Nessa entrevista exclusiva, o vocalista Dave Hill compartilha detalhes sobre o processo criativo por trás de “Invincible”, o novo álbum do Demon, revelando que, embora não seja um álbum conceitual, a capa e o título refletem uma ideia de imortalidade e resiliência humana. Ele explica que o álbum, distribuído no Brasil pela Shinigami Records, nasceu no meio da pandemia, um período de isolamento que impulsionou a banda a escrever novas músicas.
Hill destaca o som diversificado de “Invincible”, que combina elementos pesados com passagens épicas, resultando em uma obra que representa uma síntese da carreira do lendário nome da New Wave of British Heavy Metal. A recepção positiva do álbum parece ter revivido o interesse pelo grupo, que está celebrando 45 anos de sua carreira. Hill reflete sobre a importância do movimento do qual eles originalmente faziam parte.
Apesar das dificuldades enfrentadas, o Demon conseguiu se manter ativo e relevante graças à dedicação de seus membros e à constante busca por inovação musical. Finalmente, ele espera que o Brasil seja incluído no atual itinerário da turnê comemorativa.
Boa leitura!
Por Marcelo Vieira
Fotos: Frontiers Records / Divulgação
Marcelo Vieira: Analisando a capa, o título e a arte de “Invincible”, me ocorreu que é uma homenagem à humanidade, certo? Tipo, céus e terras passarão, mas nós, humanos, ficaremos de pé. Estou errado?
Dave Hill: Sim, quero dizer, o álbum não é conceitual no sentido tradicional. A capa, por sua vez, foi inspirada em uma ideia interessante. O designer [Alex Cooper] me contou sobre uma tribo antiga, os Adma e Ucar, e a capa retrata essa civilização. O título “Invincible” veio da ideia de que, tendo existido por tanto tempo, uma banda se torna invencível. As músicas já estavam prontas, mas a capa se encaixou perfeitamente. Embora o álbum não tenha um conceito unificado, cada música carrega o seu próprio significado.
Marcelo Vieira: Quais experiências o inspiraram pessoalmente durante o processo criativo do álbum?
Dave Hill: Na verdade, este álbum é um filho da pandemia. Com tudo parado, as bandas foram forçadas a uma pausa. Neil [Ogden], nosso baterista, e eu aproveitamos esse tempo para compor. Trocamos ideias e, quando a situação começou a melhorar, tínhamos um montão de material novo. Decidimos que era hora de celebrar e criar algo positivo, então entramos em estúdio. Foi uma forma de dar um novo começo para a banda e para nós mesmos.
Marcelo Vieira: Quais são as principais diferenças entre “Invincible” e os álbuns anteriores do Demon?
Dave Hill: Muitos fãs têm comparado este álbum a um “best of” do Demon. E de certa forma, eles estão certos. Ele reúne o melhor de todas as nossas fases. Temos músicas pesadas como “Face the Master” e “In My Blood”, que fazem jus à nossa sonoridade mais agressiva. Mas também temos faixas épicas, que remetem aos nossos trabalhos de meados dos anos 2000. Essa mistura se deve ao entusiasmo que sentimos ao voltar para o estúdio após a pandemia. Com todas as nossas turnês canceladas, tivemos tempo de compor e explorar diferentes sonoridades. O resultado é um álbum que abrange toda a nossa trajetória.
Marcelo Vieira: O que você espera que os fãs de longa data do Demon sintam ao ouvir este novo trabalho?
Dave Hill: Tenho feito diversas entrevistas pela Europa, Japão e agora, América do Sul. A recepção do álbum tem sido incrível! Em todos os lugares, as pessoas demonstram entusiasmo e gratidão. É como se a banda estivesse vivendo um renascimento. Mesmo com uma trajetória consistente, este álbum nos proporcionou uma energia especial. A cada entrevista, ouço elogios. É muito gratificante saber que o público está conectando com o nosso trabalho.
Marcelo Vieira: Você sente que está alcançando novos fãs?
Dave Hill: É incrível a repercussão que o álbum está tendo! Temos recebido muitos pedidos de entrevistas e os feedbacks têm sido muito positivos. Confesso que não esperava um interesse tão grande em uma banda com 45 anos de carreira. Sempre fomos considerados uma banda cult, mas é emocionante ver que as pessoas ainda cantam as músicas do nosso primeiro álbum [“Night of the Demon” (1981)]. Quando subimos ao palco, o público espera ouvir clássicos como “Don’t Break the Circle” e “Night of the Demon”. É gratificante saber que, mesmo tocando ao lado de bandas mais novas, como as de thrash e death metal, o público continua conectado com a nossa música. Essa longevidade é algo que nunca imaginei quando escrevemos “Night of the Demon”. Parece que há uma nova onda de respeito pelo rock clássico e o nosso som se encaixa perfeitamente nesse cenário. É como se as pessoas reconhecessem a nossa persistência em manter um padrão de qualidade musical ao longo dos anos.
Marcelo Vieira: O Demon completou 45 anos de carreira. Qual é o segredo para manter a banda viva e relevante por tanto tempo?
Dave Hill: A formação atual [Hill, Ogden, os guitarristas Dave Cotterhill e Paul Hume, o baixista Paul Fasker Johnson e o tecladista Karl Waye] está junta há quase 20 anos, o que é um feito incrível. Acreditamos que a longevidade se deve, em grande parte, à paixão que cada membro tem pela música. Somos como uma família, sempre unidos e nos apoiando. Mesmo quando algum imprevisto acontece durante um show, como um problema com o equipamento, todos se unem para resolver a situação. Esse entusiasmo mútuo é o que nos impulsiona a seguir em frente, sempre ansiosos pelo próximo show e pelas novas experiências.
Marcelo Vieira: Como você vê a importância do New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) para a história do rock?
Dave Hill: É curioso que só anos depois de começarmos a tocar, descobri que fazíamos parte desse movimento. Na época, estávamos apenas fazendo música e tocando em qualquer lugar que nos aceitasse. Nunca tive a chance de ver muitas dessas bandas [da NWOBHM] ao vivo, já que estávamos sempre em turnê. Mas, com o tempo, percebi a importância desse movimento para a história do rock. Quando fomos ao Japão para celebrar os 45 anos da NWOBHM, fiquei impressionado com a quantidade de fãs e bandas que ainda reverenciam aquele período. Bandas como Saxon, Def Leppard e Iron Maiden surgiram desse movimento e deixaram um legado duradouro. Embora a NWOBHM tenha diminuído de intensidade, sua influência continua presente na música até hoje.
Marcelo Vieira: Em quais aspectos específicos você acredita que o Demon diferia das outras bandas do movimento?
Dave Hill: Acho que, em grande parte, à nossa capacidade de nos adaptar. Quando o Thrash Metal, o Glam Metal e o rock americano dominaram o cenário, o espaço para bandas da New Wave of British Heavy Metal ficou cada vez menor. Muitas delas se separaram, mas tivemos a sorte de conquistar um público fiel na Europa continental, principalmente na França e na Alemanha. Isso nos permitiu continuar tocando e evoluindo. Além disso, nunca tivemos a intenção de repetir a mesma fórmula em nossos álbuns. Influenciados por bandas como Deep Purple, Pink Floyd e Black Sabbath, sempre buscamos explorar novas sonoridades e experimentar com diferentes estilos musicais.
Marcelo Vieira: Além de “Invincible”, “Night of the Demon”, “The Unexpected Guest” (1982) e “The Plague” (1983) foram recentemente relançados em CD no Brasil. Qual é a importância dessa trilogia, especialmente “Night of the Demon” e sua faixa-título, para o Demon?
Dave Hill: Acredito que esses álbuns são fundamentais para a nossa trajetória. Mesmo tendo participado ativamente da criação deles, ainda sinto uma profunda gratidão. Sem “Night of the Demon” e “The Unexpected Guest”, não estaríamos onde estamos hoje. É incrível ver como esses álbuns são conhecidos mundialmente, até mesmo em lugares remotos.
Recentemente, remixamos “The Unexpected Guest” para aprimorar a qualidade do som. Apesar de ser um clássico, sentimos a necessidade de adicionar mais graves às faixas. A resposta do público foi muito positiva, o que nos mostra a importância desses álbuns para os nossos fãs. No entanto, acreditamos que a versão original também tem seu valor e não queremos alterar nada que possa desagradar os fãs mais antigos.
Marcelo Vieira: O Demon nunca esteve no Brasil. Já está na hora, não é? Há algum plano para finalmente fazer isso acontecer?
Dave Hill: Espero que sim, pois a recepção do público brasileiro está sendo incrível! Já conversei com alguns fãs e percebi que a paixão deles pelo nosso trabalho é semelhante à do público japonês. No Japão, sempre tivemos uma base de fãs fiel e costumamos receber convites para tocar por lá. Infelizmente, a pandemia e alguns problemas políticos adiaram nossas viagens, mas finalmente conseguimos ir e a experiência foi inesquecível. Os fãs nos receberam com muito carinho, trazendo álbuns e singles que nem mesmo eu tinha mais.
A América do Sul está no nosso radar há algum tempo. Já conversamos com promotores e recebemos muitos convites para tocar em países como a Colômbia. Mas o Brasil é um lugar especial e queremos muito nos apresentar por aí. Com o lançamento do nosso novo álbum, o interesse pelo Demon aumentou ainda mais. Muitos fãs antigos e novos estão ansiosos para nos ver ao vivo. Esperamos que o Brasil seja o próximo destino da nossa turnê.
Marcelo Vieira: Para concluir, qual legado você gostaria que o Demon deixasse para as futuras gerações de fãs?
Dave Hill: O que sempre me motivou, desde os primórdios da banda ao lado do Mal Spooner [guitarrista e cofundador do Demon, morto em 1984], era deixar um legado no rock. Nunca buscamos fama ou fortuna, mas sim a oportunidade de criar música autêntica e impactante. Claro, um pouco de sucesso comercial não faria mal, mas o mais importante era fazer algo que durasse. É gratificante saber que, após 45 anos, ainda somos lembrados e que nossa música continua a tocar as pessoas. A jornada foi longa e cheia de desafios, mas cada momento valeu a pena. Ver que conseguimos construir uma carreira sólida e influenciar outras bandas é uma grande recompensa.
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