Após sete anos, o Satyricon está prestes a retornar ao Brasil, com shows confirmados em São Paulo (13/11) e Brasília (14/11). Na entrevista que você está prestes a ler, o baterista Frost expressa grande expectativa por esse reencontro, destacando que a banda traz agora uma “versão melhor e mais intensa” de si mesma, pronta para oferecer ao público sul-americano, conhecido por sua paixão e intensidade nos shows, uma experiência única.
E por falar em experiência única, em 2022, o Satyricon também mergulhou em um ousado projeto artístico-musical com o álbum “Satyricon & Munch”, inspirado na obra de Edvard Munch. Frost compartilha que o vocalista e multi-instrumentista Satyr concebeu essa obra após uma forte conexão com a atmosfera sombria e perturbadora das pinturas do icônico artista norueguês. Para o baterista, esse álbum singular, cem por cento instrumental, marca uma nova fase criativa para o Satyricon e deixa uma influência duradoura na trajetória da banda, que já projeta um próximo lançamento.
Boa leitura!
Por Marcelo Vieira
Fotos: Morten Andersen / Divulgação
Esta será a terceira vez do Satyricon no Brasil. Quais são suas expectativas para esse retorno?
Acho que o Satyricon é o tipo de banda que nunca fica parada. Como faz bastante tempo desde a última vez que estivemos aí, sentimos também que somos é uma banda bem diferente agora. É sempre empolgante ver como as pessoas reagem à nossa música, especialmente quando algum tempo se passou desde a nossa última visita a um determinado lugar. Os fãs vão ser, em certa medida, diferentes. Haverá algumas pessoas que já nos viram antes, mas provavelmente muitas que nunca tiveram essa oportunidade, além daqueles que eram muito jovens na última vez. Temos músicas novas e, acredito, um som um pouco diferente, além de uma formação diferente também. Portanto, minha expectativa é encontrar um público típico da América do Sul, que é provavelmente o melhor do mundo. Esperamos que eles aproveitem o som e a essência do Satyricon de hoje, e acreditamos que estamos trazendo a melhor versão que já existiu da banda. Sempre buscamos melhorar um pouco mais. Então, nossas expectativas para os shows são sempre muito altas, e, como disse, os fãs sul-americanos são muito especiais para nós. Definitivamente estamos ansiosos por esse reencontro.
Você tem alguma memória especial das vezes em que a banda veio, em 2011 e 2017?
Tivemos bons momentos sempre que fomos à América do Sul. O que talvez desejássemos mais agora que a banda está de volta aos palcos era vivenciar a América do Sul de novo. Não tocamos ao vivo desde 2019, então já faz bastante tempo. Faz ainda mais tempo desde nossa última vez na América do Sul, então estamos particularmente empolgados em poder voltar, pois sempre tivemos ótimos momentos aí.
Como foi o processo criativo por trás do álbum “Satyricon & Munch”?
Foi algo completamente diferente de tudo o que já fizemos. A ideia dessa peça musical estava conectada à exposição no Museu Munch em Oslo, Noruega. O Satyr disse que, em algum momento de 2018, estava caminhando na floresta, depois de termos encerrado a turnê de “Deep Calleth Upon Deep” (2017). Acho que ele estava refletindo sobre o que queria fazer em seguida, e, por alguma razão, sentiu uma conexão muito forte com o pintor Edvard Munch e com a pegada de suas obras—especialmente toda a escuridão, ansiedade, distorção e estranheza presentes nas pinturas. Ele também sentiu uma conexão com o legado de Munch e, talvez mais do que tudo, com seu espírito e com o tipo de pessoa que ele era. Foi aí que ele percebeu que queria criar uma peça musical conectada a Munch, não apenas como inspiração, mas com uma ligação ainda mais forte.
Satyr começou a pensar que talvez devesse organizar uma exposição com algumas obras escolhidas de Munch e fazer disso a base para uma peça musical que ele criaria do zero. Isso seria algo muito diferente de qualquer coisa que ele já tinha feito, mas que, de alguma forma, ressoaria com a expressão de Munch e toda a tristeza, escuridão e estranheza que existem nessas pinturas. Ele me disse que, quando teve essa ideia, intuiu que deveria fazer algo relacionado a Munch, mas não sabia exatamente que tipo de música seria ou como seguir em frente. Ele acreditava que, se desse um tempo e se esforçasse nisso, acabaria conseguindo criar uma peça musical valiosa para ele e, possivelmente, para os ouvintes também. Ele ficou um tempo em dúvida se isso deveria ser uma obra do Satyricon ou algo apenas dele, um projeto solo, como o Storm ou o Wongraven, ao invés do Satyricon.
Quando ele começou a criar música para essa ideia, ainda estava incerto. Ele trabalhou pelo menos um ano, talvez um ano e meio, antes de perceber que aquilo realmente se tornaria o próximo álbum do Satyricon. Ele sentiu que, embora fosse muito diferente de qualquer coisa que o Satyricon já tivesse feito, conectava-se tanto ao espírito da banda quanto ao espírito de Munch. Sentiu que isso ia além de um projeto pessoal, que deveria ser integrado ao universo do Satyricon e que contribuiria para levar a banda em uma direção um pouco diferente, expandindo seu universo de maneira significativa.
A partir disso, você pode entender porque ninguém mais estava tão envolvido. Eu fui convidado para gravar algumas partes de bateria em algumas ocasiões, o que fiz, mas, no geral, essa foi uma obra solo de Satyr. Fui convidado para fazer parte desse universo muito mais tarde, quando a maior parte da música já estava criada e as ideias estavam bem estabelecidas. Satyr vinha trabalhando dia e noite nesse projeto, em parte com suas guitarras e, em parte, com sintetizadores Moog e outros instrumentos. Ele convidou músicos de fora para ajudar e basicamente encontrou um modelo muito diferente para o Satyricon, que devo dizer que me impressiona.
Quando ouvi a música que ele criou e as primeiros demos, senti que era algo fantástico. Entendi muito bem que não poderia haver baterias convencionais ou algo do tipo, e acabamos sem vocais no álbum, o que também o destaca bastante. Mas sinto que Satyr está certo ao dizer que você pode realmente sentir o espírito do Satyricon nesse álbum, e acho que isso também terá um grande efeito na música que estamos fazendo para o novo álbum agora. “Satyricon & Munch” significou muito para o desenvolvimento da banda e para onde estamos indo depois dele. Agora o vejo como uma parte integrada do legado do Satyricon e da nossa história musical.
Podemos esperar material novo do Satyricon em breve?
Bem, fizemos muita música no último ano e meio—ou talvez até mais tempo que isso. Acho que já temos material que encheria um álbum neste momento, mas ainda não terminamos. Acho que vamos começar a gravar material para um novo álbum em breve. O novo álbum era nosso projeto principal antes do verão. Satyr e eu costumávamos nos encontrar várias vezes por semana para ensaiar material novo. Estávamos avançando bem nesse processo, mas percebemos um grande interesse em apresentações ao vivo e entendemos que precisávamos reativar a banda, pois não fazíamos shows desde 2019 devido à pandemia. Então, resolvemos nos concentrar em coisas diferentes, como “Satyricon & Munch”.
Seguir isso com um novo álbum “mais convencional” não fazia parte do nosso plano. Não achávamos que deveríamos nos concentrar tanto em música ao vivo, mas, como havia tanto interesse, vimos que levaria tempo e recursos, o que tornaria impossível continuar com o novo álbum. Decidimos colocar o novo álbum em espera, porque, quando trabalhamos nisso, precisamos nos concentrar totalmente. Estamos voltando a esse processo agora, mas, como estamos indo para a América do Sul, continuaremos focados na turnê por um tempo e depois voltaremos a trabalhar no álbum assim que estivermos de volta.
O black metal norueguês foi marcado por eventos trágicos que ocorreram nos anos 1990. Na sua opinião, esses eventos ofuscaram a música e a arte por trás do gênero ou, ao contrário, contribuíram para seu mito e popularidade?
Acho que é difícil dizer que é uma coisa ou outra. Talvez seja mais a última opção. Para nós, a música sempre foi a prioridade e o foco principais. O Satyricon nunca foi sobre sensacionalismo; nunca foi sobre crimes ou tragédias. Sempre tentamos fazer boa música e melhorar o que fazemos. Tentamos aprender, observar e evoluir, e buscamos trazer recursos que possam nos ajudar a nos tornar uma banda melhor.
Quanto ao legado da cena norueguesa, acho que os anos 1990 foram uma época vibrante, e algumas personalidades bastante extremas faziam parte da cena. Talvez tenha a ver com o espírito daquela época e a natureza explosiva do que estava acontecendo. De fato, esse foi um nascimento doloroso e violento de uma cena musical que se tornou muito potente. Para mim, isso é muito especial, e a música ainda está viva hoje. No Satyricon, sentimos que o espírito é tão vital agora quanto era nos anos 1990.
Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho ao jovem Frost, qual seria?
Provavelmente, eu teria muito a aconselhar, já que sei de muitas coisas agora que seriam úteis quando eu era mais jovem. Mas, por outro lado, você precisa ter a chance de aprender e evoluir; você não pode aprender tudo de uma vez. Aprender o básico antes de tentar coisas mais extremas é sempre uma boa ideia. É importante entender o que significa fazer parte de uma banda e não prestar atenção só em você e no seu instrumento, mas também nos outros. Muitas vezes, em vez de fazer muito, é melhor fazer menos e deixar outros instrumentos se destacarem. Nos primeiros anos, eu não entendia nada disso e acho que minha forma de tocar bateria sofria por causa disso.
Que mensagem você gostaria de deixar para os fãs brasileiros do Satyricon?
Espero vê-los nos nossos shows quando formos tocar aí. Viajaremos milhares de quilômetros para chegar até vocês, então espero que venham aos nossos shows. Vamos viver momentos mágicos juntos. Pode demorar até a próxima vez que voltarmos, então aproveitem a chance, venham nos ver e compartilhem alguns momentos fantásticos com o Satyricon.
O Satyricon se apresenta em São Paulo dia 13 e Brasília dia 14 de novembro. Ingressos à venda no site Clube do Ingresso.
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