ENTREVISTA: Andy Burgess fala sobre novo álbum do Praying Mantis e promete vinda da banda ao Brasil para 2025


Na entrevista que você está prestes a ler, Andy Burgess, guitarrista do Praying Mantis, reflete sobre o processo criativo e a evolução sonora da banda no novo álbum “Defiance”, distribuído no Brasil pela Shinigami Records. Ele explica como o grupo manteve suas raízes melódicas e a influência do AOR, elementos que os diferenciam de outras bandas da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM). A colaboração entre os membros, o foco em melodias fortes e backing vocals marcantes são características que continuam a definir a identidade do Praying Mantis, mesmo após mais de cinco décadas de existência.

Além disso, Burgess fala sobre a recepção positiva do álbum, especialmente no Japão, onde a banda realizou uma turnê comemorando seu 50º aniversário. Ele também compartilha histórias curiosas, como a regravação da faixa “I Surrender”, de Russ Ballard — mais famosa pela versão do Rainbow de 1981 —, e comenta sobre o desejo de finalmente tocar na América do Sul, com planos para uma turnê no Brasil em 2025.

Boa leitura!


Por Marcelo Vieira

Fotos: facebook.com/PrayingMantisUKRockMetal


O press release sugere uma evolução na sonoridade da banda entre “Katharsis” (2022) e “Defiance”. Poderia explicar como o álbum mais recente explora e aprofunda os elementos presentes em seu antecessor, ao mesmo tempo em que mantém a identidade sonora da banda?

No “Legacy” (2015), [os irmãos Tino Troy (guitarra) e Chris Troy (baixo), que começaram a banda em 1974, e eu] trouxemos dois músicos holandeses, o vocalista John Cuijpers e o baterista Hans In’t Zandt. Os últimos quatro álbuns, incluindo “Defiance”, foram com essa formação. Com o tempo, desenvolvemos um som distinto e um método de trabalho que realmente nos convém.

“Defiance” continua de onde “Katharsis” parou. Chris, Tino e eu ainda mantemos o estilo melódico e os backing vocals que sempre diferenciaram o Praying Mantis de outras bandas da NWOBHM. Enquanto muito do movimento se concentra em música pesada com guitarra, o Mantis sempre enfatizou melodia e harmonias.

O processo de composição é bastante colaborativo. Chris, Tino e eu contribuímos com músicas, e trabalhamos em nossos home studios, compartilhando ideias e reunindo nosso trabalho. As harmonias de guitarra dupla e os backing vocals fortes são os elementos chave que continuam a definir o Praying Mantis, e é a isso que permanecemos fiéis.


Eu diria que “Defiance” tem um som mais melódico e influenciado pelo AOR em comparação com alguns dos trabalhos anteriores do Praying Mantis. Foi uma decisão consciente ou o som evoluiu naturalmente?

Não foi uma decisão consciente — é apenas [resultado de] como escrevemos. Colocamos ideias na panela, e as músicas que se destacam com melodias e refrões fortes naturalmente vêm à tona. Nunca fomos uma banda de “metal” propriamente dito, mesmo nos primórdios. Se você ouvir “Time Tells No Lies” (1981), o som sempre foi mais melodic rock do que metal puro.

Hoje em dia, temos mais recursos à nossa disposição — teclados, técnicas de gravação mais sofisticadas — e nossas influências pendem para o melodic rock. Ainda dividimos shows com bandas da NWOBHM em festivais, o que cria uma mistura interessante que funciona. Acabamos de terminar uma turnê bem-sucedida no Japão, onde o público foi realmente receptivo a essa mistura de estilos. É uma fórmula que gostamos e continua a ressoar com os fãs.


Neal Kay, o lendário DJ, destacou o Praying Mantis como a banda da NWOBHM com maior potencial não realizado. Comparando-os com bandas como Iron Maiden e Def Leppard, quais fatores internos ou externos podem ter limitado o sucesso de vocês?

Há muitas teorias, e Tino e Chris provavelmente poderiam contá-las melhor. Mas acho que tudo se resume a decisões de gestão e timing. As oportunidades definitivamente estavam lá, mas as coisas não se alinharam perfeitamente. Tino e Chris também tinham famílias e outros interesses, então isso pesou.

Bandas como o Iron Maiden tiveram uma equipe de gestão muito forte desde o início, com uma visão clara e uma imagem icônica. Para o Mantis, as coisas se perderam um pouco entre o “Time Tells No Lies” e nosso sucesso inicial no Japão. Mas, honestamente, estamos felizes com onde estamos agora. Claro, adoraríamos ter nosso próprio jato particular, mas não há muitas bandas nessa posição hoje em dia. Somos maduros, gostamos do que fazemos e podemos viajar e nos apresentar ao redor do mundo. Poderia ter sido diferente, mas estamos contentes com o resultado.



É notável a longevidade de bandas como o Praying Mantis, que continuam a produzir álbuns de qualidade. Na sua opinião, o que permite que bandas da NWOBHM mantenham a relevância após tantos anos?

Sim, é ótimo! Fazemos muitas turnês pela Europa, especialmente na Alemanha, e frequentemente tocamos com bandas como o Demon. Ainda há muitas bandas dos primórdios que seguem fortes. Lembro-me de ser fã em 1979, indo a shows em Londres onde você podia ver bandas como Iron Maiden, Praying Mantis e outras em pequenos clubes. Foi uma época incrível, a NWOBHM.

Hoje em dia, a estrutura é diferente, e não há a mesma rede de locais, então temos que ser mais estratégicos. Mas vemos as mesmas bandas ainda fazendo isso, e todos nós amamos o que fazemos. A paixão ainda está lá, e felizmente, ainda estamos todos vivos e com saúde!


Andy Boulton do Tokyo Blade mencionou ter superado a pressão de viver do passado e que isso lhe possibilitou mais liberdade criativa. Você acha que esse sentimento também se aplica ao Praying Mantis?

Com certeza. Estamos na Frontiers Records, uma gravadora conhecida por suas bandas no estilo AOR, e isso nos convém bem. Não escrevemos especificamente para a gravadora, mas o material que produzimos se encaixa perfeitamente nela. Quando tocamos ao vivo, especialmente em lugares como Alemanha ou Japão, tocamos muito do nosso material antigo também, porque é isso que alguns fãs querem ouvir.

Ao mesmo tempo, temos a liberdade criativa de escrever novas músicas sem nos sentirmos presos ao nosso passado. Entendemos o legado e por que as pessoas vêm nos ver, e gostamos de tocar as faixas mais antigas tanto quanto as novas. Mas como músicos, não queremos ficar presos em 1979 — precisamos seguir em frente, mas ainda honrando o passado.


O álbum traz um cover de “I Surrender”, de Russ Ballard. Você pode explicar a decisão de revisitar essa música e como vocês imprimiram sua própria marca nela?

Na verdade, foi ideia minha. Há uma história dos anos 1970, quando o Praying Mantis recebeu a música, e chegou a gravá-la em uma demo. Mas então disseram a eles que o Rainbow a lançaria, e sua versão se tornou sucesso no mundo todo. [Como essa] é uma história que surge de vez em quando, pensei: “Por que não tentar de novo?”

Gravei todas as bases, e quando John veio à Inglaterra, nós o levamos ao estúdio para gravar os vocais. Funcionou muito bem. Tino adicionou uma linha de guitarra que deu mais um toque de Praying Mantis, e não estávamos tentando refazer a música, mas apenas dar a ela nosso próprio toque. Foi divertido gravar, e é uma ótima faixa. Na verdade, percebemos depois da nossa turnê no Japão que deveríamos tê-la tocado ao vivo lá — teria sido bem recebida!


Várias resenhas têm destacado as faixas “Forever In My Heart” e “Standing Tall”. Quais, além delas, se destacam para você pessoalmente?

Temos tocado “Standing Tall” ao vivo, e é definitivamente diferente da NWOBHM — tem uma batida disco! Tino a escreveu, e quando ele tocou para mim pela primeira vez, pensei: “Isso vai ser demais!” Ela se tornou parte do nosso set ao vivo, e é interessante ver uma casa cheia de fãs de rock dançando esse ritmo, mas funciona!

“Forever In My Heart” foi outra música que surgiu rapidamente, com base em uma melodia que John trouxe. É uma daquelas faixas que se desenvolveram suavemente. 

Para mim, gosto particularmente de “Nightswim”, a faixa instrumental que Tino e eu escrevemos. Sempre fui grande fã de Joe Satriani e queria fazer algo diferente. Não fazíamos um instrumental desde os anos 1990, então foi divertido experimentar harmonias e camadas de guitarra.



Como foi a recepção dos fãs a esse novo trabalho?

A recepção foi muito positiva. Você nunca sabe como um álbum será recebido, mas temos uma fórmula que funciona, especialmente com a Frontiers. Não vamos chocar ninguém fazendo death metal de repente ou algo assim!

O Japão, em particular, ficou muito entusiasmado com este álbum. Não fazíamos turnê lá há sete anos e o feedback foi incrível. Os locais estavam lotados e os fãs ficaram muito felizes com o novo material. Não poderíamos ter pedido uma resposta melhor.


Este ano marca o 50º aniversário da banda. Há algum plano especial para comemorar este marco?

Nossa turnê no Japão foi em parte para comemorar o 50º aniversário. Nós a chamamos de “Farewell Japan Tour” [“A Última Turnê no Japão”] porque está ficando mais difícil fazer a logística funcionar. Mas depois de como foi bem, já estamos pensando em voltar!

Nossas camisetas à venda tinham um logotipo especial de 50º aniversário. É uma loucura pensar que Tino e Chris começaram a banda há 50 anos. O verdadeiro aniversário pode ser quando “Time Tells No Lies” foi lançado ou quando [a coletânea] “Metal for Muthas” (1980) apresentou [a faixa] “Captured City”, mas de qualquer forma, 50 anos é muito tempo, e ainda estamos a todo vapor!


Há algum plano para o Praying Mantis fazer uma turnê pela América do Sul, especificamente pelo Brasil, para promover o novo álbum?

Sim, estamos trabalhando nisso no momento! Sempre quisemos ir para a América do Sul, e vimos bandas como o Tank e outras fazerem isso acontecer regularmente. Encontrar o promotor e o pacote certos tem sido um desafio, mas as coisas estão se encaixando para 2025.

Para mim, pessoalmente, seria um sonho se tornando realidade finalmente tocar no Brasil. Toda vez que chegamos perto, algo deu errado. Mas desta vez, tudo parece estar se alinhando, e estamos muito otimistas de que isso vai acontecer.



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