A música tem o poder de nos levar a lugares inimagináveis, moldando nossas vidas de maneiras únicas e surpreendentes. Para o italiano Mistheria, essa jornada começou cedo, influenciada pelo amor de seu pai pela música. Dos primeiros acordes de um acordeão aos seis anos de idade até sua graduação na academia de música na Itália, ele encontrou nas teclas sua paixão e sua voz.
Nesta entrevista, o tecladista da presente turnê brasileira de Bruce Dickinson, que termina neste sábado (4) com apresentação em São Paulo (SP), nos leva por essa trajetória de descoberta musical e compartilha suas experiências desde as primeiras influências até suas colaborações mais recentes e emocionantes, incluindo “The Mandrake Project”, a recém-lançada oferta solo do vocalista do Iron Maiden.
Boa leitura!
Por Marcelo Vieira
Fotos: Paty Sigliano
Antes de mais nada, por que você escolheu os teclados?
Isso é bastante simples. Quando eu era criança, tinha uns seis anos, meu pai, que ainda é um amante da música, colocou um acordeão no meu colo, e foi assim que comecei com a música. Então, entrei na academia de música na Itália, e aqui estou eu agora, yeah, quem diria?!
A Itália tem uma forte tradição no heavy metal de contornos épicos e sinfônicos. Gostaria que você falasse um pouco sobre os artistas e bandas do seu país que primeiro e mais te influenciaram a se tornar músico.
Entrei no cenário do metal um pouco tarde porque estava estudando na academia de música, então, eu tinha uns 20, 21 anos quando comecei a compor e tocar metal de verdade. Antes, eu apenas ouvia alguns álbuns aqui e ali de forma aleatória porque estudava oito, dez horas por dia, então realmente não tinha tempo para outras coisas além da música clássica. Naquela época, comecei a ouvir bandas da Itália, como Labyrinth e Vision Divine, que basicamente eram as mais conhecidas na época e que abriram meus olhos para o metal sinfônico. Mais tarde, descobri outras bandas [de outros países], como Nightwish, Epica e Stratovarius.
Sua discografia inclui mais de 100 álbuns, incluindo suas próprias produções e de outras bandas, abrangendo desde música clássica até o metal, new age a trilhas sonoras, pop ao rock. Qual desses estilos é o seu favorito para tocar?
Difícil escolher, porque só toco o que eu gosto, então pode ser desde disco music até uma música pop. Sendo um músico clássico, eu amo combinar música clássica com outros estilos. Foi por isso que comecei também meu projeto Vivaldi Metal, que é um projeto de metal sinfônico e cinematográfico no qual combino música clássica e metal, mas também em minha discografia, como você disse, há trilhas sonoras porque também adoro compor.
Sua colaboração mais recente e notável foi com Bruce Dickinson no recém-lançado “The Mandrake Project”. Seria esse um caso típico de um fã se tornando colega de banda?
Pode-se dizer que sim. Quando comecei a ouvir os álbuns solo do Bruce, foi por volta de 1993, 1994, algo assim. Depois, mais tarde, fiz uma viagem para os Estados Unidos, parei na Flórida, onde conheci Rob Rock, que estava sendo produzido por Roy Z naquela época. E então, depois daquele encontro, recebi uma ligação do Roy pedindo para gravar em um álbum do Bruce, o que foi bastante surpreendente e inesperado. Portanto, é meio que curioso que tenhamos nos tornado colegas de banda. Muitos anos já se passaram [desde então], mais de duas décadas.
Do ponto de vista da composição musical e do pano de fundo temático, que aspectos você destacaria em “The Mandrake Project” que o tornam tão especial?
Talvez, a atmosfera cinematográfica, teatral, mais ou menos sombria, que influenciou todo o álbum, todas as composições, e algumas das músicas têm, é claro, uma boa quantidade de sons de minha parte que destacam essas atmosferas que me pediram para enfatizar. Essa combinação entre metal e trilha sonora é o que eu mais gosto [neste disco]. Em comparação com os álbuns anteriores do Bruce, é claro. Também o trabalho de guitarra e a própria composição são incríveis, mas esses elementos cinematográficos talvez sejam novos para os álbuns do Bruce, então fiquei muito, muito feliz em trabalhar nesse lado do álbum.
Você sente que a banda consegue transmitir os tais elementos cinematográficos do álbum para o palco?
Sem dúvida. Estamos fazendo o show sem nenhum playback, nenhuma base pré-gravada, nada; é tudo ao vivo, e a banda está, modéstia à parte, na ponta dos cascos. A cada show estamos ficando ainda mais entrosados, e o som é mortífero, também graças aos engenheiros de som incríveis que temos, que são como o sétimo membro da banda.
Como está indo a turnê até agora?
A turnê está sendo incrível. Tivemos um ótimo começo em Los Angeles e até agora tivemos shows no México e no Brasil. Temos recebido várias resenhas e devo dizer que li apenas comentários positivos sobre a turnê, então estou muito feliz.
A plateia brasileira atendeu às suas expectativas, em particular?
Eu diria que até superaram as expectativas. Sei que estavam todos empolgados porque antes de chegarmos ao Brasil, recebíamos muitas mensagens e comentários de pessoas que estavam esperando ansiosamente pelo show e que acabaram tornando nossa passagem pelo país uma experiência maravilhosa. Tudo parece um sonho.
Embora você nunca tenha vindo ao Brasil antes, o que sabe sobre a cultura e especialmente a música daqui?
Tenho amigos do Brasil, alguns deles até moram na Itália e outros conheci na minha temporada em Los Angeles, então eu já conhecia um pouco da cultura brasileira, mas é claro que sei muito mais sobre a música, tradicional e moderna, e o metal. Só para citar alguns, sou amigo dos caras do Angra; Edu Falaschi, com quem fiz alguns concertos na Itália, e Felipe Andreoli; Andreas Kisser do Sepultura e muitos outros músicos. A cena metal brasileira é bem conhecida na Europa.
Após o término da turnê, quais são os planos para você?
Depois que a turnê encerrar [em agosto], vou tirar umas férias na Itália e depois voltarei aos meus dois projetos, o Vivaldi Metal, com o qual devo ter alguns shows no final de setembro, e meu álbum solo de metal, que ainda está em andamento. Esses são, por enquanto, meus dois objetivos artísticos para este ano, além, é claro, de dar aulas e produzir e minha parceria com a Yamaha, para a qual gravo demonstrações de teclados e pianos. Mas a primeira coisa depois da turnê, será tirar umas semanas à beira-mar na Itália. [Risos.]
Para encerrarmos, se eu te pedisse para recomendar alguns álbuns para conhecer teclados e pianos marcantes no rock e no metal, quais você recomendaria?
Recomendaria [álbuns] das bandas e tecladistas que mais me influenciaram, então, começaria com “Burn” (1974) e “Machine Head” (1972), do Deep Purple, bem como qualquer outra coisa que fizeram com Jon Lord, que é simplesmente um dos meus ídolos, então a discografia do Purple [com Lord] é obrigatória para saber como usar teclados no rock e no metal. Depois, eu mencionaria minha segunda maior influência, Keith Emerson, do Emerson, Lake & Palmer. “Tarkus” (1971) é seu álbum mais sombrio; é algo incrível, especialmente para aquela época. Mais perto dos nossos tempos, tem o Dream Theater, sobretudo [os álbuns] “Images and Words” (1992) e “Awake” (1994); ótimos trabalhos de teclado [do tecladista Kevin Moore]. O primeiro álbum de metal que ouvi, por sugestão de um amigo, foi “Trilogy” (1986), do Yngwie Malmsteen, e Jens Johansson é um tecladista incrível. Por fim, gostaria de mencionar meu querido colega, que infelizmente nos deixou cedo demais, Vitalij Kuprij. Ele tem dois álbuns incríveis, “High Definition” (1997) e “Extreme Measures” (1998), que realmente destacaram os teclados no metal de uma maneira impressionante.
Ingressos aqui.
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