um selo profissional e forte. Foi a primeira vez que usamos uma orquestra de verdade. Foi a primeira vez que caímos na estrada, contratamos um empresário e uma agência de reservas. “Communion” foi um marco para o Septicflesh, porque muitas coisas aconteceram após seu lançamento. O disco deu um pontapé inicial no nosso segundo período, que é o mais ativo, o mais importante da banda. Nunca poderíamos imaginar que voltaríamos tão fortes, mas voltamos e conseguimos lançar um álbum que, acredito, se tornará um clássico.


MV: Quais as memórias mais marcantes que você guarda desse período?

CA: Durante esse período, começamos a fazer coisas que não fazíamos antes, como nossa primeira turnê, de 54 shows na Europa, uma experiência única para nós. Não éramos uma banda que caía na estrada; tínhamos feito apenas duas turnês, com um máximo de 30 shows cada, e agora fizemos, somente na Europa, com Cradle of Filth, Gorgoroth e Moonspell, quase o dobro. Depois, fomos pela primeira vez para a América do Norte, com Satyricon e Cradle of Filth. São muitas lembranças porque, como eu disse, tudo era novidade para nós naquele momento e muitas coisas estavam acontecendo; um período muito ativo e ocupado para o Septicflesh.


MV: As letras do “Communion” abordam temas sombrios e metafóricos. Como essa temática se relaciona com as crenças da banda como um todo?

CA: As letras são de autoria do Sotiris, que é um cara muito letrado, mas compartilhamos de seu amor pela filosofia, pelas civilizações antigas e pelo ocultismo. A química dos três principais compositores do Septicflesh é evidente em todos os aspectos da banda. Este é o segredo, eu diria, de estarmos com a mesma formação há tantos anos. Sotiris é um letrista bárbaro que escreve letras incríveis, profundas, que fazem você refletir e com as quais você pode até sonhar.



MV: O último álbum do Chaostar, “The Undivided Light”, foi lançado em 2018. Há alguma novidade sobre a banda?

CA: Não, pois estou muito ocupado em outros projetos. Paralelo à turnê do “Modern Primitive”, estou trabalhando na trilha sonora de um game. Portanto, o Chaostar está em stand-by, mas nunca se sabe, né? Hoje, está fora dos meus planos.


MV: Podemos dizer que no Chaostar você tem um espaço onde pode desenvolver ideias que não se encaixariam bem no Septicflesh?

CA: Até que sim, mas este não foi o único motivo [de eu ter formado a banda]. Naquela época, eu queria compor algo que fosse apenas atmosférico, sem quaisquer elementos do metal, e o Chaostar supriu essa vontade em mim.


MV: Já são mais de 30 anos de atividades. O que você diria que aprendeu de mais importante nesse tempo todo?

CA: O mais importante foi a ter uma visão e, assim, cometer o menor número de erros possível. Você vai cometer muitos erros, mas se conseguir minimizá-los, o caminho será mais fácil. Ter uma visão e minimizar os erros pode levá-lo a dar passos importantes que o ajudarão em sua carreira.


MV: Como manter o gás e a vontade de fazer cada vez mais e melhor?

CA: A música é o ar que eu respiro, é a razão de viver. Sou um compositor, um músico, esse desejo [por fazer música] nunca vai acabar. E todos no Septicflesh têm esse fogo, e esse fogo nos faz buscar coisas que não sejam repetitivas. Quando percebermos que o fogo se extinguiu, vamos encerrar a banda.


MV: Tem algo que você gostaria de fazer, musicalmente falando, e ainda não fez?

CA: Trilhas sonoras de filmes e games. Na real, estou fazendo a trilha sonora de um game, e vou gravar com uma orquestra em março [de 2024]. Se filmes vierem no futuro, é claro que toparei fazer. Sempre procurei fazer coisas que me façam feliz de alguma forma, e até agora tenho conseguido isso.


MV: Que legado você espera deixar quando resolver se aposentar?

CA: Quero que a música do Septicflesh sobreviva ao teste do tempo e que nossa música seja ouvida no futuro. Isso é o mais importante para um artista; que sua obra não seja apenas entretenimento momentâneo e desapareça.



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